Há oito anos não havia morte por febre amarela na capital federal. Ontem, a confirmação de um caso rompeu a estatística. Um pedreiro de 40 anos, tratado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião, chegou ao DF na última segunda-feira, vindo de Minas Gerais. Devido às complicações, ele acabou transferido para o Hospital São Mateus, no Cruzeiro. Amostras do paciente passaram por análise no Laboratório Central (Lacen) e, ainda na madrugada, os técnicos cravaram a causa do óbito. A expansão da doença se mostra cada mais agressiva: Minas Gerais confirmou 23 mortes pelo vírus ; o maior surto da história no estado.
Logo após o almoço, o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, convocou o subsecretário de Vigilância à Saúde, Tiago Coelho, para anunciarem os detalhes do caso. A primeira declaração do chefe da pasta veio com um apelo: ;Precisamos ter calma. Não há motivos para desespero;, pediu. Ao longo de sua fala, ressaltou a importância da imunização, garantiu estoque de 10 mil doses do imunobiológico e detalhou a situação epidemiológica do DF.
A morte do mineiro ; que estava na capital visitando um irmão, quando começou a apresentar quadro de convulsões e insuficiência renal ; não está entre as oito confirmadas na quarta-feira pelo Ministério da Saúde. Agora, será feita uma apuração se o caso ocorreu pelo vírus silvestre ou pelo vírus vacinal, já que o imunobiológico contém o vírus vivo atenuado e, em situações raras, desencadeia a infecção. Oriundo de Januária, norte mineiro, o pedreiro estava hospedado em São Sebastião e passou também pelo Paranoá. Ele veio para a capital de ônibus.
Para evitar contaminações, a Secretaria de Saúde iniciou um processo de contenção, que conta com o uso de carros fumacê e vacinação em um raio de 30km no local onde o paciente estava hospedado. Como mosquitos podem ter picado o pedreiro e se infectado, a medida é necessária para diminuir as chances de outros casos. ;Estamos investigando os locais por onde ele passou, com quem teve contato e o que realmente veio fazer na cidade;, destacou Tiago Coelho.
Falta de vacina
Tiago admitiu que alguns centros de saúde estão desabastecidos. Em sete dos 12 centros de saúde que a reportagem entrou em contato, as doses estão em falta. Três unidades não repassaram informações. Cabe a cada sala de vacinação, segundo o subsecretário, solicitar as doses. ;Houve uma alta na demanda que não estávamos esperando. Houve situações que subiu para 60 aplicações diárias onde eram apenas 35, por exemplo. Entretanto, todas as cidades estão sendo abastecidas;, garantiu. Hoje, deve ocorrer nova distribuição do insumo.
Para manter o estoque equilibrado, Fonseca solicitou 30 mil doses da vacina ; quantidade superior às 25 mil recebidas mensalmente do Ministério da Saúde. Ele minimizou as falhas em alguns locais e estimulou a procura. ;É muito importante que as pessoas sejam vacinadas. Principalmente quem vai para as regiões onde estão registrados mais casos da doença, como Espírito Santo e Minas Gerais.; Brasília faz parte da lista das cinco capitais com recomendação de vacinação. As outras são: Manaus, Belo Horizonte, Porto Alegre e Cuiabá.
Oito macacos encontrados mortos no DF, em 2015, estavam infectados com febre amarela. No ano passado, ocorreram cinco casos. As amostras de 24 primatas ainda estão sendo analisadas. Segundo projeções da pasta, no ano passado, 95% da população foi vacinada. Este ano, mais de 5 mil pessoas foram imunizadas. Em 2016, mais de 191 mil pessoas receberam doses. ;Estamos tomando todas as medidas possíveis para enfrentar a doença e evitar um surto;, destaca Fonseca.
Na última década, 245 pessoas tiveram suspeita de febre amarela no DF ; recuo de 8,5% em relação à década anterior, quando ocorreram 268 infecções. No mesmo recorte de tempo, a vacina ficou mais popular. Cerca de 2,4 milhões de habitantes receberam doses do imunobiológico entre 1997 e 2006. O número subiu para 2,8 milhões entre 2007 e 2016 ; alta de 15%.
Atenção para a imunização
; O calendário de vacinação contra a febre amarela passou por alterações no último ano.
; Agora, a recomendação é de duas doses para a imunização definitiva.
; A primeira é aplicada nos bebês, aos 9 meses, e o reforço, aos 4 anos de idade.
; Quem receber a primeira dose depois dessa idade deve tomar a segunda após 10 anos.
; O regime de vacinação adotado no Brasil é diferente daquele defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda apenas uma dose.
; Idosos acima de 60 anos, grávidas, lactantes, bebês de até 6 meses, pessoas com imunodeficiência (como a Aids ou em tratamento de alguns tipos de câncer), transplantados e alérgicos a ovo não devem se vacinar.