Jornal Correio Braziliense

Cidades

DF registrou 13 feminicídios e 19 homicídios contra mulheres este ano

Ontem, uma manicure foi atingida por golpes de faca, desferidos pelo marido, que, em seguida, tenta se matar



O volume do carro de som parecia não romper o silêncio da vizinhança, localizada duas ruas abaixo do Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia (CEF 12). Os moradores do local mantinham-se sem palavras enquanto o veículo anunciava a venda de pamonha. Ali, o sentimento era de choque. Na residência, que fica no centro da avenida e tem cerca de 12 casas de cada lado, o motorista Beny José de Paula, 57 anos, usou uma faca para assassinar a esposa, Eliane Vieira de Paula, 42, e, em seguida, tentar tirar a própria vida. Eliane junta-se a uma triste estatística: foi a 13; vítima de feminicídio no Distrito Federal só este ano.

Por volta da 1h, a equipe do Samu foi acionada para realizar o atendimento de uma suposta tentativa de suicídio na QNO 2, em Ceilândia. Em poucos minutos, os profissionais chegaram ao local e identificaram o corpo de Eliane em frente à casa dos fundos. A vítima teria tentado pedir ajuda ao primo, que mora na parte de trás do lote. O marido, porém, seguiu a mulher e deferiu dois golpes com a faca ; um no tórax e outro no pescoço. Em seguida, introduziu a arma na própria garganta.

[SAIBAMAIS]O primo de Eliane ainda tentou impedir a tragédia, mas não conseguiu. Ele pediu à esposa para sair de casa e chamar ajuda. Beny foi socorrido pelo Samu e encaminhado ao Hospital Regional da Ceilândia em estado grave. Segundo as testemunhas, o casal discutia antes do ocorrido.

Sexismo
Este ano, 32 mulheres foram mortas no DF. Dezenove delas, vítimas de homicídio. Outras 13 também perderam a vida, no entanto, no contexto de violência doméstica, tipificada como feminicídio. A subsecretária de Políticas para as Mulheres do Governo do Distrito Federal, Lúcia Bessa, aposta na conscientização das mulheres para pôr fim ao ciclo de violência. ;A gente acompanha todos esses crimes com muita tristeza. A sensação é que nunca fazemos o suficiente.; Segundo ela, o governo tenta garantir um ciclo de empoderamento para que a violência contra as mulheres acabe, seja ela doméstica, seja em qualquer outro contexto. ;Criamos grupo de trabalho contra o feminicídio e outras violências, disseminamos informações, quanto à Lei Maria da Penha e ao feminicídio, em colégios, igrejas e administrações regionais. Reunimos lideranças, mulheres, homens, crianças, e explicamos os motivos pelos quais nós, mulheres, estamos morrendo;, destacou.

Ativista do Fórum de Mulheres do DF e Entorno, a assistente social Guaia Monteiro Siqueira destaca a importância de não desqualificar a vítima. ;Existe, no país, um genocídio contra a população negra. Eu sei que o uso de drogas cresce entre a juventude e é fruto de toda uma cultura, mas isso não tem que ser o centro da questão.; Guaia esteve no MPDFT, na semana passada, com ativistas do movimento feminista e familiares e amigas de Katyane para pedir que o órgão acompanhe as investigações da 5; e da 33; DP. ;Não podemos reduzir essas três mortes a dívidas de drogas. Há, ainda, um histórico de não conclusão das investigações. A sociedade é patriarcal e justifica a violência contra a mulher. O movimento feminista denuncia isso há anos;, criticou.

Com informações de Luiz Calcagno e Camila Costa

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