Jornal Correio Braziliense

Cidades

Depoimentos e perícia montarão quebra-cabeça sobre mortes na L4 Sul

Os investigadores do suposto racha que matou mãe e filho na L4 Sul aguardam resultado da análise técnica para tirar as últimas dúvidas sobre o acidente. Os esclarecimentos dos dois sobreviventes está marcado para a próxima segunda-feira



Para entender parte da dinâmica do acidente que matou mãe e filho na L4 Sul, no domingo à noite, a polícia ouvirá os dois sobreviventes do Fiesta vermelho na próxima segunda-feira. Por causa do trauma causado pelo impacto do carro na árvore, seguido de capotagem, Elberton Silva Quintão e Osvaldo Clemente Cayres não se lembram com detalhes sobre o momento do choque e dos minutos subsequentes à colisão. Segundo a revisora Fabrícia de Oliveira Gouveia, 47 anos, que perdeu o marido, Ricardo, na tragédia (leia Memória), Elberton bateu a cabeça e não tem registro na memória sobre o episódio. ;Já o meu sogro, que estava sentado no banco do co-piloto, se recorda de um forte estrondo na traseira do carro. Depois disso, ele acordou sendo resgatado pelo Corpo de Bombeiros e indo para o hospital;, contou.

[SAIBAMAIS]O delegado Ataliba Neto, adjunto da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), chefia as investigações. Até agora, 10 pessoas prestaram esclarecimentos. Entre eles, os três suspeitos de participarem do racha: o advogado Eraldo José Cavalcante Pereira, 34, condutor do Jetta que atingiu a traseira do Fiesta; Noé Albuquerque Oliveira, 42, sargento do Corpo de Bombeiros e enfermeiro da Secretaria de Saúde, que dirigia uma Range Rover Evoque; e a tenente do Exército Fabiana Albuquerque Oliveira, 37, irmã de Noé Albuquerque Oliveira e motorista de um Cruze prata.

Fabiana foi a única que ficou no local do acidente. Prestou depoimento no mesmo dia. Na noite da batida, agentes do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) no DF informaram que Fabiana apresentava ;hálito etílico;. Ela se recusou a fazer o teste de alcoolemia. E confirmou que voltava da mesma festa em que estavam o irmão Noé e o cunhado Eraldo, em um barco, no Lago Paranoá. O Cruze de Fabiana foi atingido na lateral esquerda.

Eraldo fugiu do local. Ele depôs na 1; DP no dia seguinte ao acidente, acompanhado de um advogado. Ele negou que estivesse em alta velocidade antes de atingir o Fiesta. Disse ter deixado a L4 Sul a pé, pela L2 Sul, por ter ficado assustado com a situação. Segundo ele, algumas pessoas cercaram o Jetta dele e começaram a acusá-lo. Na delegacia, ele chorou e alegou que o acidente foi um ;erro de cálculo;. Explicou que mudava de faixa quando o Fiesta freou por causa da fiscalização eletrônica. Após bater no Fiesta, atingiu o Cruze de Fabiana.

Agentes do DER no DF disseram aos investigadores do caso que Noé estava visivelmente embriagado e se recusou a fazer o teste do bafômetro. O sargento também prestou esclarecimentos na delegacia na segunda-feira. Disse que seguia a 80km/h na via e a cerca de 300m do Fiesta da família Cayres. Admitiu que havia bebido uma lata de cerveja na festa do Lago Paranoá. O bombeiro acrescentou que chegou a prestar socorro, mas teve de sair do local do acidente para levar a mulher ao hospital, que teria ficado ferida.





Justiça


Na última terça-feira, mais quatro pessoas prestaram depoimento. Uma testemunha informou que a Range Rover e o Jetta dos envolvidos na colisão estavam em alta velocidade, o que aparentava se tratar de uma corrida ilegal. Uma passageira da Range Rover manteve a versão dos investigados, negando o racha e o excesso de velocidade. Na quinta-feira, os investigadores colheram mais dois depoimentos. Foram ouvidos um agente do Detran e um funcionário de um píer do Lago Paranoá. Este afirmou que os participantes do suposto racha fizeram um passeio de lancha durante todo o domingo.

Além dos depoimentos, a polícia aguarda o resultado da perícia para determinar as circunstâncias do acidente. Na segunda-feira, o delegado Ataliba reforçou a importância do trabalho técnico para as investigações (veja quadro sobre procedimentos básicos de uma perícia). ;A prova importantíssima para a gente vai ser a pericial, do local do acidente. Com ela, vamos poder apurar a velocidade que eles estavam e, aí, a gente vê, também, o dolo e se eles assumiram o risco;, explicou o investigador.

Fabrícia, viúva de Ricardo, reafirmou ontem, em post publicado em uma rede social, que acompanhará todo o caso até que a justiça seja feita. Na luta contra a imprudência no trânsito, ela se juntou a Yolita Antonelli, nora do ciclista Edson Antonelli, atropelado e morto em uma ciclofaixa, no Lago Norte, em 23 de abril, por uma jovem alcoolizada. As duas usam o Facebook como forma de protesto e de conscientização. ;Não é só a família Cayres. Somos muitas famílias. São pessoas que choram a dor de perder seus amores;, desabafou Fabrícia.

Memória


Imprudência e morte na L4 Sul

Na noite de 30 de abril, às 19h30, três carros suspeitos de participarem de um racha provocaram um acidente na Avenida L4 Sul, próximo à Ponte das Garças. Os motoristas de um Cruze prata, um Jetta preto e uma Range Rover Evoque são acusados de envolvimento no suposto pega. O condutor do Jetta se chocou na traseira do Fiesta de família Cayres, que retornava de um evento dominical. Com a batida, o Fiesta perdeu o controle, saiu da pista e capotou diversas vezes. Cleusa Maria Cayres, 69 anos, e Ricardo Clemente Cayres, 46, morreram no local. Os outros dois ocupantes do veículo, Elberton Silva Quintão, 37, cunhado de Ricardo, e o pai dele, Osvaldo Clemente Cayres, 72, foram encaminhados ao Hospital de Base com escoriações.


Bebeu, dirigiu e invadiu casa

Um motorista embriagado atingiu um caminhão e derrubou o portão de uma casa, em Ceilândia, na madrugada de ontem. Ao invadir a garagem da residência, ele ainda bateu em uma Kombi. O acidente aconteceu às das 2h e acordou o dono da casa, que acionou a PM quando percebeu que o condutor estava alcoolizado. O jovem, de 24 anos, que dirigia uma Saveiro, fez o teste do bafômetro, que registrou 0,62mg de álcool por litro de ar expelido dos pulmões. Ele foi preso por embriaguez ao volante e encaminhado para a 23; Delegacia de Polícia (Ceilândia).