Cidades

Final feliz: como foi a volta para casa do bebê jogado em chão de hospital

Victor Hugo foi embrulhado em lençóis e jogado ao chão por uma enfermeira horas depois de nascer no Hospital Regional do Gama

Carolina Gama - Especial para o Correio
postado em 05/04/2017 06:00

Fabíola, finalmente, pode colocar o filho para dormir no próprio bercinho: revolta e pedido por justiça

Hospital Regional do Gama (HRG), 20 de março de 2017, Sala de pós-parto. Às 21h46, Fabíola Maria Lopes de Abreu, 32 anos, recebia nos braços o quarto filho: Victor Hugo. Para a mãe experiente, que mal conseguia conter a emoção, até parecia ser a primeira gestação. Todos os cuidados foram tomados e todas as orientações, seguidas. O pequeno era esperado. Devido a um problema de superlotação na unidade de saúde, a mulher seria transferida para um quarto no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM). Após uma hora com o caçula, a vida decidiu que era hora do recém-nascido passar por um primeiro teste. A mãe coruja embalou o bebê e o colocou em cima da cama, enquanto ia ao banheiro se trocar. Avisou às outras ocupantes da enfermaria para ficarem de olho, pois estava desacompanhada. Minutos depois, o choque. A chefe de enfermagem do centro obstétrico, na pressa para retirar os lençóis da cama, embolou o filho de Janaína com os panos e jogou contra o chão, o que acabou fraturando a ; ainda mole ; cabeça do bebê. Ao receber alta, depois de 15 dias de internação, é possível dizer, em analogia ao dramaturgo francês de mesmo nome, que Victor Hugo nasceu em uma novela com final feliz.



Há apenas um dia em casa e ainda de resguardo, a mãe respira aliviada. No intervalo de uma semana, o sangramento ocasionado pela pancada diminuiu. ;A médica foi incisiva no fato de que a lesão não sumiu, mas reduziu consideravelmente de tamanho e, somente por isso, fomos liberados. Estou melhor agora, porque vejo que meu filho está bem. Mas fico preocupada porque foi dentro da cabeça. Tenho medo de que, quando ele crescer, fique com alguma sequela.;


"Passo o dia todo em cima dele, tenho que ficar atenta a qualquer possível mudança"


O quarto dos pais, em uma casa simples de Valparaíso de Goiás, foi modificado para a chegada do filho mais novo. Armários brancos com detalhes em azul-claro trazem o ar infantil para o ambiente. A escolha de colocar o bercinho ao lado da cama do casal reflete a preocupação e a insegurança que eles ainda sentem. ;Passo o dia todo em cima dele, tenho que ficar atenta a qualquer possível mudança;, comenta a manicure, que divide o amor e os cuidados com outros três filhos, de 5, 12 e 14 anos.

Victor Hugo foi embrulhado em lençóis e jogado ao chão por uma enfermeira horas depois de nascer no Hospital Regional do Gama

Ao mesmo tempo em que a família pode, finalmente, curtir o pequeno em casa, uma nova batalha se inicia na Justiça. Na noite do acidente, o avô da criança Joel Eduardo de Santa Rita, 57, registrou um boletim de ocorrência e o caso passou a ser investigado pela 14; Delegacia de Polícia (Gama). ;Estou feliz em saber que ele está em casa. Agora, nós estamos mais tranquilos. Só esperamos que a Justiça faça a parte dela. Entendemos que foi um acidente, mas é preciso ter um pouco mais de responsabilidade. Imagina se ele não estivesse enrolado no lençol? O que ele poderia sofrer?;, indaga Joel.


"Estou melhor agora, porque vejo que meu filho está bem. Mas fico preocupada porque
foi dentro da cabeça. Tenho medo de que, quando ele crescer, fique com alguma sequela"


Fabíola a afirma que o marido procurou advogados e a família entrará com processo contra o HRG e contra a enfermeira. ;Logo depois do ocorrido, a enfermeira me disse que eu não poderia mais ser transferida. Disse que realizaria exames no Victor. Mas ela simplesmente nos colocou em um quarto e nunca mais deu as caras. Somente 6 horas depois, outra enfermeira foi ao quarto e se assustou com o tamanho do galo que estava na cabeça do meu filho e o levou para o médico, atestando a fratura.; A mãe ainda se emociona ao falar sobre a negligência sofrida.

Defesa

Na época do acidente, a reportagem do Correio entrou em contato com o diretor do HRG, José Roberto Macedo, que afirmou que a enfermeira tentava ajudar uma segunda mãe que passava mal. ;A mãe do recém-nascido estava no banheiro no momento em que outra mulher precisou de ajuda. O reflexo da enfermeira foi puxar o lençol da cama e cobrir uma cadeira para a paciente sentar. O bebê estava no meio dos panos e caiu no chão;, afirmou. Em nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal relatou que a Gerência de Enfermagem do HRG informou que, tendo em vista a situação do trauma enfrentado, a servidora estava de licença médica por 30 dias, com retorno para avaliação na perícia médica prevista para o fim de abril.

Do lado de fora da casa da família, um varal com roupas lavadas expõe as peças infantis. Uma meia, um macacãozinho ao lado da calça do pai e de um vestido da mãe caracterizam o lar, que, aos poucos, volta ao normal ao som do riso do bebê.

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