O Correio teve acesso a um vídeo que mostra o sargento do Corpo de Bombeiros Noé Albuquerque de Oliveira, 42 anos, prestando auxílio às vítimas do acidente na L4 Sul na noite do último domingo (30/4), que matou Ricardo Clemente Cayres, 46 anos, e Cleusa Maria Cayres, 69. As duas vítimas estavam no banco de trás de um Fiesta vermelho, atingido na traseira por um Jetta, conduzido pelo advogado Eraldo José Cavalcante Pereira, 34. A polícia investiga se ele bateu no outro veículo enquanto participava de um racha com Noé e a irmã do sargento, Fabiana Albuquerque Oliveira, 37.
No vídeo, Noé aparece vestindo uma camisa de manga cumprida vermelha, da corporação, enquanto dá instruções para uma equipe dos bombeiros. Ele está parado ao lado do Fiesta. Noé alegou ao delegado adjunto da 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), Ataliba Neto, em depoimento, que não fugiu do local, que prestou socorro às vítimas e que não praticava racha. Ele disse ainda que não fez o exame de alcoolemia pois os servidores do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER/DF) não estavam com o equipamento no momento. Alegou também que não poderia esperar pelo teste porque tinha que levar a mulher ao hospital. No entanto, um agente do DER afirmou que foi, no momento em que deu as costas a Noé para falar com outra testemunha, o suspeito deixou o local do acidente.
Eraldo, por sua vez, deixou a cena do acidente logo depois da batida. Segundo uma das versões, ele teria fugido em um Uno, mas o motorista do Jetta disse à polícia que saiu do local a pé, pois várias pessoas estavam parando, cercando o Fiesta e o acusando de matar as vítimas. Ele teria ligado para amigos logo depois, de um ponto de táxi na L2 Sul. Ele também nega que estivesse praticando racha com Noé.
Fabiana foi a única que permaneceu no local do acidente. O carro dela também foi atingido pelo Jetta. Testemunhas afirmaram que viram os carros dos suspeitos em alta velocidade momentos antes da tragédia. No Fiesta estavam, ainda, o cunhado de Ricardo, Helberton Silva Quintão, 37, que conduzia o veículo, e o pai a vítima e marido de Cleusa, Oswaldo Clemente Cayres, que seguia no banco do carona. Eles não se feriram gravemente.
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A conversa
Por telefone, Noé conversou com a reportagem da TV Brasília. Ele começou dizendo que não queria falar sobre o caso nem comentar o vídeo em que aparece ao lado do Fiesta. ;Acho que o vídeo fala por si só. Realmente, eu estou ocupado agora;, disse. Questionado sobre se era realmente ele no vídeo, ele apenas consentiu afirmativamente. Depois de ser questionado sobre o racha, ele voltou a negar. Também disse que não estava acima do limite de velocidade para a via, de 80km/h. ;Estava na velocidade da via.; Quando a equipe pergunta se ele, Eraldo e Fabiana haviam bebido antes de dirigir, ele encerra a conversa. ;A gente já está fazendo uma entrevista. Eu preciso realmente... Estou com outra pessoa aqui. Obrigado pelo contato;, encerrou.
Investigação
A polícia não indicou nenhum suspeito, pois o crime ainda não foi tipificado. A corporação aguarda o resultado da perícia nos veículos, que sairá em cerca de 30 dias e pretende ouvir outras testemunhas. Além disso, os agentes tentarão recorrer a filmagens e possíveis multas de pardais para confirmar se houve um racha.
Segundo o adjunto, se ficar comprovado que houve corrida ilegal, Noé e Eraldo responderão por racha com resultado em morte, violação que prevê pena de 5 a 10 anos de prisão. Caso contrário, Eraldo poderá responder por homicídio culposo, com pena de 2 a 4 anos, ou homicídio doloso com dolo eventual (quando o acusado assume o risco de matar), com condenação que pode variar de 6 a 20 anos de prisão.