Jornal Correio Braziliense

Cidades

Vice-diretor é acusado de humilhar estudante e caso acaba na delegacia

O educador teria retido as sandálias de um menino de 12 anos e o obrigado a caminhar, descalço, pelos corredores do colégio


A mãe do adolescente disse que ele ainda está com vergonha de ir para a escola, mas que já se sente melhor. Ela lamentou o caso e disse esperar que, após o desrespeito, situações semelhantes venham à tona. "Eu estava em casa quando o conselho tutelar chegou com o meu filho, relatou o acontecido e me levou para a delegacia. Lá ele (o menino) contou que o vice-diretor tomou as sandálias dele e o fez caminhar, descalço, pelo corredor", relatou a dona de casa.

Ainda segundo a mulher, o menino pediu os chinelos de volta, mas Jordenes não o teria levado a sério. "Ele vai com essa sandália de vez em quando. Ninguém nunca disse que era proibido. Fiquei com raiva do que aconteceu. A escola tem meu telefone, mas foi preciso um conselheiro vir aqui em casa para eu tomar conhecimento do ocorrido. Eu nunca tive reclamação do meu filho. Ele nunca repetiu de ano e tem boas notas", desabafou.

No perfil do vice-diretor em uma rede social, várias pessoas protestaram contra o atitude do educador. Em uma postagem, em que o professor deseja bom dia e recomenda que as pessoas consigam "manter a mente em silêncio, ainda que por alguns segundos", um internauta disparou: "Quem vê, pensa que é um homem bom! Você humilhou uma criança hoje! Você não tem vergonha?", escreveu. "Você envergonha todos os educadores da escola. Ou isso também é educação e disciplina? Bom rever seus métodos, pois estão ultrapassados", postou outro.

Houve, também, pessoas defendendo o professor. "É um homem muito bom. Ele fez muitas coisas boas. Sim, ele errou. Mas todo mundo erra e merece uma chance. Quem o conhece há muito tempo, como eu, sabe. Eu o defendo. Ele já fez bastante coisa que muito ser humano jamais teria coragem de fazer. Pesquise antes de julgar por apenas um erro", argumentou uma mulher.

Conselho tutelar

A denúncia chegou via mensagem de texto, ao celular de uma conselheira tutelar. Como havia dúvidas sobre a área de atuação, ela comunicou o fato ao responsável por outra unidade da cidade e, juntos, foram à escola, acompanhados de uma viatura da Polícia Militar. Lá, constataram que o caso procedia. "Encontramos a criança chorando na sala de aula, descalça, com os pés encolhidos. Nossa primeira preocupação foi em consolar o menino", relatou.

O vice-diretor da instituição recebeu, na hora, voz de prisão e foi encaminhado à delegacia para prestar esclarecimentos. "Vamos encaminhar o caso à Vara da Infância e da Juventude (VIJ) para que sejam tomadas as providências necessárias", detalhou a conselheira.

Depoimento

A 31; Delegacia de Polícia (Planaltina) investiga o caso. Na ocorrência, há a informação de que a atitude do professor motivou que outros alunos rissem da vítima. Segundo os conselheiros tutelares disseram em depoimento, quando chegaram na escola, o menino estava na sala de aula com a cabeça sobre a carteira e chorando, ainda com os pés descalços. Alguns alunos estavam ao seu redor olhando a cena.

Na unidade policial, o vice-diretor disse que problemas de disciplina são comuns em todas as escolas e que os alunos não gostam de receber advertência. Ele disse, ainda, que os alunos saíram para almoçar e que, na volta para a sala de aula, ele viu que o estudante em questão chutando uma bola de papel e fita crepe "promovendo uma algazarra e instigando os demais".

Jordenes disse ter percebido que o garoto estava descalço assim que o advertiu. Como, na versão do vice-diretor, o menino não parou de bagunçar, ele decidiu recolher os chinelos do estudante e recomendou que ele fosse à sua sala para que conversassem e ele devolvesse o calçado. Na ocorrência, o professor teria detalhado que ;o aluno não quis ir à direção pegar as sandálias e voltou para a sala de aula descalço;.

O aluno teria permanecido na aula até 15h30, quando os conselheiros chegaram ao colégio. O professor declarou que fez questão de frisar que nenhum aluno é impedido ou repreendido no âmbito da instituição com relação ao uso de sandálias ou similares. O profissional detalhou à polícia que o aluno foi abordado em virtude da indisciplina e não pela ausência ou tipo de calçado.

Ainda na DP, Jordenes reclamou da ação dos conselheiros, que entraram na escola acompanhado de policiais militares e o seguiram pela instituição, dando voz de prisão ao profissional sucessivas vezes. A chefe da Corregedoria da Secretaria de Educação, Mônica Gondim, informou que o vice-diretor Jordenes não tem nenhuma conduta inadequada registrada no órgão. "Ele possui um histórico funcional muito bom, mas, no dia do acontecido, instauramos um procedimento de investigação preliminar. Se conseguirmos levantar todos os dados, na próxima semana poderemos instaurar um Procedimento Administrativo Disciplinar", afirma.

Se ficar provado que o professor cometeu excessos, será aplicada uma punição, que varia de suspensão de até 90 dias à perda do cargo.

* Estagiário sob supervisão de Anderson Costolli