Jornal Correio Braziliense

Cidades

Desorganização na Secretaria de Saúde expôs equipamentos dos depósitos

Falta de controle e de segurança resultaram na vulnerabilidade dos equipamentos estocados nos depósitos da Secretaria de Saúde. Situação contrasta com uma das maiores crises enfrentadas pelo setor

A compra excessiva de material hospitalar e de equipamentos desnecessários para a rede pública leva à armazenagem improvisada dos produtos, com risco de roubo e deterioração. A auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal constatou que há falhas graves na estocagem do patrimônio da Secretaria de Saúde. A pasta tem três depósitos para a guarda de bens permanentes: um no Parque de Apoio, outro no Setor Hospitalar Sul e o último no Setor de Cargas do SIA. Apesar de o acesso ser controlado, no Parque de Apoio, por exemplo, o espaço é compartilhado pelas subsecretarias de Administração Geral, responsável pelos depósitos de bens patrimoniais, e de Logística e Infraestrutura da Saúde, gestora do almoxarifado do material de consumo.

Essa divisão gera dificuldades, como desorganização dos produtos comprados e recebidos. Em caso de extravio, o compartilhamento representa obstáculo a uma eventual responsabilização. ;É frequente que bens sejam mudados de lugar nos corredores, diante da falta de espaço, e há necessidade de remanejamento dos itens para melhor acomodação, o que também enfraquece o controle dos produtos;, aponta a auditoria.

A organização também é falha. Em visitas aos depósitos, os auditores observaram que não há identificação dos itens estocados e muitos estão espalhados. ;Caixas são aglomeradas sem a indicação de dados relevantes dos produtos;, aponta a investigação.

Fontes da Secretaria de Saúde admitiram que, em alguns galpões, a segurança apresenta deficiências e não há controle do material. ;Alguns ambientes ficam sem vigilância. Muita coisa se perde sem explicação. Não há uma área que monitore;, explica um servidor da área. A auditoria ressalta a vulnerabilidade de dois endereços: um sótão do Hospital Regional de Santa Maria e espaços no Setor Hospitalar Sul.

;Absurdo;
O presidente do Conselho de Saúde do DF, Helvécio Ferreira, atribui as falhas à extinção da Fundação Hospitalar no início dos anos 2000. ;As categorias que davam sustentabilidade à compra e à organização foram extintas. O Estado perdeu a capacidade de corrigir os problemas em tempo hábil;, critica.

Na quinta-feira, servidores do Hospital Regional do Gama pediram ao Sindicato dos Médicos (SindMédico) ajuda para conseguir mobiliário para uma ala recém-reformada. Lá, não há mesas nem cadeiras, e as camas foram pintadas para ocultar o desgaste. Um tomógrafo desligado por falta de ar-condicionado.

Para o presidente do SindMédico, Gutemberg Fialho, o material armazenado deveria estar em uso. ;Na situação caótica que a saúde vive, deixar qualquer coisa estocada é um absurdo. A rede está desabastecida, e a realidade piora a cada dia;, reclama.

Vitor Gomes Pinto, integrante do Observatório da Saúde do DF, diz que o setor de compras e de infraestrutura sempre foi o mais desorganizado da gestão pública. ;A Secretaria de Saúde tem o dever de explicar o motivo por não usar esses equipamentos."

Secretário censura repórter do Correio


Em atitude autoritária, a Secretaria de Saúde se recusou a responder a pedidos de esclarecimentos feitos pelo Correio. O secretário Humberto Fonseca também determinou à assessoria de imprensa da pasta que não repasse informação ao repórter Otávio Augusto. A censura atenta contra a liberdade de imprensa e afronta a Constituição, que garante aos veículos de comunicação o direito de levar ao conhecimento da população informações de amplo interesse público.
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