Uma casa simples e aconchegante, com 12 quartos, 18 funcionários e muito carinho. Assim é o Lar da Terceira Idade Samaritanos, de Águas Lindas de Goiás, que abriga 30 idosos com longas histórias de vida. Em comum, eles têm a saudade das famílias e a vontade de levar uma boa prosa.
A veterana do grupo é a baiana Daura Ribeiro da Silva, que vai completar 100 anos nos próximos dias. Gosta muito de conversar e relembrar os tempos em que trabalhou na roça, comia muito acarajé e curtia festas. Tem um filho e alguns netos, que costumam visitá-la mensalmente. Conhecido como a cigarra do lar, o mineiro Divino Joaquim Rocha, 73, adora cantar modas de viola. Ele nunca prestou serviço militar, mas tem uma fascinação pelo Exército Brasileiro. Sempre está vestido com a farda camuflada e gosta de ser chamado de Capitão. É ativo, tem memória boa e leva alegria para os colegas. A família não o visita com frequência.
Dercílio Lopes Pereira, 73 anos, tem uma história que emociona. Sem família, foi encontrado na rua, catando lixo. Não sabia onde estava, não tinha conhecimento de quem era, nem um lugar para onde ir. Foi encaminhado ao lar pelo Ministério Público. Na avaliação do psicoterapeuta e professor universitário Marcos Terra, presidente do Lar da Terceira Idade Samaritanos, a solidão é a pior das doenças enfrentadas pelo público atendido. ;É comum os idosos dizerem que estão só de passagem. Acham que vão voltar para casa, mas o tempo passa e percebem que não tem retorno. Alguns conseguem se adaptar, mas outros são muito apegados à família. Você percebe a queda da vitalidade, e surgem diversas doenças degenerativas;, afirma Marcos Terra.
Voluntariado
Quem movimenta o ambiente e ameniza os impactos da solidão são os voluntários. Eles se organizam em caravana e vão ao Lar Samaritanos no primeiro domingo de cada mês. Levam doações de materiais de limpeza e higiene, fraldas geriátricas, alimentos e muita música. O grupo é orientado a trabalhar a terapia do afeto, puxar a memória afetiva dos idosos, ouvir histórias de vida para a troca de experiências e estimulá-los a cantar.
[SAIBAMAIS]Morador de Ceilândia, o professor Michael Interaminense, 27, mais conhecido como Ravi, é voluntário da caravana há mais de dois anos. ;Desde o primeiro dia, percebi que eu recebia muito mais do que doava. São momentos de aprendizagem, que me transformaram de formas inimagináveis. A cada vivência, ouço mais histórias e consigo conhecer os idosos mais a fundo;, observa Ravi. Ele ressalta que, além das doações físicas, o mais importante é a troca de afeto. ;São seres humanos que precisam de ajuda, de um tempo especial. Se a gente não se dispõe a parar um pouco e ouvir o que têm a dizer, talvez ninguém os ouviria. Muitos de nós não paramos para pensar que um dia estaremos na mesma situação, talvez não tão debilitados ou desamparados, como muitos ali.;
Campanha Ajude um idoso
Desde que assumiu a Presidência do abrigo, em 2007, Marcos Terra trabalha duro para reunir voluntários e angariar fundos a fim de manter o serviço. As famílias contribuem com o benefício do INSS e meio salário mínimo. A maioria dos atendidos recebe benefícios, outros cinco não. ;Sem a ajuda da filantropia, é impossível manter a casa funcionando. Com os benefícios dos idosos, mal conseguimos pagar os funcionários. Ainda tem os gastos com água, luz, transporte, medicamentos. Essa época de fim de ano é a mais crítica porque temos que pagar o 13; salário da equipe;, explica o presidente, ao lembrar que, até 2015, os funcionários eram voluntários e não tinham carteira assinada. ;Com a mudança da lei, registramos os funcionários e aumentaram muito os encargos. O que entra não é suficiente para pagar as despesas;, lamenta Marcos Terra.
A crise fez com que criasse a campanha Ajude um idoso e ajude a si no futuro. Uma rifa oferece vários prêmios. Também são bem-vindas doações financeiras e materiais. ;Qualquer tipo de doação ajuda muito e diminui a despesa. Não importa o valor, que venha do coração para que a gente possa sair dessa crise;, diz Marcos. A campanha está no Facebook e em um site de eventos. O prazo estipulado para recuperar as contas é maio de 2017. Caso não consiga, o presidente adianta que os idosos deverão retornar às famílias ou, em pior hipótese, a instituição será fechada.
ESTE LUGAR
Lar da Terceira Idade Samaritanos
Existe desde 2003
Fica na Quadra 55, Conjunto A, Lote 36, Setor 5, Águas Lindas de Goiás
Abriga 30 idosos, mas tem capacidade para receber 40
Doe: materiais de limpeza e higiene, fraldas geriátricas, alimentos, carinho
PARA AJUDAR
Os telefones de contato são (61) 99665-0909 e 99976-4505.
Os depósitos podem ser feitos na conta poupança do Banco do Brasil. Agência: 2945-9. Conta: 16.788-6. Variação: 51. CNPJ: 06.078.589/000-27. Razão social: Lar da Terceira Idade Samaritanos.
Mais informações: www.lar3idade-samaritanos.org