Jornal Correio Braziliense

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Igreja Messiânica tem duas importantes celebrações no DF este ano

Há 50 anos, a semente da religião era plantada na nova capital pelas mãos do comerciante japonês Tsuruyoshi Kamioca


A capital federal foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Nos anos anteriores à solenidade e, também, nos seguintes, milhares de pessoas de diversas regiões do país migraram para o coração do Planalto Central, trazendo consigo bagagens distintas de múltiplas culturas e religiões. Mesmo após a morte de Juscelino Kubitschek, imigrantes continuavam a chegar e a enriquecer a região.


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Entrelaçada às diversas mudanças e ao desenvolvimento de Brasília, está a história da Igreja Messiânica Mundial do Brasil. De raiz japonesa, a fé chegou à nova capital por meio de um comerciante brasileiro, filho de nipônicos. Sem nenhum planejamento, ele se instalou em Sobradinho, em 1967. Duplamente importante para os messiânicos, 2017 marca os 40 anos da inauguração do prédio piramidal, construído na 315/316 Norte, em 8 maio de 1977, e os 50 anos da chegada de Tsuruyoshi Kamioca.

Afastado dos sacerdotes, o comerciante, que já tinha um grau de envolvimento maior com a Igreja Messiânica, foi o primeiro a praticar o Johrei, oração silenciosa que visa a purificação e a felicidade de outra pessoa, em solo candango. Hoje, graças ao esforço de Tsuruyoshi e de muitos outros que vieram depois, a religião reúne cerca de 19 mil fiéis no DF. Para o reverendo Sandro Vieira Nunes, diretor-regional de Brasília e Goiânia, o aniversário significa, principalmente, ;maturidade;. ;É um marco que estabelece uma certa experiência. Nos permite ousar mais na nossa expressão. Nesse período, ultrapassamos muitas fases, vencemos desafios com a ajuda de milhares de pessoas. Agora, podemos observar e ir além em nossa expansão;, comemora o líder religioso.

Se, por um lado, o reverendo tem a visão de uma capital que recebeu de braços abertos a Igreja Messiânica, em partes pela pluralidade de culturas na região, por outro, ele destaca que a vinda dessa fé para a região também trouxe diversas contribuições para o DF. A começar pela arquitetura. O templo da religião é um prédio tombado e foi projetado sob a influência da obra do arquiteto e urbanista Charles-Edouard Jeanneret-Gris. Mais conhecido como Le Corbusier, é um dos nomes que influenciaram Oscar Niemeyer. ;Nós fazemos parte da história de Brasília e, também, contribuímos com essa história. Participamos de inúmeros eventos culturais e difundimos a prática de ikebana, um arranjo floral que é, para nós, a representação do belo, do divino;, afirma.

O legado

O pioneiro Tsuruyoshi Kamioca conversava com amigos e com a comunidade e abria as portas de casa para ministrar o jhorei. Assim foram dados os primeiros passos da Igreja Messiânica no DF. Ainda naquele ano, o então líder da Igreja Messiânica do Brasil no país, o reverendíssimo Tetsuo Watanabe, japonês, visitou Tsuruyoshi, consagrou um altar e outorgou outros fiéis a ministrarem o jhorei. Posteriormente, o templo passou para um local alugado e, em 1977, ganhou um terreno pra a construção da sede própria. Hoje, o ministro adjunto Sandor Teixeira Farkas é o responsável pelo local. Ele conta, feliz, que é a terceira geração messiânica na família, que começou com o avô. Sandor fala com carinho do legado do comerciante, que, diferentemente dele, veio para o DF sem uma formação em teologia e, às custas da própria vontade, deu início às orações na capital.


;É um legado de ensinamentos, de assistência religiosa e de amor ao próximo para fazer um mundo melhor. Estou dando continuidade ao legado de pioneiros. A ação de Tsuruyoshi foi movida por dois sentimentos: a gratidão e a retribuição. Ele (o comerciante descendente de japoneses) é um modelo de como devemos agir diante das coisas;, explica. Para o ministro, se as pessoas pensassem no próximo, como pregava Tsuruyoshi, o mundo seria melhor. ;Chegar a um local e difundir a Igreja Messiânica não é algo ligado ao conhecimento teológico. É a ação simples de querer ver o mundo melhor. Eu tenho uma formação sacerdotal, mas igual amor e vontade em ver o outro melhor;, declara. ;Na Igreja Messiânica, há a liberdade para os fiéis difundirem nossas ideias onde eles estiverem;, completa.


