Jornal Correio Braziliense

Cidades

Alunos superdotados recebem assistência especializada no DF

Programa da Secretaria de Educação completa 40 anos em 2016. Educadores alertam para acompanhamento desde a infância

Em frente à tela do computador, Augusto César Theodoro Miguel, 11 anos, pesquisa sobre ilusão de óptica. ;Um dos temas que mais gosto. Mexe com os sentidos e a mente humana;, justifica, com os olhos vidrados. Dali, ele sai e mostra a máscara que fez com jornal e um quadro com imagens do fundo do mar. As atividades são desenvolvidas na sala de artes do Atendimento Educacional Especializado ao Aluno com Altas Habilidades/superdotação em uma escola da rede pública do Guará. Há seis anos, Augusto faz o acompanhamento. ;Ter altas habilidades é uma responsabilidade. As pessoas acreditam que você é inteligente demais e sabe tudo, mas não é assim. Gosto de tentar as coisas;, afirma o menino.

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Tendência ao questionamento, vocabulário detalhado e além do esperado para idade, alto potencial criativo e rapidez de raciocínio são algumas das características das crianças avaliadas com altas habilidades. ;Uma vez, o Gabriel me fez uma pergunta que não soube responder, e ele disse: ;Mas, mãe, você cresceu já faz tempo;, conta, aos risos, Maria do Carmo Dionísio, 52. Ela é mãe do pequeno Gabriel, 10. O menino aprendeu a ler antes dos 3 anos e começou a chamar a atenção da família e até de desconhecidos ao usar palavras que não eram comuns para a faixa etária. ;A gente ia em festa de aniversário, e as pessoas perguntavam se eu já tinha levado o Gabriel a um neurologista;, relembra a mãe. ;A cobrança da sociedade é grande. É muita coisa para a cabeça da mãe, que não entende. A gente cria o nosso filho para ser igual às outras crianças.;


Se Gabriel está lendo um livro e a família, conversando ou com a televisão ligada, ele está atento a todos os movimentos. ;Eles têm uma antena que a gente não usa;, descreve Maria do Carmo. E até a bronca tem de ser diferente. ;Aprendi que ter uma conversa séria com ele funciona;, explica. ;Uma conversa pode resolver vários problemas;, ensina Gabriel. Para o aluno, ter altas habilidades significa se encontrar com outras crianças como ele e fazer atividades que gostam. ;Tenho uma memória fotográfica, sou bem inteligente, sei falar e cantar em inglês;, comenta ele, sobre seus talentos. E acrescenta: ;Na verdade, não aprendi com ninguém. Com o tempo, fui vendo e aprendendo bem rápido.; Foi assim que ele descobriu o cinema e se encantou. Aos 10 anos, sonha ser cineasta. ;Via que podia emocionar, rir, ficar assustado, se envolver no filme como uma relação pessoal;, detalha.


Preocupações


Os relatos de outras mães são semelhantes. O dia a dia é o mesmo, bem como as angústias. A nutricionista Vanessa de Almeida Batista, 33, acabou de chegar ao atendimento especializado com o filho Bernardo, 7. ;Quando me chamaram na escola dizendo que ele precisava pular de série, aquilo me chocou;, lembra Vanessa. Com 2 anos e meio, o menino falava tudo e contava sobre o mundo que o cercava. A leitura veio sozinha. Se algum colega do colégio chama o menino de ;Benado;, ele não responde. ;Mãe, meu nome é Bernardo;, conta ela.


No entanto, além de altas habilidades, o filho de Vanessa é diagnosticado com hiperatividade (leia Para saber mais). ;O que complicada ainda mais. Na escola regular, eles se incomodam, porque os outros alunos não estão no mesmo ritmo dele. Ele termina a tarefa primeiro. Responde as perguntas. Uma vez, ele chegou contando que a professora disse que todos podiam responder, menos o Bernardo;, relata a nutricionista. Para o menino, a aula foi chata, porque não pode participar.
Francisca Souto, 45, também questiona o sistema de ensino. Ela é mãe de Lucas, 9, e não admite que o filho decore fórmulas, conceitos ou qualquer conteúdo. ;Fico muito triste quando vejo que ele acerta uma questão na prova, mas, por ter um raciocínio diferente do esperado, a professora dá um meio certo;, lamenta.

Estudantes com altas habilidades tendem a se cobrar muito e, consequentemente, têm dificuldades para lidar com a frustração. ;Ele não tira só 10. Isso é um mito;, complementa Francisca. A mãe também se sente culpada por ter demorado para perceber o talento de Lucas. ;Tudo o que ele apresentava eu achava normal de criança. Não me chamava a atenção. No ano passado, quando fui a uma psicopedagoga, ela, na hora, disse que o Lucas era superdotado;, relata.

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