Jornal Correio Braziliense

Cidades

Futuros prefeitos precisam melhorar serviço e diminuir dependência do DF

O Distrito Federal impulsionou o crescimento populacional das regiões vizinhas que convivem com problemas de infraestrutura



Dos 12 municípios que compõem a chamada Área Metropolitana de Brasília (Amib), apenas seis existiam antes da transferência da capital para o Planalto Central: Alexânia, Cristalina, Formosa, Luziânia, Padre Bernardo e Planaltina. As demais localidades ; Águas Lindas, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Novo Gama e Santo Antônio do Descoberto ; nasceram impulsionadas pelo crescimento urbano do DF, que teve de se expandir além do quadradinho. E esse movimento continua. Um exemplo é o distrito de Girassol, em Cocalzinho. Por estar mais próximo do DF, ele cresce mais do que o próprio município. O prefeito de Cocalzinho é de Girassol, e a localidade tem três candidatos neste pleito.

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Carência
De 1960 a 2013, o número de habitantes na vizinhança do Distrito Federal aumentou em 14 vezes. Segundo dados da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), a população na periferia metropolitana soma R$ 1,128 milhão de pessoas. A maioria delas tem vínculos sociais, econômicos, culturais e afetivos na capital. ;Com a expansão de Brasília, grande parte das pessoas que não conseguiam comprar terreno ou pagar um aluguel elevado no DF optaram por assentamentos privados em cidades como Valparaíso, Cidade Ocidental e Santo Antônio do Descoberto;, comenta Aldo Paviani, professor emérito de geografia da Universidade de Brasília (UnB). ;As cidades foram criadas dessa carência por moradia. Muitas dessas pessoas viviam em fundo de quintal no DF;, complementa.

Os assentamentos viraram municípios com crescimento rápido e desordenado, o que trouxe uma série de problemas urbanos típicos das chamadas cidades-dormitório, aquelas em que a população é pendular ; sai pela manhã e volta no fim do expediente. Esses habitantes convivem com pouca qualidade de vida, gerada por altos índices de violência, falta de emprego, mobilidade precária, educação deficiente, serviços de saúde insuficientes e desgaste ambiental.

Dessa forma, a infraestrutura urbana não conseguiu acompanhar a velocidade do aumento populacional. Ainda mais em localidades com dificuldade de gerar receita própria e que vivem, principalmente, de fundos como o de Participação dos Municípios. Por isso, a dependência dos equipamentos públicos do DF, em especial, saúde e educação. Cerca de 340 mil moradores do Entorno usam, diariamente, os hospitais da capital e 31 mil estudam em Brasília. Mesmo com a implementação das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) nas cidades, serviços mais especializados, como obstetrícia, ainda são muito utilizados desse lado da divisa.

A costureira Maria Cira Martins, 44 anos, mora e trabalha no Novo Gama. Ela conta que todas as mulheres da família tiveram os filhos no DF por falta de estrutura para o parto nos hospitais locais. ;As minhas filhas e neta nasceram em Santa Maria e no Gama. Sempre que uma engravida aqui, planeja o parto em Brasília;, conta. A dona da loja de roupas onde Maria Cira trabalha, Rosângela Menezes, 52, cumpriu o mesmo roteiro. Apesar de morar há 20 anos no Novo Gama, ela preferiu se deslocar até o hospital de Santa Maria para parir a filha. Segundo dados da Codeplan, 300 mil moradores do Entorno nasceram no DF.

Na análise de Ana Maria Nogales, diretora de estudos e políticas sociais da Codeplan, a raiz da dependência dos municípios limítrofes com o DF se dá, principalmente, na geração de emprego e renda. Todos os dias, 212 mil trabalhadores se deslocam para o Distrito Federal. ;Sem capacidade de produzir postos de trabalho, a mão de obra vem diariamente para Brasília a fim de gerar renda. Isso vira um desconforto com mobilidade e perda de qualidade de vida. São funcionários que se deslocam mais de 100 quilômetros diariamente;, afirma. ;Assim, as pessoas usarão os equipamentos públicos de onde elas passam a maior parte do tempo, que, nesse caso, é Brasília.;

Dependência
O fato de a Amib ser composta por duas unidades federativas distintas ; Goiás e Distrito Federal ; também dificulta as ações conjuntas para integração e melhoria dos serviços públicos nos pontos mais carentes. ;A presença de um ente metropolitano ajudaria muito;, acredita Ana Maria. Por isso, os novos prefeitos e vereadores têm muitos desafios pela frente.

Para melhorar a qualidade de vida dos moradores do Entorno e desafogar os serviços públicos do DF por causa da demanda em excesso, as saídas apontadas pelos especialistas passam por gestão pública eficiente, que envolva melhoria nos arranjos produtivos locais e geração de emprego; criação de polos educacionais regionais; implantação de sistemas de saneamento básico; e maior integração entre os próprios municípios. ;As linhas de transporte coletivo, por exemplo, só ligam as cidades ao DF. São poucas as opções que ligam as cidades da área metropolitana entre si;, alerta a especialista.

Na opinião de Aldo Paviani, a dificuldade de impulsionar a economia do colar metropolitano se dá por causa da concorrência com Anápolis, que conta com um polo industrial forte e mais infraestrutura. Além disso, as cidades do Entorno têm dificuldade de mão de obra qualificada. ;E eu me pergunto: qual empreendimento empresarial quer investir fora do DF sem as condições necessárias? É preciso melhorar a educação nesses locais, até criar uma universidade regional;, propõe. ;Os prefeitos precisam planejar as políticas para diminuir a dependência do DF;, complementa.

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