O encontro de dois mundos

A experiência de Tsuruyoshi não foi a única na capital. Em contato com moradores de regiões administrativas, ele ajudou na difusão da religião nessas cidades. Em pouco tempo, havia fiéis em Taguatinga e no Guará, por exemplo. Com a transferência de funcionários públicos da antiga capital federal Rio de Janeiro para Brasília, alguns fiéis foram morar no Plano Piloto. Entre eles, Pérola Brás Botelho, que, em 1969, pediu a ministros no Rio de Janeiro para dar início à religião em Brasília. Ela não tinha ideia da experiência do comerciante nipo-brasileiro, mas, como ele, abriu as portas de casa para outros fiéis. Um dos motivos do desencontro foi o cadastro de fiéis da instituição. Na época do comerciante, era pequeno e pouco se fazia. Mas, em 1969, era algo comum. Ainda assim, nem todos na capital carioca tinham noção da existência de um grupo em Sobradinho.

Assim como ocorreu com Tsuruyoshi, em um dado momento, Pérola precisou alugar uma casa para continuar os trabalhos. Em seguida, também, foi preciso alugar uma residência, na 709 Norte, para comportar os membros. Foi em outra visita de Tetsuo Watanabe que os membros do Plano Piloto tomaram conhecimento das células existentes. ;A comunicação era precária;, destaca o reverendo Sandro Vieira Nunes. Com a visita do reverendíssimo, a Igreja Messiânica, finalmente, institucionalizou-se no DF. Watanabe monitorou o processo e fazia visitas frequentes. Também contava com a ajuda de outros dois reverendos. Foi sob o comando deles que, em 1972, a igreja conseguiu o terreno na 315/316 Norte para a construção de um templo. E foi, também, sob a liderança deles, que o prédio piramidal foi inaugurado em 1977.

Ainda em 1972, o ministro Júlio Barbieri Júnior, que morreu em 2004, foi nomeado ministro responsável pela região. ;Com a construção do templo, crescemos rapidamente. Também setorizamos o DF. Designamos representantes das regiões administrativas e fomos muito bem recebidos em atividades artísticas e culturais nessa época. Passamos à casa dos 100 membros. Nessa época, Tsuruyoshi havia morrido, e a Asa Norte se tornara o centro da Igreja Messiânica do Brasil no DF;, relata Sandro Vieira Nunes. À época, o grupo começava a crescer também em Goiânia, que, hoje, também é gerida pelo reverendo.

Imposição das mãos

A oração Johrei é feita em silêncio. O nome deriva da palavra Joh, que significa purificar, e Rei, que quer dizer espírito. Em tradução livre, seria algo como a purificação do espírito. Para ministrar a oração em outra pessoa, o fiel tem que receber uma medalha, chamada Ohikari, uma espécie de outorga. Uma garantia de que o religioso sabe o suficiente para a pequena cerimônia. No templo da Asa Norte, há uma sala específica para a prática.

Para saber mais

Universalistas

A Igreja Messiânica Mundial foi fundada no japão, em 1935, por Mokiti Okada. Ele é conhecido pelos fiéis como Meishu-Sama, ou, Senhor da Luz, em tradução livre. A fé tem, como missão, a fundação de um paraíso terrestre. Os messiânicos acreditam que tudo veio de Deus e deve retornar a Ele. O caminho para esse retorno é a purificação e o autoaperfeiçoamento. Dessa forma, cria-se um estado de espírito mais próximo da divindade. O paraíso na terra seria justamente o domínio desse estado de espírito ; uma forma de trazer à tona o melhor de si na caminhada para os integrantes da religião é a oração Johrei, que é ministrada em outra pessoa e serve para purificá-la.


O nome messiânico vem da palavra ;messias;, mas não está ligado diretamente a Jesus Cristo. Para eles, cada povo, em cada momento, teve um messias que contribuiu com a evolução a humanidade. Os missionários da religião japonesa chegaram ao Brasil entre novembro de 1954 e agosto de 1955. Tetsuo Watanabe foi designado como reverendíssimo e responsável pela divulgação da fé no país. O primeiro Culto do Paraíso Terrestre ocorreu em uma sede provisória da igreja, em São Paulo (SP), em 15 de junho de 1962. Cerca de 20 anos depois, a igreja inaugura o edifício Mokiti Okada, na Vila Mariana, na capital paulista. O local é, até hoje, a sede central da Igreja Messiânica Mundial do Brasil.