Confirmando a diversidade que vem marcando o carnaval de rua brasiliense, os foliões tiveram neste domingo (26/2) opções variadas de blocos para brincar ; da tradição do Pacotão e da Baratona, ambos criados em 1978, ao estreante Eduardo e Mônica. A festa contou ainda com blocos que se consolidaram nos últimos anos, como Menino de Ceilândia e Raparigueiros, responsável por atrair o maior público do dia.
Comemorando o seu 25; ano de existência, o Raparigueiros entrou noite a dentro colocando uma multidão para pular no Eixão Sul. Por volta das 21h, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) estimava um total de 30 mil pessoas, enquanto a organização dizia que havia ao menos 100 mil.
O presidente do bloco, Wellinton de Santana, 46 anos, fundou o bloco com mais 24 amigos, em 1992, na Candangolândia. De lá para cá, muita coisa mudou. "Hoje, tomou outras proporções e vem crescendo a cada ano. A gente espera, no mínimo, 100 mil pessoas, podendo chegar até 180 mil no ponto alto da festa", estimava Santana.
O casal Victoria Alves e Gabriel Oller, ambos de 19 anos, é assíduo no carnaval de rua de Brasília e sempre procura os blocos mais animados "A gente gosta muito, todo ano a gente vem, é o carnaval inteiro em bloquinho", brinca. Quatro brigas foram presenciadas pela equipe do Correio e, em uma delas, a polícia montada interveio.
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Mais cedo, festa das crianças
A diversão, como de praxe, porém, começou mesmo foi com as crianças. Os pequenos foliões do Baratinha, que começou às 14h no Parque da Cidade, pularam bastante ao som de música animada e da banda de percussão infantil do bloco. A chuva, que caiu durante a maior parte do tempo, não foi capaz de desanimar a garotada, que revezava a dança com atrações como pintura de rosto e cama elástica.
A auxiliar administrativa, Nayara Bárbara, 27 anos, levou as três filhas para curtirem o bloco e não deixou que a chuva impedisse a diversão das pequenas. "É a primeira vez que elas estão curtindo o carnaval. E eu as trouxe justamente para que elas conheçam a tradição e a cultura do que é o carnaval", disse. Alice, 8 anos, e as gêmeas Maria Eduarda e Maria Clara, 7, escolheram as próprias fantasias. "A gente escolheu a Moana (personagem de filme infantil) porque ela entra em muitas aventuras", explicou Eduarda.
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Irreverência política
A festa dos adultos ganhou fôlego com o irreverente Pacotão, um dos blocos mais tradicionais de Brasília. A turma se reuniu na 302 Norte, a partir de 12h. A chuva prejudicou a saída do grupo, mas o cortejo, como ocorre todos os anos, ganhou as avenidas W3 Norte e Sul.
Criado em 1978, o bloco é conhecido por dar espaço para protestos políticos bem-humorados e músicas que criticam temas sociais.
Na concentração, dezenas de pessoas sambaram ao som da banda Medida Provisória. O grupo é encarregado do esquenta do Pacotão. Depois, a animação ficou por conta da Banda Podre, que, em vez de 40 músicos, precisou sair, este ano, com 15 pessoas, devido à crise econômica. Marchinhas como ;Cabeleira do Zezé; e ;Teu cabelo não te nega; estava no repertório do maestro Cristiano Maceió. "Mostramos assim a irreverência que é a característica principal do bloco", comentou.
O tema deste ano tirou o foco da política nacional e tratou de um tema local: a crise hídrica. ;Tcheco, tcheco, tcheco/é banho de bacia/ tcheco, tcheco, tcheco/falta água noite e dia;, diz a música ;Banho Tcheco;, de Antonio Jorge, Thayane e Hadassa Sales.
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Eixão da folia
Também com 39 anos de existência, o Baratona começou um pouco antes das 17h reunindo cerca de 5 mil pessoas logo de início. O bloco se concentrou na altura da 108 Sul e seguiu para a Esplanada.
Michele Ferreira, 25, foi de Sobradinho para curtir o bloco. Com uma fantasia criativa, ela só usou maquiagem para compor a sua personagem de gatinha. "Só quero me divertir ao som de muito funk, rap e rock;roll", dizia. Mas o bloco fundado pelo pernambucano também tocou axé e outros ritmos baianos e de carnaval.
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Legião carnavalesca
Também começando por volta das 14h, o bloco Eduardo e Mônica, criado para homenagear a Legião Urbana e o rock da capital. O bloco atraiu um público bem diversificado. Jovens, crianças e famílias usavam fantasias variadas e muito confete.
Vestida de unicórnio para acompanhar o namorado, que estava de cavalo, a administradora Polyana Bezerra, 27, esperou a chuva diminuir para ir à rua. "Quis vir aqui para conferir essa proposta diferente, de tocar rock, que achei bem legal", contou. O estilo musical esperado por Polyana apareceu às 17h. Antes disso, marchinhas tradicionais de carnaval saíam dos alto-falantes. Mesmo assim, ela aprovou. "Está bem tranquilo e tem muita gente bonita", resumiu.
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Os Meninos de Ceilândia
A chuva forte atrasou o bloco Menino de Ceilândia, mas não impediu que o carnaval acontecesse. O bloco estava marcado para às 14h, mas a festa ficou para depois das 17h.
Ana Claudia Souza, 39 anos, foi com a mãe, Anailda Rosa dos Santos, 56; e as filhas, Beatriz, 6, e Heloísa, 8. "Vamos aproveitar mesmo com a chuva. Todo ano a gente vem", disse a dona de casa.
O Menino de Ceilândia foi fundado em 1995 com a proposta de movimentar a cena cultural com um evento acessível a todos da comunidade. Um boneco gigante batizado com o nome do grupo foi confeccionado para o primeiro desfile e, desde então, o bloco comanda a festa de carnaval da cidade.
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Alternativa do amor
Outro grupo que saiu no Plano Piloto foi o Bloco do Amor, na via S2. Com a proposta de pregar aceitação às diferenças, a segunda edição do evento uniu pessoas de diversas faixas etárias e de várias partes da cidade.
Apesar de não ser fã de carnaval, a produtora cultural Cláudia Andrade, 53 anos, fez questão de ir. "Esse aqui é ótimo. É uma grande festa no meio da rua, que toca de tudo. Toca pop, toca música mais antiga, toca o coração", elogiou.
Ao som de músicas pop, como Britney Spears, os foliões cantaram, dançaram e jogaram muita purpurina uns nos outros. "Esse bloco é um dos melhores e, certamente, um dos mais respeitosos", avaliou o publicitário João Neto.