Vendo a falta de assistência e, muitas vezes, pessoas sem ter o que comer, há quase três anos, 11 amigos decidiram levar um pouco de conforto à região que, segundo vizinhos, é uma das mais violentas de São Sebastião. Às segundas, quartas e sextas-feiras, o instituto oferece aulas de capoeira para jovens e crianças a partir de 5 anos. A quinta-feira é dia de hip-hop. Sexta-feira acontece a tão esperada feijoada. O domingo fecha o ciclo de diversão, com o Forró para os Idosos.
O trabalho funciona graças às doações e ao esforço dos voluntários. Todos os anos, em datas especiais, o instituto organiza comemorações e a doação de cestas básicas. Sem ajuda governamental, o próximo passo será a tentativa de criar creches. ;Temos o projeto de abrir três creches, duas no Morro da Cruz e uma no Capão Comprido. São duas comunidades que realmente precisam de ajuda;, comenta Marcelo Guimarães, presidente da entidade.
Cerca de 600 pessoas são atendidas, e os custos são altos. Em todo o almoço são necessários, em média, R$ 500 para oferecer 150 refeições. Por mês, são gastos R$ 1,2 mil com as bandas de forró para animar os bailes. O dinheiro sai dos bolsos dos voluntários, que se dedicam muito mais do que algumas horas por semana. ;Fica puxado, mas a vontade de ajudar essas pessoas é muito maior;, ressalta Guimarães.
O galpão foi construído também por voluntários, em uma Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie), com a força dos voluntários, que ainda esperam a regularização do lote. ;Pode ser que tenhamos que sair daqui. Mas a administração (regional de São Sebastião) disse que podemos ser realocados, por conta da importância do projeto;, menciona o presidente do instituto.
Com paixão pelo que faz, outro fundador ; e morador de São Sebastião há 28 anos, Valdivino de Jesus Castelo deixa de lado as aulas de dança e coloca a mão na massa na hora de servir a comida para a longa fila. ;Queremos fazer o melhor para nossa cidade, que, infelizmente, está abandonada.;
Educação
Engana-se quem acha que é moleza participar das aulas de capoeira do instituto. Os oito professores voluntários são rígidos com os 103 alunos, quando o assunto é educação. Só assiste às aulas quem está na escola e tem nota boa. Marcelo garante que qualquer deslize no colégio pode resultar em suspensão das rodas de luta. ;Sempre dialogamos com os pais, para saber o que está acontecendo. Nossa intenção é ajudar a educar esses jovens para serem pessoas de bem;, conta. Os últimos 15 minutos de aula são de conversa com os voluntários, que fazem de tudo para afastar o crime e as drogas da vida das crianças ali matriculadas. Já para quem se interessa mais por dança, há a opção de participar das aulas de hip-hop.
Há dois anos, a dona de casa Maria Barbosa de Carvalho, 65 anos, ouviu um boato sobre uma casa que servia feijoada gratuita. Curiosa, decidiu aparecer por lá e, agora, também frequenta o forró aos domingos. Sorridente, a simpática senhora, moradora da cidade há 30 anos, comenta que ;não conhecia ninguém;, mas agora é ;cheia de amigos;. ;Isso aqui faz bem demais. Praticamente não existe lazer em São Sebastião. Ter esses encontros aos domingos anima a gente;, destaca. Doadora de alimentos para o instituto, Maria se senta à mesa com outras senhoras que conheceu no projeto. ;Só vou embora do forró quando acaba;, brinca.
E também foi ouvindo o burburinho entre os vizinhos que o vigilante João Luís Pereira de Araújo, 48, conheceu o instituto há quatro meses. Desde então, não perde uma feijoada. Ele conta que o projeto é de extrema importância, principalmente para os moradores de rua. ;Aqui, eles recebem qualquer pessoa, incluindo gente que está na rua, muitas vezes passando fome. Pelo menos uma vez por semana, eles podem vir aqui se alimentar com dignidade;, afirma. Esse é o mesmo sentimento do segurança de casa noturna Wilson Rodrigues Chaves, 46, que acredita que essa foi ;a melhor coisa que já inventaram;. ;Em vez de essas crianças estarem na rua, estão aprendendo;.
Como ajudar
O Instituto Amigos da Solidariedade recebe alimentos, tanto para as atividades quanto para a confecção de cestas básicas para a comunidade. Basta entrar em contato com Marcelo Guimarães pelo telefone (61) 9-9998-7272 ou ir à sede da entidade: Rua da Ponte, n; 221, São Sebastião.