[SAIBAMAIS]Correio cruzou os dados do período da crise hídrica em São Paulo, na Paraíba, em Pernambuco e no Ceará com os índices de dengue ; principal doença transmitida pelo Aedes. As informações revelam que, no intervalo de tempo da interrupção no fornecimento de água nos estados, houve alta nas infecções (leia Alerta). Em São Paulo, por exemplo, a estiagem no Sistema Cantareira começou em 2014, quando 221.946 pessoas adoeceram. No ano seguinte, o vírus infectou 233,1% a mais: 739.418 pacientes. A maior incidência ocorreu na zona norte da capital. À época, a Secretaria de Saúde de São Paulo atribuiu o avanço do vírus às falhas no abastecimento de 5,3 milhões de pessoas.
A cautela no DF é ainda maior após a lição amarga que 2016 deixou. Mesmo com a baixa circulação do mosquito, muita gente adoeceu. Somente a dengue fez 17.801 vítimas. A chicungunha teve alta de 705% ; passou de 19 casos, em 2015, para 153, no ano passado. O subsecretário de Vigilância à Saúde, Tiago Coelho, é taxativo: a falta de água pode contribuir com a infestação de Aedes aegypti. ;Percebemos não só no DF, como em São Paulo e no Nordeste, onde houve restrição no uso da água, permanente ou temporária, que a proliferação do mosquito é continuada. O normal é atribuir a reprodução ao tempo chuvoso, mas temos o outro extremo, que é a crise hídrica, que obriga as pessoas a estocarem água. O grande problema é quando o armazenamento é inadequado e se torna um foco;, explica.
Riscos
O chefe de Mobilização Institucional e Social para Prevenção de Endemias da Secretaria de Saúde, Denilson Magalhães, sabe que os riscos são grandes. ;Nossas equipes estão fazendo o monitoramento e o extermínio dos criadouros identificados. Desde quando começou a crise hídrica, trabalhamos essa questão;, detalha. Ao todo, 15 regiões administrativas estão passando por racionamento de água ; 1,8 milhão de pessoas é afetada. O montante corresponde a 62% do Distrito Federal.
Denilson admite que o LIRAa (que mapeia as infestações por áreas) de setembro de 2016 já não reflete a situação epidemiológica atual. Ele minimiza o lapso com a queda de 94% nos casos de dengue em janeiro, se comparado ao mesmo período do ano passado ; passaram de 3.174 casos para 185. ;Os agentes epidemiológicos vão começar a recolher os dados para a atualização do LIRAa em 13 de fevereiro. O levantamento deve ser divulgado antes do carnaval. As informações vão nortear as ações de controle do mosquito nas regiões mais críticas;, adianta.
O coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Divino Valero, ressalta a importância do trabalho de vigilância e defende a participação da população no combate ao vetor, sobretudo em momentos de falhas no abastecimento de água. ;O armazenamento de água é uma ação individual que tem reflexo no coletivo. O nosso foco é mostrar como guardar água de maneira segura. As pessoas têm que cuidar da higienização e da proteção dos reservatórios;, argumenta. Divino garante que toda a atenção tem sido dada à situação, mas que cabe ao Executivo local pôr em prática ações e medidas preventivas. ;Estamos traçando ações, caso seja necessário realizá-las. O ministério faz a política nacional, mas o estado é o executor;, conclui.