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Hospital da Criança oferece atendimento modelo para doenças complexas

Com 18 especialidades pediátricas, além de fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, a quantidade de consultas médicas no Hospital da Criança de Brasília quase dobrou, desde a inauguração, há cinco anos. Equipe mantém a excelência no atendimento, com alto índice de cura



João Victor de Souza tem 9 anos e precisa ir ao hospital ao menos duas vezes por mês, desde os 5. Uma para fazer exames. A outra, para tomar remédios na veia, quando é internado por até oito horas. Ele tem uma dermatite atópica aguda e chegava a apresentar feridas por todo o corpo, até começar o tratamento no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB). O pai, João Ananias, 46, é porteiro noturno e, um dia antes dos exames ou das internações, o filho o acompanha no trabalho para irem juntos à unidade de saúde na manhã do dia seguinte. As datas são previamente marcadas.


As lesões se concentram na cabeça do menino, mas o tímpano perfurado e um dos olhos com a visão prejudicada são as lembranças de um tempo em que o atendimento recebido não era tão frequente e facilitado. Ambos os problemas podem ser resolvidos com cirurgia, mas os médicos esperam ele crescer um pouco mais para submetê-lo às operações. ;Uma grande vantagem daqui é não precisar sair pra fazer exame, nem para comprar nada na farmácia. Tem tudo;, ressalta o pai.

Moradora do Sol Nascente, a família de João é uma das 40 mil beneficiadas com o trabalho do HCB, que completou 5 anos de funcionamento em novembro do ano passado. Idealizado pela Abrace e por profissionais da Saúde, ele custou R$ 30 milhões. Dinheiro doado pela sociedade civil. Apesar disso, trata-se de um hospital público, pois o terreno foi cedido pela Secretaria de Saúde com a condição de que, depois de pronto, o hospital seria doado ao Governo do Distrito Federal.


O HCB é um exemplo na rede pública de saúde, tanto em termos de medicina de qualidade quanto em ambiente agradável para as crianças. Com 18 especialidades pediátricas, além de fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, a quantidade de consultas médicas subiu de 4,5 mil, no primeiro semestre de 2012, para mais de 6 mil, no mesmo período de 2016. Neste ano, chegou a 8 mil consultas mensais.

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[SAIBAMAIS];Somos defensores do SUS. Mas, por melhor que seja o Hospital de Base, é um hospital para adultos. Crianças com doenças mais complexas precisam de uma estrutura para elas;, afirma a pediatra oncologista e hematologista Ísis Magalhães, diretora técnica do HCB. Ela apoiou o sonho de criar esse hospital desde a década de 1980. A presidente da Abrace, Ilda Peliz, lembra a luta contra o câncer de sua filha, há 20 anos, ao qual ela não resistiu. ;Crianças e adultos faziam quimioterapia no mesmo salão. Idosos tinham ataque epilético na frente delas. Sem falar que a criança não era prioridade. Tinha prioridade quem chegava pela emergência, vítima de acidente.;

Cuidado

As doenças das crianças tratadas no HCB são crônicas e de alta complexidade. Elas chegam ao HCB encaminhadas por outros hospitais da rede pública. ;Temos pacientes com doenças crônicas que, antes, matavam quando elas ainda eram bem novas, como anemia falciforme e fibrose cística. Hoje, essas crianças têm uma expectativa de vida maior, graças à assistência e ao cuidado que recebem;, comenta Elisa de Carvalho, pediatra e patologista especializada em gastroenterologia.



Outro hospital com serviços gratuitos voltados para crianças seria o Hospital Materno Infantil (Hmib), mas José Gilson Andrade, superintendente executivo adjunto do HCB, salienta que ele não é voltado para atenção à saúde em nível terciário ; caso do Base e do HCB ;, ou seja, não é especializado em serviços ambulatoriais e hospitalares especializados de alto custo e alta complexidade. De tão especializado, médicos que se deparam com casos muito raros e complexos que aparecem em hospitais particulares recomendam que o paciente vá a um hospital público para receber encaminhamento ao Hospital da Criança. Sob nenhuma hipótese, o HCB pode receber paciente de forma direta.


Os cuidados que Carlos Eduardo Leão, 7 anos, precisa ele só recebe no HCB. Com leucemia, tipo de câncer que mais mata crianças, ele luta contra a doença desde junho do ano passado. O diagnóstico foi dado no Hospital Regional da Ceilândia, por meio de exame de sangue. A criança foi imediatamente encaminhada ao HCB. ;Ele estava amarelo, com febre. A barriga estava inchada e a pele, toda empolada. Meu medo era de ele morrer;, lembra a mãe do garoto, Carla Ferreira, 24. Foram várias as internações de Carlos. A cada, ele fez amigos novos. O mais recente colega de quarto deixou de presente de recordação um CD de jogos de videogame. Mesmo assim, ter parado de ir à escola neste ano e ficar longe dos três irmãos deixa o menino triste. Mas muita gente aparece ali para animá-lo. Voluntários da Abrace e de fora brincam, conversam, cantam e se fantasiam. O sonho de Carlos é aprender a ler. A equipe do hospital pretende encontrar um voluntário para ensiná-lo.

Concentração

Tanto Elisa quanto Ísis são servidoras da Secretaria de Saúde cedidas ao HCB. Como elas, há mais de 70 servidores da pasta que trabalham lá, além de celetistas e voluntários. O salário deles sai da dotação orçamentária do HCB. Elisa ainda ressalta a importância de eles estarem reunidos com tantas especialidades da pediatria em um lugar só: ;A criança é só uma;.



Já a gestão do hospital fica por conta de uma organização social criada especificamente com essa finalidade, o Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe). Todo mês, o GDF repassa verba para que seja aplicada em metas preestabelecidas por meio de um contrato de gestão. As contas devem ser prestadas mensalmente. A legislação prevê que a organização social não pode ter fins lucrativos, portanto, o dinheiro referente a qualquer economia feita deve ser devolvido.

Embora o Supremo Tribunal Federal já tenha se manifestado a respeito das organizações sociais, dizendo que elas não são obrigadas a fazer licitação, a Icipe tornou-se alvo de diversas controvérsias com o Ministério Público do DF e Territórios e a CPI da Saúde da Câmara Legislativa. Segundo o presidente da Icipe, Newton Alarcão, as prestações de 2011, de 2012 e de 2013 foram aprovadas sem problemas pelo Tribunal de Contas do DF e as de 2014, de 2015 e de 2016, embora devidamente feitas pela Icipe, nem chegaram ainda ao órgão.