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'Ele vai fazer muita falta', diz viúva de vítima de acidente na L4 Sul

Fabrícia Gouveia e o cunhado, Renato Cayres, falam sobre a tragédia que tirou a vida de Ricardo e Cleuza Cayres em entrevista realizada na redação do Correio

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"Por eles, a gente não pode fazer mais nada. Agora, por todas as pessoas que ainda estão aqui, pelos meus familiares, amados, amigos;." É assim que Fabrícia Gouveia, viúva de Ricardo Cayres, morto no último sábado (29/4) em um acidente de trânsito na L4 sul, define os próximos passos para a família em luto. Ela garante que não vai ficar calada e vai lutar por justiça, principalmente para evitar outras tragédias como essa. No mesmo acidente, morreu também Cleuza Cayres, mãe do Ricardo. Fabrícia e o cunhado Renato participaram de uma conversa ao vivo no Facebook do Correio (veja a íntegra aqui).

A viúva já acompanhava notícias recentes de acidentes fatais nas ruas do Distrito Federal, mas diz que, até o acidente, se sentia imune. "Precisou acontecer comigo? Precisou. Mas não é necessário que aconteça com mais ninguém", enfatiza. A luta pela paz no trânsito é, para Fabrícia, um jeito de proteger inúmeras outras famílias ; inclusive as dos responsáveis. "Se me perguntar se perdoo, não. Mas se me perguntar se eu quero que eles passem pelo que estou passando? Nunca. Nunca", salienta a revisora.
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Fabrícia explica que essa não é "uma cruzada por revanche" e que a família espera, agora, o cumprimento da lei. "Mas também queremos que alguma coisa mude", pede. Para ela, uma das partes mais difíceis é sentir a impunidade dos responsáveis pelo acidente que matou o marido e a sogra. Até agora, os suspeitos não foram presos. A viúva conta que leu sobre um homem que teria sido preso por roubar mandioca e faz uma comparação: "São dois pesos e duas medidas", critica.

Agora, ela e a família Cayres querem garantir que o marido e a sogra não virem estatística. Fabrícia pede ainda ajuda na briga pela paz no trânsito: "Juntem-se a nós aqui", diz às vítimas e familiares de acidentes no trânsito. "Porque estamos com muita coisa calada aqui", acrescenta, apontando para a garganta.
[SAIBAMAIS]Renato Cayres, filho de Cleuza, 69 anos, e irmão de Ricardo, conta que ficou sabendo do acidente depois de uma ligação do pai Oswaldo, 72 anos, que também estava no carro, mas não teve ferimentos sérios. Na manhã desta quarta-feira (5/5), o parente das vítimas passou de novo pelo local do acidente e vasculhou a área: encontrou, além dos destroços, documentos e uma lata de cerveja. Tudo foi recolhido por Renato, que vai levar o material para a polícia.

Em busca da verdade

"Ninguém vai pagar, porque não tem preço", reconhece Fabrícia, mas a viúva espera por justiça. Na terça-feira (2/5), publicou no Facebook um desabafo sobre o caso, no qual chamou os suspeitos de "monstros". Ela explica que a revolta foi causada pela defesa dos suspeitos. "Um deles negou tudo, falou que não bebeu, que não estava em velocidade, e depois disse ;estou arrependido;. Do quê? Se não bebeu, se não estava em velocidade, se não foi culpa dele, por que está arrependido?", questiona.

A esperança, conta Fabrícia, era que os responsáveis admitissem. "Então eu ia ficar com a alma mais tranquila", esclarece. "Se eu encontrasse com eles, eu diria: ;Falem a verdade, é a única coisa que resta para vocês;."

A dor da perda

Parte importante da luta da família Cayres pela justiça e também pela prevenção de acidentes fatais no trânsito vem de inspiração das vítimas. Ricardo Cayres, 46 anos, é descrito pela esposa como a pessoa mais correta que ela já conheceu. "Quanto mais ele amava as pessoas, mais exigia delas para serem corretas também", conta.

"Esse cara era uma pessoa sensacional, que vai fazer falta na vida de muita gente, de maneiras que a gente nem imagina. Ele tirava a roupa dele para dar para pessoas na rua. Ele resgatava cachorro. Fazia tudo pelos outros. Era um santo? Não, era uma pessoa com consciência social, que sabia que tinha uma família que amava, mas que a família dele se estendia para toda sociedade", lembra Fabrícia.