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Apesar de a crise ter batido mais forte agora, os sinais da escassez de chuva são notórios nos últimos cinco anos. Desde 2011, o pico negativo do lago é cada vez mais implacável. Naquele ano, o nível mais baixo foi de 56,72%. Não parou de cair. Em 2012, marcou 39,68%. Em 2013, 29,12%. Em 2014, 25,67%. No ano passado, 12,9% em dezembro - comumente o mês mais austero (veja gráfico). Formado principalmente pelos rios Tocantins, das Almas e Maranhão, as águas parecem estar cada vez mais distante do povo que construiu vida no rescaldo das ondas do lago no cerrado. O que era sonho, no fim da década de 1990, tem se tornado cada vez mais um poço assoreado de pesadelos.
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Penúria
O Correio percorreu 1.090km, passou por três municípios e conheceu comunidades que estão devastadas pela estiagem. A cada metro que a margem do lago avança, crescem, em consonância, o desespero e a frustração. A baixa da água tirou de casa dois filhos do barqueiro Iraci Araújo, 57 anos. Há 19 anos, ele abandonou a carreira de analista bancário para se dedicar ao balneário. Para se ter ideia da crise, das 28 casas flutuantes do local, normalmente alugadas por turistas, restaram apenas nove ; nenhuma está ocupada. Iraci tocava um restaurante flutuante com capacidade para 180 pessoas. Ancorou a embarcação. ;Quando vou dormir, fico pensando o que será da gente. Me dá um sentimento muito ruim. Mesmo nessa situação, eu vivo daqui;, diz emocionado.
[SAIBAMAIS]Entre as lembranças, Iraci ressalta um acidente com uma lancha. A colisão ocorreu com uma pedra, distante 3km do local onde hoje é uma extensa camada de lama, rejeitos e tristeza. Quando o governo fechou as comportas para encher o lago, há quase duas décadas, uma rodovia e uma ponte que ligavam Uruaçu a Niquelândia foram desativadas. A pista, agora, está à mostra. A ponte começa a evidenciar o parapeito.
Na estrutura que deu lugar à antiga via, estão as marcas indeléveis da estiagem. As largas pilastras, antes cobertas de água, a cada dia, ficam mais à mostra. Até parecem recontar a música I-margem, de Paulo Araújo: Há um rio afogando em mim / Secando, secando, secando / Tem rompante os mistérios que já vi / Esperando, esperando, esperando o fim.
Na pousada onde havia nove funcionários, restou somente a dona. Ivonete Rodrigues da Silva ocupa parte do tempo fazendo os serviços de manutenção do local e quebrando a cabeça com cálculos para tentar equilibrar as despesas. O local com capacidade para 48 ocupações, quando tem um fim de semana movimentado, recebe duas. ;Ficou um lugar feio, com a baixa d;água tão severa. Os clientes perguntam por que está assim e quando tudo vai voltar ao normal. Não temos respostas. Vários ribeirões, riachos e açudes da região estão completamente sem água;, desabafa Ivonete. Na quinta-feira, ela limpava a mobília empoeirada e o chão.
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