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Praça dos Prazeres se consolida como palco de blocos alternativos

Os eventos são procurados pelo público LGBT e por mulheres que buscam fugir de assédios. Este ano, 14 grupos vão desfilar no local até a terça-feira de carnaval



Há 57 anos, nordestinos, goianos e moradores de diferentes regiões do Brasil formavam a capital do país. Essa união acabou por gerar uma cultura própria. Palco dos mais diversos eventos, a Praça dos Prazeres, apelido dado ao ambiente localizado na Quadra 201 da Asa Norte, retrata os costumes que estão sendo estabelecidos pela geração que nasceu e foi criada na cidade. O local ganhou um novo nome e fama após se tornar o quintal cultural do Balaio Café, espaço fundado em 2003, que acabou fechando as portas definitivamente em dezembro de 2015.

Desde 12 de fevereiro, o espaço recebe blocos e a folia seguirá até o último dia do feriado. Música caribenha, celta, ska jamaicano e, claro, o bom e tradicional samba vão alegrar os foliões. Na última quinta-feira, quem passou pelo local foi transportado para uma festa cubana em Havana. A produtora Juliana de Andrade, 36 anos, conhecida como Jul Pagul, chegou antes de a festa começar para organizar o bloco Bora pra Cuba. Antiga proprietária do Balaio, hoje ela é a principal organizadora dos 14 blocos de carnaval que usam a praça como passarela. ;Isso é o que eu amo fazer, e ver isso ocorrendo aqui na praça, deixando a história cultural da cidade viva, é mágico e traz muita satisfação;, relata.

[SAIBAMAIS]A praça começou a ser tomada pela população nos tempos do Balaio. À época, tudo começou com eventos culturais e debates sobre temas sociais e políticos. Com o tempo, chegaram os shows musicais, e daí foi impossível manter tanta animação entre quatro paredes. O bar funcionava quase 24 horas por dia e nos sete dias da semana. Depois que fechou, a praça virou local de resistência e celebração da diversidade. Hoje, Jul Pagul convida a população para uma festa de diversidade humana e de linguagens artísticas. ;É tudo uma grande festa, e queremos proporcionar a possibilidade de as pessoas se divertirem, conhecerem novas culturas e se sentirem seguras.;

Tanto para os organizadores quanto para os frequentadores do carnaval, a Praça dos Prazeres significa liberdade. O jornalista Marcos Urupá, 39, organizou o bloco Samba do Peleja, em 18 de fevereiro. ;O evento ocorre desde 2013. Escolhemos a praça porque ela apresenta um ambiente livre. Além disso, a localização é boa e as residências são afastadas;, ressalta. Segundo ele, o público inicial era de 3 mil e, hoje, passa dos 13 mil.

Para todos

Blocos alternativos como os que desfilam na Praça dos Prazeres têm sido procurados por mulheres que querem evitar assédios durante a festa. Com ritmos variados, entre marchinhas, funk e música eletrônica, tentam agradar a todos os ouvidos. ;Fui pela primeira vez neste ano e estou apaixonada. É muito bom poder me divertir sem ter que ficar me preocupando com homens que ficam irritados e forçam a barra quando ouvem um simples não;, conta a estudante Mariana Matias, 18. Os amigos, Gregorio Ayres, 18, e Artur Gama, 18, também concordam com a jovem. ;É bem mais fácil se divertir em um ambiente onde não fica rolando briga o tempo todo;, diz Artur.

Um dos principais blocos para o público LGBT, o Tutankasmona, Tombando a Pyramide, conseguiu reunir cerca de 18 mil pessoas no pré-carnaval deste ano, em 18 de fevereiro. A festa ocorreu pela primeira vez em 2016, no Setor Bancário Norte. Segundo a organizadora Mari Mira, 30, a ideia da festividade é criar um espaço de conforto aos foliões. ;Existe muito assédio nos blocos tradicionais. Tentamos criar um ambiente com papel educativo e intolerante quanto à situações de desrespeito;, explica.



Para Mari, a temática LGBT contribui para diminuir o assédio. ;A rua é um território hostil para esses públicos. Esses novos espaços demonstram resistência. Todos são bem-vindos, só é importante lembrar que não é não;, ressalta. A organizadora também destaca que o governo terá que aprender muito para os próximos carnavais. ;O público cresce anualmente. Muitas das pessoas que deixavam a cidade nesse período estão começando a curtir a folia na cidade. Com isso, precisamos que as políticas públicas se adéequem melhor;, completa.

A foliã Laiana Rodrigues, 21, também aprova blocos desse tipo. ;Tinha ido apenas ao Raparigueiros, há três anos, e achei horrível. O tempo todo tinha alguém brigando do nosso lado, os homens passavam a mão como se fôssemos deles. Saí de lá decidida a não ir mais a blocos de carnaval, mas, neste ano, fui ao Tutankasmona e me senti muito livre e feliz;, afirma.

Para provar que é possível lutar contra o machismo enquanto se festeja, o Bloco das Perseguidas celebra o movimento feminista em Brasília há cinco anos. Na primeira edição, mil pessoas curtiram a festa e, hoje, o bloco espera cerca de 3 mil. O evento contará com a presença de Martinha do Coco, Thabata Lorena e outras mulheres. ;É um protesto festivo, vamos cantar, dançar e nos divertir, mas sem deixar de falar sobre a importância da nossa luta. Lembrando que é um evento feminista, ou seja, é aberto para todos, a única coisa que pedimos é que, se vier, deixe em casa qualquer resquício de machismo, racismo, homofobia e qualquer preconceito contra minorias;, convida Tatiana Lionço, uma das organizadoras.

* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer



Os melhores de Brasília
O Correio Braziliense elegerá, com o patrocínio no Big Box, os melhores blocos de Brasília. Este ano, 77 agremiações participarão da segunda edição do concurso. Até as 18h da quarta-feira de cinzas, os leitores poderão escolher os melhores blocos pelo site do Correio (www.correiobraziliense.com.br). No ano passado, os vencedores foram Galinho de Brasília, Baratona e Suvaco da Asa, segundo votação de internautas. E o Babydoll de Nylon ficou com um prêmio especial concedido por comissão formada por integrantes do jornal. Este ano, vários blocos surgiram na cidade. Além da música, infraestrutura e segurança são critério importantes para um carnaval divertido. Confira o regulamento completo do concurso no site.