Jornal Correio Braziliense

Cidades

Fraude em cirurgias atinge mais de 100 pessoas, diz Ministério Público

Preço praticado nos procedimentos do DF são até 1.000% maiores que em outras capitais. Lucro dos médicos chegava a 7% do valor das cirurgias

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Mais de 100 pacientes foram submetidos a procedimentos desnecessários ou com material vencido ou de baixa qualidade somente em 2016, segundo o promotor de Justiça Mauricio Miranda. Na manhã desta quinta-feira (6/10), o Ministério Público (MPDFT) e a Polícia Civil deflagraram a segunda fase da Operação Mister Hyde, que apura irregularidades em cirurgias com órteses e próteses em hospitais particulares do DF. Outros médicos e empresas estariam envolvidos na fraude. O MPDFT enviou provas para o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) para que os profisssionais sejam punidos. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) também será acionado por haver aa suspeita de formação de cartel entre as empresas fornecedoras dos materiais e os hospitais.

A segunda fase não estava prevista para ocorrer nesta quinta, mas após denúncia de destruição de provas e formatação de computadores o MPDFT e a Polícia Civil adiantaram a ação. Cerca de 11 promotores e 20 policias participaaram da oitiva. Segundo as investigações, os médicos envolvidos no esquema operavam no Hospital Daher, no Lago Sul, por receberem de 3,5% a 7% no valor das próteses e órteses usadas nas cirurgias. A unidade médica foi alvo de busca e apreensão hoje pela manhã. Uma sala de cirrugia clandestina foi interditada. Cinco funcionários foram levados para prestar depoimento.

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[SAIBAMAIS]A Polícia Civil chegou ao Hospital Daher após analisaram trocas de e-mails e extratos de pagamento entre a MT Medical e a unidade de saúde. O MPDFT suspeita que a deflagração da Mister Hyde, em 1; setembro, não coibiu a prática irregular e médicos continuaram a realizar os procedimentos desnecessários. "Estamos trabalhando para comprovar se houve cirurgias neste período", informou Mauricio Miranda.

Quatro funcionários do Hospital Daher foram levados para prestar esclarecimentos coercitivamente: Wirliane Pires da Silva, chefe do departamento financeiro; José Wilson do Bonfim Lopes, médico responsável técnico do Hospital Daher; Patrícia Bezerra Mendes, funcionária do departamento financeiro; e Marco Aurélio Silva Costa, diretor comercial.

O médico José Carlos Daher, dono do hospital, e Ana Maria Monteiro Machado, ex-funcionária da unidade, não foram localizados na operação de hoje. Daher estava com uma viagem marcada para Belo Horizonte nesta quinta. "Vamos analisar os prontuários e outros documentos para apurar a participação deles e de outros médicos e empresas. Notamos uma participação forte do dono do hospital (José Carlos Daher) no gerenciamento das transações ilegais", detalha Miranda.

Superfaturamento


Na capital federal, segundo o MPDFT, o preço de órteses e próteses é 800% a 1.000% maior que o praticado em outros lugares do país. "A concorrência deveria ter três empresas. Uma entrava para ganhar e outras duas sabendo que iriam perder", explica o delegado Luiz Henrique Sampaio, titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (DECO).

Participam do esquema outras empresas e médicos, mas para não atrapalhar as investigações a Polícia Civil e o MPDFT não divulgaram a identidade dos suspeitos. "Outros hospitais podem ser alvos de investigação. Vamos onde conseguirmos ir", pondera Miranda. Houve busca e apreensão na casa de José Carlos Daher, Ana Maria Monteiro, no Hospital Daher, no departamento financeiro da unidade médica (localizada num lote próximo ao hospital) e numa empresa de arquivo do Hospital Daher.