O brasiliense pode se preparar para o racionamento de água e até o pagamento de mais taxas por causa do desabastecimento na capital do país. O nível dos reservatórios do Distrito Federal é o pior dos últimos 20 anos, e algumas cidades já sofrem com cortes. Se não chover, a população só terá água para os próximos 73 dias. Com o objetivo de evitar a situação, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa) intensificou a fiscalização de captação irregular e não descarta a cobrança extra pelo consumo excessivo.
As medidas vieram depois de vários dias quentes com tempo seco. O órgão decretou estado de alerta ; volume útil entre 40% e 21% ; nos reservatórios de Santa Maria e de Santo Antônio do Descoberto, locais que abastecem quase 80% da população. A marca não alcançou o nível nem em1996, ano em que chegou a 45%. A Adasa, agora, se preocupa em promover a locação de água e ampliar a comunicação para conscientizar a população. O diretor-presidente do órgão, Paulo Salles, afirmou que o momento é de atenção.
;Tentamos manter as coisas funcionando. O brasiliense precisa mudar a cultura de desperdício e observar que o nosso bem está se esgotando;. A recomendação é que a população reduza o consumo: nada de usar a água tratada para lavagem de veículos, garagens e calçadas, fachadas dos prédios, irrigação de jardins e manutenção de piscinas.
Em razão dos baixos níveis de captação e do aumento do consumo, locais como Brazlândia, São Sebastião e Planaltina enfrentam problemas. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) alega que tal medida se faz necessária no momento de estiagem. Paulo Salles explica que esses pequenos reservatórios sofrem com a seca há algum tempo e que a Caesb pode diminuir a pressão e até suspender o fornecimento. ;Isso não é previsível e não é um problema insolúvel. Se até a próxima semana não conseguirem resolver a situação de forma sustentável, a Adasa entrará fixando horários de suspensão no fornecimento de água;, garantiu.
O percentual de água nos reservatórios enfrentado pelos brasilienses é o pior desde 1987. Normalmente, os níveis mais baixos chegavam próximo à seca, nos meses de outubro e novembro, mas este ano a situação é especial. ;Estamos em meados de setembro e em estado de alerta. Acredito que, seguindo as recomendações, é possível evitar um estado de restrição de uso;, acredita o diretor. O reservatório de Santo Antônio do Descoberto apresenta o volume útil de 40,3%, valor muito destoante do registrado em abril do ano passado, quando o mesmo estava com um volume de 93,37%. Já o reservatório de Santa Maria teve uma queda de volume estimada em 41,95%, desde agosto de 2015. Apesar de Santa Maria atender uma parcela menor da população e estar com danos menores, Paulo Salles frisa que é necessário tratar os dois reservatórios com a mesma preocupação.
Economia
A estudante de direito Carla Teixeira, 20 anos, já toma algumas precauções. Na casa dela, a ordem é economizar. ;É uma situação preocupante. Temos o exemplo de São Paulo, que há quase dois anos sofre com desabastecimento de água. Por aqui, tomamos algumas medidas, como evitar ficar com o chuveiro aberto em todo o período do banho;, detalhou a moradora do Lago Norte. Segundo ela, a família também busca o reaproveitamento. ;Nós usamos a água gasta na máquina de lavar ou no momento de lavagem do carro em outras atividades.;
A economia também é vista em alguns condomínios. Alexandre Campos, 38, é síndico de um residencial em Águas Claras. ;Não é de hoje que estamos tratando com cuidado a questão da economia de água. Primeiro, cuidamos da estrutura, com a troca de registros e torneiras. Percebemos que algumas apresentavam goteiras, o que fazia aumentar o uso;, detalhou. Em meio aos trabalhos preventivos, os moradores também identificaram um vazamento na caixa d;água subterrânea. ;A correção foi feita. Diante dessa situação de reservatórios baixos no DF, agora vamos reforçar com cada unidade a importância de não desperdiçar água. É um trabalho de conscientização nas 46 unidades do prédio;.
Torcida
Para a promotora de Justiça Marta Eliana de Oliveira, titular da 3; Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural (Prodema), a situação nunca esteve tão crítica. ;Torcemos para que a chuva venha logo. A Adasa está cautelosa com o volume hídrico de 20% e quer evitar o estado de restrição. A população, porém, tem papel importante nesse processo;, aconselha. Marta comenta que a situação fica mais evidente com o crescimento da demanda no DF. ;A água não consegue acompanhar a cultura do brasiliense de gastar. A promotoria está preocupada, pois não vemos a população engajada na causa;. A Adasa garante que, em um prazo de 30 dias, será criado um Grupo de Acompanhamento com objetivo de avaliar a situação hídrica e discutir diretrizes e ações adequadas para amenizar os efeitos da escassez hídrica sobre os reservatórios.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), há a possibilidade de chuva acima do normal para os próximos dias, a partir de 22 de setembro, mas isso não garante que os volumes subam rapidamente. Ontem, houve registros de precipitação em alguns pontos, como no Gama, em São Sebastião e em Santo Antônio do Descoberto (GO). Pela segunda vez na semana, a cidade bateu recorde de calor. Os termômetros alcançaram 34,9;C, a temperatura mais alta do ano na capital do país. A umidade caiu a 18%. Para hoje, a mínima pode ficar em 19;C, e a máxima, em 35;C. A umidade relativa do ar deve variar entre 70% e 25%.
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