Cidades

Esquema da Mr Hyde era articulado por WhatsApp, acusa delatora

Segundo a delação, o principal articulador da máfia, Johnny Wesley, cobrava venda e uso a mais dos produtos médicos pelo aplicativo

Flávia Maia
postado em 10/02/2017 14:12

O esquema, também conhecido como máfia das próteses, foi descoberto no ano passado, em operação da Polícia Civil e do Ministério Público do DF

A Justiça do Distrito Federal homologou as delações premiadas de Sammer Oliveira Santos, Danielle Beserra de Oliveira e Rosângela Silva de Sousa no processo da Operação Mister Hyde, deflagrada em setembro do ano passado. As três trabalhavam na TM Medical - principal empresa envolvida no esquema criminoso - e são rés na denúncia oferecida pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O acordo de colaboração premiada foi assinado no fim de janeiro deste ano e homologado esta semana pelo juiz responsável pelo caso, Paulo Marques da Silva.


O Correio teve acesso com exclusividade às três colaborações que trazem detalhes de como a máfia agia com os médicos dentro dos hospitais da capital do país. Em um trecho da delação da técnica de enfermagem Rosângela, ela conta que a TM Medical tinha três grupos de WhatsApp para organizar as fraudes. Johnny Wesley, Mariza Aparecida Rezende Martins e Micael Bezerra Alves faziam parte de todos e, por eles, cobravam dos representantes comerciais as vendas superfaturadas, de produtos vencidos e com lacres violados. Segundo o depoimento, Johnny fazia perguntas no grupo do tipo: ;A cirurgia do Dr Fulano usou o quê?;; ;Usou mais do que devia?;.

Rosângela conta que, enquanto trabalhou no esquema, ela se lembra de apenas uma cirurgia que realmente era de urgência - o paciente era um agente penitenciário que precisou fazer uma cirurgia de coluna após uma queda. ;Muito embora no grupo de agendamento do WhatsApp vários procedimentos cirúrgicos eram agendados em caráter de urgência;, comenta a relatora.

[SAIBAMAIS]Segundo Rosângela, Johnny cuidava da parte científica da empresa, pois era ele quem aprovava ou não a aquisição de materiais pela TM, bem como a utilização do material para os procedimentos cirúrgicos. ;O Dr Johnny sempre foi autoridade dentro da TM, ele quem direcionava os acontecimentos dentro da empresa, ele dava ordens a todos os funcionários;, diz um trecho da delação. A funcionária diz ainda que ;quando o Dr Johnny queria falar algo de forma mais reservada (na empresa), ele ia na lanchonete de cima;.

Com base na primeira denúncia do MPDFT, 19 envolvidos foram indiciados, sendo oito médicos. Dos acusados, três continuam presos preventivamente: Johnny Wesley Gonçalves Martins, Micael Bezerra Alves e Antônio Márcio Catingueiro Cruz.

Audiência suspensa

Por causa das colaborações premiadas, a audiência da última quarta-feira (8/2) foi transferida para 20 e 21 de fevereiro, para que os advogados dos envolvidos possam ler os depoimentos e preparar a defesa.

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