Jornal Correio Braziliense

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Dupla de drag queens promove curso para ensinar maquiagem e figurino

A lista de atividades para o curso é extensa. Além da maquiagem serão ensinados cuidados com perucas e aulas teórica sobre história e conceitos drag queen

Enquanto os pincéis percorrem o rosto de Lucas Santos, 19 anos, a timidez e o desconforto de usar um macacão colorido e cheio de espuma dão lugar à satisfação. ;Acho tão lindo quando elas (drag queens) estão em cima do palco, dançando, lacrando e deixando todo mundo hipnotizado;, enaltece. O garoto assistia a vídeos de maquiagem em casa e fazia o melhor para tentar se montar, mesmo que de maneira amadora. Agora, enquanto duas das mais famosas drag queens de Brasília finalizavam sua maquiagem, Lucas saía de cena para dar lugar à estrela Hilary Honorato. ;Quero ser caricata, bem engraçada, fazer todo mundo rir;, planeja. No mundo drag, quem faz a primeira maquiagem se torna a mãe da nova personagem. As veteranas Mary Gambiarra e Dita Maldita são as mães de Hilary e, no próximo sábado, terão várias novas filhas, pois ministrarão o Primeiro Curso de Iniciação Drag Queen de Brasília.

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;Depois das apresentações, muita gente vinha perguntando onde tínhamos aprendido a fazer uma certa maquiagem ou como havíamos começado a nos montar. Pensando nisso, decidimos criar um curso, no qual passaremos adiante a nossa experiência. Contaremos vivências, ajudaremos na criação do personagem drag, ensinaremos a maquiagem e emprestaremos roupas dos nossos arsenais pessoais;, explica Mary Gambiarra. A personagem de Marcos (nome fictício), 28, não tem mãe. Nasceu de um modo diferente. Por meio da política. ;Em outubro de 2014, eu fazia campanha para uma deputada e precisávamos de um modo atraente de falar coisas sérias com o público LGBT. Então, comecei a me montar, de modo bem amador mesmo, via vídeos no YouTube. Aprendi aos poucos;, relembra. Dois anos depois, Mary virou a profissão de Marcos. Ele fundou o The Queens Produções, fornecendo diversos tipos de entretenimento para festas, e se tornou residente da Victoria Haus, o palco de maior visibilidade da cultura Drag no DF.

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Já Dita Maldita é uma garota do interior que veio para a cidade grande para conquistar os holofotes. A drag de Vitor Viana, 25, é sensual e provocante, usa roupas curtas e está sempre bem-arrumada. ;Vim de Uberlândia para Brasília há cinco anos. Comecei trabalhando em festas, como Vitor, com um visual andrógieno e bem alternativo. Depois disso, recebi o convite para fazer drag. Fui aprendendo com amigas de profissão e, por isso, acho importante passar o ensinamento para frente;, conta. Vitor conheceu Marcos há dois anos e lembra que, na época, Mary morava em um carro. ;Tudo da Mary ficava no automóvel do Marcos. Perucas, roupas, maquiagem. Vi aquilo e sugeri que ele fosse morar comigo. Estamos juntos desde então. Hoje, ganhei mais que um companheiro de quarto, somos amigos e sócios na The Queen Produções;, relata.

A lista de atividades para o curso é extensa. Além da maquiagem, serão ensinados a confecção de pirellis ; as espumas que dão forma ao corpo da personagem ;, cuidados com perucas e uma verdadeira aula teórica sobre história e conceitos drag queen. ;Vamos emprestar algumas das nossas roupas e perucas. Ao finalizar tudo, nós e as garotas vamos para o evento Maior Farra, no Minas Hall;, completa Mary. E a primeira vaga do curso foi preenchida por Lucas Santos, que conheceu a dupla e ganhou uma bolsa para participar da aula gratuitamente.

Ato político

Com um celular na mão, Mary mostra fotos das primeiras montagens. ;Melhorei bastante;, brinca. Antes da típica peruca ruiva e das roupas alegres que usa hoje, preferia um visual florido. ;Já havia feito aula de teatro, então usava o que ajudasse a compor a ideia cômica da personagem. Ia a ambientes LGBT, como o Bar Barulho, falava de doenças sexualmente transmissíveis e tentava dialogar sobre política em um momento em que o meu público não era acostumado a falar daquilo;, conta Mary. Até a parceira Dita aprendeu com a amiga. ;Confesso que não sabia muito sobre o assunto. Hoje, tenho uma visão diferente e acredito que a partir do momento em que um gay coloca uma peruca e sai na rua, já é um ato político. Ser drag queen é dar a cara a tapa, é tomar partido pelo que você acredita;, declara Dita.

A felicidade de Mary só fica de lado quando o assunto é a vida pessoal de Marcos. ;Infelizmente, não consegui passar tão bem esse recado para a minha família. Eles são muito religiosos e não aceitam bem que eu faça drag. Mary ainda não é a minha única forma de sustento e, devido à área em que trabalho, também não posso expô-la;, diz. E é pensando nessa situação pessoal que Marcos prepara um novo projeto. ;Com a arrecadação do curso e algumas parcerias, pretendemos alugar um espaço em que acolheremos drags que os pais não deixam se montar em casa, como se fosse um camarim comunitário;, planeja.



Programe-se


Primeiro Curso de Iniciação
Drag Queen de Brasília

Quando: sábado, das 8h às 20h

Local:
Próximo à Estação de Metrô
de Taguatinga Sul
Investimento:
R$ 149 %2b Matrícula de R$ 30

Matrícula: (61) 99985-4564

Mais informações:
facebook.com/ditoviana e
facebook.com/mary.gambiarra1

* Estagiário sob supervisão de Sibele Negromonte