Gabriella Bertoni - Especial para o Correio
postado em 05/04/2017 22:27
Após dois anos e sete meses do início da primeira grande reforma na Rodoviária do Plano Piloto, o que se vê no local, pensado por Lucio Costa para ser o centro urbano da capital, é um canteiro de obras intermináveis e um amontoado de escadas rolantes que não funcionam. Inaugurado em 12 de setembro de 1960, o local recebia apenas pequenos reparos que não resistiram à ação do tempo. A intervanção atual, orçada em cerca de R$ 27 milhões, tem como objetivo uma recuperação mais completa da estrutura. No entanto, apenas 20% da obra foi concluída. O prazo de entrega das novas instalações, inicialmente marcado para novembro de 2016, precisou ser revisto devido à falta de recursos financeiros. Após uma pausa de oito meses na reforma, a nova previsão de conclusão da obra, segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), é abril de 2018.
O projeto é uma parceira da Novacap e do Transporte Urbano de Brasília (DFTrans). Um dos objetivos é a troca das instalações elétricas, eletrônicas e hidráulicas, além da troca do piso, a reforma completa das áreas administrativas e a nova pavimentação de circulação dos ônibus, incluindo as baias. No momento, parte da plataforma E está interditada. O local fica na entrada lateral e recebe ônibus das empresas Piracicabana e São José. A mesma entrada é utilizada para as linhas das empresas TCB, Pioneira e Piracicabana, que estacionam na plataforma A.
[SAIBAMAIS]É comum o relato de pequenos acidentes, como batidas dos veículos que estão chegando nos que estão saindo. Além disso, devido à falta espaço para os ônibus estacionarem, alguns passageiros precisaram descer em meio ao pátio dos ônibus, com risco de atropelamento, chegando a quase serem imprensados contra a tela de proteção da reforma. Em nota, a Novacap informou que as baias da plataforma E foram readequadas para funcionar com a metade de seu espaço físico para embarque e desembarque. Disse ainda que as linhas foram intercaladas para reduzir o impacto aos passageiros durante o período da obra.
Outro problema recorrente enfrentado pelos usuários do terminal são escadas rolantes paradas e elevadores interditados para manutenção. Em setembro de 2012, 12 escadas e seis elevadores foram comprados para a substituição de equipamentos. À época, foram gastos R$ 5,5 milhões para a troca do sistema antigo, que consumia muita energia por funcionar sempre na mesma potência. Agora, a Novacap está preparando uma licitação para contratar empresas que substituirão as que atualmente fazem a manutenção. Os contratos anteriores têm vigência até junho e outubro deste ano. Segundo a companhia, no momento três elevadores estão parados devido às obras e duas escadas estão interditadas após atos de vandalismo.
No período em que a reportagem do Correio esteve na Rodoviária, das oito escadas rolantes, sem contar as que dão acesso ao Metrô-DF, três estavam paradas. Cerca de uma hora depois, as quatro escadas que se encontram no sentido do Shopping Conjunto Nacional já não estavam funcionando. Foi constatado ainda que, além dos três elevadores interditados informados pela Novacap, mais um havia parado na última semana.
Dificuldades diárias
Aguardando o ônibus na primeira baia depois da barreira de contenção da reforma, a estudante Tânia Maria de Brito, 24 anos, disse que usa o transporte público diariamente e que a obra naquele local se estende há pelo menos um ano. ;É um grande risco pra gente. Temos que dividir espaço com os ônibus e, no horário de pico, ainda tem os transportes piratas;, relatou. Tânia conta ainda que, por causa do pouco espaço, é comum os passageiros desembarcarem fora da plataforma e ter de andar pelo meio do pátio.
Tudo isso prejudicou até o movimento em uma lanchonete próximo à reforma. Com problemas para manter o comércio limpo por conta de toda a poeira causada pela obra, além de odores desagradáveis por conta do esgoto, a funcionária, que preferiu não se identificar, contou que a obra dura muito tempo. ;Tirei férias em abril do ano passado e já tinham começado a reforma aqui do lado. Vou tirar férias novamente e eles ainda estão aqui. É difícil trabalhar assim;, reclamou.
Problemas de acessibilidade
O músico Genes Guedes, 41 anos, que é deficiente visual e se locomove com o auxílio de uma bengala, relatou a dificuldade que é ter o caminho modificado por conta da reforma. ;É difícil, principalmente porque eles não têm funcionários capacitados para nos ajudar e ficamos perdidos;, observou. Outro problema enfrentado pelo músico é a constante quebra das escadas rolantes e o medo de ficar preso nos elevadores do terminal. ;O elevador já parou comigo dentro. Agora, não uso mais. Eu sou treinado para poder andar sozinho na rua, mas tem gente que é de fora e não conhece a região. Para quem é deficiente visual, é terrível e perigoso. Sempre tem cerca de 80% das escadas paradas e os elevadores não funcionam;, criticou.
O lavrador Fermino da Silva Castro, 63, veio da cidade de Cocos (BA) em busca de tratamento para a filha no Hospital Sarah. Com dificuldades para descer os dois lances das escadas de cor escura e ajudar a estudante Juliana Carneiro Castro, 16, que tem um tipo de atrofia nas duas pernas, o tempo para chegarem na plataforma inferior da Rodoviária é praticamente o triplo de quando usam as escadas rolantes. ;É cansativo pra gente, meu pai é um senhor de idade e eu com esse problema nas pernas. Se as escadas rolantes funcionassem, seria mais fácil;, destacou.
Esse também é um problema enfrentado pelo aposentado José Lima Ribeiro, 69. Após descer cada degrau com extremo cuidado em cima de duas bengalas, ele chegou cansado à plataforma inferior da Rodoviária.;Sou um homem de coragem, que não pode errar na hora de descer;, comentou. Sem a perna direita por conta de um acidente de trabalho, ele precisa sair de Samambaia Norte e ir até o terminal após fazer exames periódicos. ;Tudo aqui é péssimo, o transporte, as escadas, os elevadores. Toda vez que venho à Rodoviária sinto dificuldade de descer e subir, porque sempre tem, pelo menos, uma escada quebrada.;
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