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Vitória do projeto de Lucio Costa para Brasília completa 60 anos

Ata declarou urbanista franco-brasileiro como vencedor do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil em 16 de março de 1957

Jéssica Eufrásio*
postado em 16/03/2017 11:47
Ata declarou urbanista franco-brasileiro como vencedor do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil em 16 de março de 1957
Escolhido entre mais de 60 inscritos e selecionado entre 26 propostas apresentadas. Foi assim que, em 1957, o projeto urbanístico do Plano Piloto nasceu das mãos do arquiteto e urbanista Lucio Costa. Há exatos 60 anos, o júri responsável por eleger o plano arquitetônico de Brasília assinou a ata que autorizava a execução do projeto proposto por um dos pioneiros da arquitetura modernista no país.

O ;Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil; foi aberto pela Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal e publicado no Diário Oficial da União em 20 de setembro de 1956. Sessenta e dois candidatos, entre grupos de arquitetos e empresas do ramo, se inscreveram. Contudo, apenas 26 compareceram para apresentar suas ideias a um júri composto por nomes como Oscar Niemeyer e Israel Pinheiro.

[SAIBAMAIS]Os relatos sobre como Lucio Costa se lançou ao desafio de criar um projeto urbanístico para a nova capital do país são diversos. Para alguns, ele sequer tinha a pretensão de participar do certame ; como relata no texto de seu projeto ; e, com a justificativa de estar ocupado com viagens e problemas pessoais, o arquiteto se inscreveu de última hora no concurso. Outros relatos dão conta que, apesar de ainda lidar com questões que envolviam a morte da esposa em um acidente de carro, o urbanista conseguiu se preparar para o processo seletivo, tendo, inclusive, estudado o assunto e viajado para Nova York.
Segundo o historiador e diretor de Pesquisa, Difusão e Acesso do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF), Elias Manoel da Silva, o plano do arquiteto estava mais no campo das ideias e não tinha muitos detalhes descritivos no que dizia respeito à execução estrutural. O historiador descreve que outros planos continham mais detalhes e eram ;extremamente benfeitos;, enquanto os de Lucio ;foram apresentados em folhas de papel A4 batidas à máquina [de escrever] e continham apenas rascunhos de ideias que ele tinha para a nova capital;.

Ainda de acordo com Elias, alguns dos outros projetos foram apresentados com maquetes e calhamaços de papéis que descreviam a estrutura das redes de esgoto, de energia e os aspectos pluviométricos da cidade. Já para o professor aposentado do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB) Antônio Carlos Carpintero, apesar de destoar de vários dos demais, Lucio Costa atendeu a todos os requisitos dispostos no edital. ;O que era obrigatório ser entregue: um desenho na escala 1:25.000 e um relatório para apresentar o projeto. Podiam fazer mais, mas Lúcio fez exatamente o necessário;, aponta.
Os dois especialistas concordam, no entanto, que, independentemente do formato adotado, o trabalho apresentado foi de grande excelência. ;Eu não tenho dúvida alguma de que foi o melhor projeto do concurso;, afirma Antônio Carlos.

O relatório do júri, registrado em 15 de março de 1957, apresentava o veredito: ;O Júri procurou encontrar uma concepção que apresentasse unidade e conferisse grandeza à cidade, pela clareza e hierarquia dos elementos. Na opinião dos seus membros, o projeto que melhor integra os elementos monumentais na vida quotidiana da cidade, como Capital Federal, apresentando numa composição coerente, racional, de essência urbana ; uma obra de arte ; é o projeto número 22 (vinte e dois) do senhor Lucio Costa;. No dia seguinte, o arquiteto foi declarado oficialmente o vencedor.

Mostra itinerante

Em 2016, por ocasião do 31; aniversário do Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF), o órgão produziu uma mostra composta por cinco painéis com fotos do início da construção de Brasília e esboços produzidos pelo arquiteto e urbanista. Já neste ano, em comemoração aos 60 anos da vitória do projeto, as imagens voltaram às ruas. O ArPDF dispôs os painéis no hall de entrada da Câmara Legislativa nesta quarta-feira (15) e a mostra ficará no local até 30 de março.
Ata declarou urbanista franco-brasileiro como vencedor do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil em 16 de março de 1957

O estudante do 5; período do curso de engenharia civil Lucas Lopes, 20 anos, conferiu a exposição e disse considerar Lucio Costa um dos maiores exemplos de profissionais da área. ;Vendo Brasília hoje, ele provavelmente se sentiria realizado por tudo o que planejou ter se concretizado. As obras e os projetos dele são cheios de beleza;, relatou.

A mostra também contém trechos do projeto que descrevem como algumas das localidades da cidade deveriam ser. As quadras residenciais, por exemplo, foram planejadas com o objetivo de favorecer um maior contato entre os moradores. ;O agrupamento delas, de quatro em quatro, propicia num certo grau a coexistência social, evitando-se assim uma indevida e indesejável estratificação;, descreveu o urbanista em um desses trechos.
O advogado e estudante do 2; período de engenharia civil Otiniel Fonsêca, 50 anos, também parou para examinar a exposição. Para ele, o material ainda precisa de complemento e mais informações. ;Por se tratar de um dos fundadores da cidade, o conteúdo podia ser mais explorado;, observou.
O historiador Elias Manoel da Silva, que também é curador da exposição, informou que o plano é produzir novos painéis e dispô-los novamente pela cidade. ;Este é um presente do Arquivo Público para a sociedade. Ainda faltam os aspectos biográficos do Lucio, mas estou preparando outros seis ou sete painéis. Ao lado da obra, quero que esteja o criador;, concluiu.
*Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer

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