Jornal Correio Braziliense

Cidades

Crise hídrica: sistemas de reaproveitamento e captação são pouco utilizados

No Distrito Federal, já existem construções residenciais com sistemas inteligentes de captação e reaproveitamento de água, mas as iniciativas são isoladas e não há legislação específica

Usar de novo
Enquanto os sistemas de aproveitamento de águas pluviais são mais usuais na época de chuvas, esquemas feitos para reutilizar águas cinzas (confira como funciona na arte) operam durante todos os meses do ano. As águas cinzas são aquelas derivadas dos chuveiros, lavatórios de banheiro, tanques, máquinas de lavar roupas e lavagem de automóveis. São líquidos que, se bem tratados, podem ser reaproveitados dentro do lote. Mário Viggiano, arquiteto e pesquisador na área de arquitetura bioclimática e sistemas sustentáveis, é responsável por projetos feitos para poupar o meio ambiente. ;Por ser originada de lavagens e banhos, a água cinza contém pelos de roupa e resíduos corporais de humanos, o que obriga a filtragem a ser muito mais rígida;, explica ele, que instalou na própria casa sistema de aproveitamento de água de chuva.

Após o tratamento, a água cinza é indicada para descargas de vasos sanitários e regagem de jardins. ;Mesmo após passar por tantos filtros, a água sai da instalação cheia de nitrogênio, e com um odor um pouco forte. Particularmente, indico o sistema para irrigação de certos tipos de plantas de jardins que necessitam desse elemento;, conta o pesquisador.

O reservatório de águas cinzas tratadas da residência do advogado Ricardo Passos capta até 8 mil litros, que são usados para regar o jardim do advogado. O resultado se reverte em economia. ;Anualmente, faço duas manutenções no sistema, apenas para trocar os filtros, que custam valores irrisórios perto da economia que consigo;, destaca. Por gerarem uma obra mais complexa, sistemas como esses são mais indicados para quem ainda está construindo uma nova residência.

Regularidade

Incomum no Brasil, esses sistemas de captação de água de chuva e de reaproveitamento de águas cinzas já são bastante usados no exterior. Nos Estados Unidos, várias normas e leis têm sido criadas visando à permissão e incentivo do reuso das águas cinzas. Por lá, a prioridade é reutilizá-la por meio de irrigação subterrânea, e vários estados têm cartilhas que auxiliam a montagem e implantação de sistemas. Em 1995, por exemplo, o Department of Water Resources da Califórnia já lançava um catálogo chamado Graywater Guide (Guia de águas cinzas, em tradução livre), que indica onde usar o líquido após a filtragem.

Aqui, legislação semelhante inexiste. Durante a instalação dos sistemas em casa, o advogado Ricardo Passos teve problemas com fiscais da Caesb. ;Recebemos algumas visitas, mas uns falavam uma coisa, e outros falavam outra. Não havia uma norma que regularizava a instalação, por isso, no fim das contas, a obra foi permitida;, relembra Ricardo. Representante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF), o conselheiro Rogério Markiewicz relata a dificuldade de relacionamento com a concessionária de água e o governo do DF. ;Temos apenas a NBR 15527, que regulamenta o aproveitamento de águas da chuva, então fica muito difícil ter um diálogo com o governo sobre isso. O CAU incentiva e apoia essas medidas sobre sustentabilidade e educação ambiental, mas precisamos de ajuda governamental para tornar essa prática mais usual;, explica.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique .