Reunidos em uma chácara no Núcleo Rural Casa Grande, no Gama, projetada para ser um hospital indígena, com uma grande área verde e um espaço para dar aulas de reforço às crianças da comunidade, estão os Jovens Unidos com uma Missão, mais conhecidos como Jocum. Com o objetivo de ajudar a população do local em que estão inseridos, eles promovem bazares beneficentes e levam café da manhã para quem sai de madrugada para marcar consulta no posto de saúde da cidade. Também trabalham com os moradores de rua e os profissionais do sexo, servem comida, doam roupas, levam a palavra de Deus ou apenas ouvem o desabafo dessas pessoas sobre as durezas da vida. A organização não governamental (ONG) foi criada em 1960 pelo americano Loren Cunningham, também fundador e presidente da Universidade das Nações, com a proposta de oferecer treinamento em ministérios nas mais diversas áreas de estudo. Hoje, a Jocum é considerada como uma das maiores organizações filantrópicas cristãs do mundo.
Entre os inúmeros missionários está Maria do Socorro da Silva Ávila, 42 anos. Há 14 anos na Jocum e, há pelo menos 22 participando de ações missionárias, ela mora na sede de Brasília com outros jovens que se dispuseram a servir a um propósito. Ela conta que, antes de decidir fazer parte da Jocum, ganhava um bom salário de outra igreja: ;Mas nunca me senti satisfeita. Parecia que sempre faltava algo. Foi aí que conheci o projeto. Orei, e Deus tocou meu coração para que eu entrasse e seguisse os pilares da Jocum, que é treinar outros jovens, evangelizar e transformar a realidade por meio de ações sociais;, contou.
Com 50 bases no Brasil ; como são chamadas as sedes ;, a agência missionária é interdenominacional, ou seja, não participa de nenhuma denominação própria, não sendo ligada a uma igreja específica. A de Brasília mantém o telhado de palha da época do projeto do hospital. Depois de procurarem um local por toda a cidade, os líderes descobriram, em 2005, uma chácara abandonada. Maria do Socorro conta que eles precisavam de um espaço próprio, mas não tinham dinheiro para comprar o lote, que, na época, custava R$ 400 mil. ;Fizemos de tudo para levantar esse dinheiro, vendemos tudo que tínhamos, até um carro. Mas paramos na quantia de R$ 190 mil. Depois de orarmos muito, recebemos uma doação de uma pessoa do restante do valor. Acreditamos que foi Deus que fez isso por nós.;
Inspiração
Questionados sobre o motivo de terem ingressado na Jocum, três jovens missionários responderam algo em comum: a necessidade de encontrarem a si mesmos. Foi essa vontade que fez com que João Paulo Rosa Oliveira, 29, de Goiânia, desistisse do sonho da faculdade de enfermagem para seguir os desígnios de Deus. ;Eu nunca havia achado meu lugar antes. Minha família era católica e, aos 9 anos, fui pela primeira vez a uma igreja evangélica e por lá fiquei. Mas, com o passar dos anos e as coisas dando errado em minha vida, decidi entregar tudo nas mãos de Deus e, mesmo relutante no início, aceitei o propósito dele e vim;, relembrou. Com o medo de não se adaptar à nova moradia e sem ter um emprego formal, como já estava acostumado, João Paulo contou que, no primeiro dia, sentiu, pela primeira vez, a paz que tanto buscava.
Nascido em uma família sem ligação com a religião, a carioca Poliana Danuza Costa Oliveira, 33, teve seu primeiro contato mais íntimo com a espiritualidade após ser diagnosticada com lúpus e conseguir ser curada. Apresentada à igreja evangélica pela ex-sogra, anos depois a jovem conheceu a ONG por meio de uma amiga. Achando legal a proposta, ela orou para saber se era realmente aquilo que queria. ;Eu e minha amiga vendemos tudo que tínhamos, tranquei a faculdade de administração no terceiro semestre e faz dois anos que estou aqui. E estão sendo os dias mais felizes de minha vida;, relatou. Segundo a missionária, os pais não entendem a escolha dela, mas ela garante que fez a coisa certa. ;Muito disso é por conta de as pessoas não conhecerem o que é tudo isso aqui. Sem dúvida, quando tiver meus filhos, ficarei muito feliz se escolherem ter Jesus em suas vidas.;, afirmou.
O peruano, que aprendeu português em apenas três meses, Samuel Aguirre, 25, estava se preparando para entrar na faculdade de música em Lima, sua cidade natal. Foi quando veio ao Brasil visitar os primos e procurar a base da Jocum. Desembarcou sabendo falar apenas ;oi; e ;feijão;. Hoje, com o sotaque ainda carregado, descobriu que sua missão é ajudar a mudar a realidade das pessoas. ;Perdi meus pais quando tinha 9 anos. Até os meus 19, odiava completamente Deus e achava que a culpa era dele. Um dia, no meu quarto, olhei-me no espelho e percebi o vazio que havia dentro de mim. Busquei a palavra dele e, assim, tornei-me missionário e um pouco mais brasileiro;, disse Samuel. Ele agora quer ir para a África do Sul no meio do ano, para trabalhar na missão de lá e fazer o curso de serviço social. ;Conseguimos ajudar as pessoas porque, além do treinamento, coisas ruins aconteceram com a gente. Sabemos como passar por tudo isso;, concluiu.
Serviço
Para seguir a missão da Jocum, é necessário, antes, fazer um curso com duração de seis meses, que é registrado na Universidade das Nações. Idade mínima: a partir de 18 anos
Saiba mais
; A Jocum está presente em mais de 180 países.
; Há cerca de 18 mil missionários em todo o mundo em mais de 1,1mil locais de trabalho
; 30 mil alunos por ano são atendidos pela Jocum
Fonte: www.jocum.org.br