Jornal Correio Braziliense

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Pousada em que funcionava clínica clandestina estava interditada há 10 anos

O local é o mesmo onde funcionava a clínica clandestina de bronzeamento artificial Belo Bronze, em que a estudante Nara Farias Preto, 20 anos, passou por um procedimento antes de morrer. Agefis visitou o local

A Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) fez uma batida na pousada que funcionava no Bloco A da 705 Sul. O local é o mesmo onde funcionava a clínica clandestina de bronzeamento artificial Belo Bronze, em que a estudante Nara Farias Preto, 20 anos, passou por um procedimento antes de morrer. Segundo a superintendente de fiscalização da atividade econômica do órgão, Lucilene Abreu da Silva Nogueira, a casa estava interditada desde 2007 e já tinha recebido diversas multas. Hoje o estabelecimento foi autuado em R$ 3 mil.

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A pousada foi definitivamente fechada na ação. Diversos móveis do local foram levados por fiscais para o depósito da Agefis. O órgão está visitando diversos estabelecimentos do ramo na Asa Sul, mas deram prioridade ao endereço por conta da morte da estudante. Participaram da operação 30 homens de apoio operacional, nove auditores-fiscais, seis carros e dois caminhões. A estudante de direito morreu na madrugada desta quarta-feira, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Daher, no Lago Sul.

Nara foi enterrada, na manhã de ontem, no Cemitério Municipal de Mara Rosa (GO), cidade em que nasceu ; a 330km de Brasília. Para determinar as circunstâncias exatas do óbito, os peritos do Instituto de Medicina Legal (IML) farão análises mais detalhadas, como a biópsia de órgãos e exames bioquímicos que possam identificar a presença de substâncias tóxicas no organismo da vítima. O documento estará pronto em 20 dias.
A dona da clínica se apresentava apenas como Valéria e desapareceu após a morte da vítima. Uma prima da jovem afirmou que elas procuraram a mulher após Nara passar mal. ;Ela disse que, se soubesse que teria dor, teria passado um gelzinho. Depois disso, passamos a nos desentender;, contou. Era a primeira vez da jovem na clínica. Ela costumava fazer esse tipo de procedimento em outros locais e se surpreendeu pelo preço abaixo de mercado.
A página da clínica da internet fala de bronzeamento natural e de uso de produtos autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Nara passou pelo procedimento no último sábado (10/9). Na terça-feira (13/9), seguiu para o Hospital das Forças Armadas (HFA), por volta das 19h, com sintomas de fraqueza, náuseas, dor e confusão mental. Tinha queimaduras de 1; e 2; graus e desidratação aguda. Recebeu medicação e hidratação, porém, o quadro se agravou. Por isso, foi encaminhada para a UTI do Hospital Daher. A 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, cuida do caso.

[SAIBAMAIS]Vigilância

Na mesma manhã em que a família se despedia de Nara, a Vigilância Sanitária do DF esteve no endereço da clínica, na 705 Sul, e fechou o estabelecimento por falta de alvará de funcionamento e licença de operação para atividades de estética. A Belo Bronze ficava no terceiro andar de uma residência também usada como pousada. Técnicos recolheram quatro macas e uma bomba de dedetização, supostamente utilizada para aplicar produtos químicos nos clientes.

Os dois primeiros andares da construção também acabaram interditados porque não tinha condições de higiene e alvará de funcionamento. O auditor da Vigilância Sanitária Márcio Cândido de Jesus informou que as macas estavam danificadas e sem condições de uso, e a bomba era de uso restrito a empresas de dedetização. ;Ninguém mais entra. Demos um prazo de 10 dias para os moradores se mudarem;, explicou. Outro funcionário que participou da inspeção, Nilson Louli disse que a casa estava imunda. ;Banheiros foram transformados em quartos. Um dos cômodos é mobiliado com diversos colchões e não há condições de higiene na cozinha ou nos banheiros;, ressaltou.

Durante a ação, a proprietária do imóvel, Lilian Angélica Gonzalez Torres, esteve no local, acompanhada de um advogado. Os dois apresentaram um documento de rescisão de contrato locatício. Ela declarou não ter conhecimento das atividades irregulares. ;Eu aluguei a casa em um contrato residencial, não imaginava que acontecia ali alguma atividade comercial;. Lilian afirmou que mora no Rio de Janeiro e visita pouco a propriedade. Porém, no documento de rescisão, o endereço dela é de Sobradinho II.

Um morador da pensão, o aposentado Luiz Sérgio Cativo Barros, 68 anos, desmente a versão de Lilian. Ele vive na pousada desde dezembro do ano passado e afirma que a dona do imóvel sabia que uma pensão funcionava no local. ;Ela aparecia aqui toda semana. Está mentindo também ao dizer que não mora em Brasília;, denunciou. O contrato de locação está assinado por Vanderli da Silva Lacerda ; a mulher não foi localizada. A Polícia Civil não confirma se ela é a proprietária da Belo Bronze. No entanto, o telefone fornecido na página da clínica na internet é o mesmo número que Vanderli comunicou à polícia em outra ocasião: ela tem passagem por rufianismo ; tirar proveito da prostituição alheia. Na época, ela tinha uma clínica de estética chamada Luxus, na 714/715 Norte, que era fachada para uma casa de prostituição.