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Conheça Maria Régia, apresentadora de programa que ajuda a causa feminista

Há 35 anos, ela é a voz de centenas de mulheres. Precursora da causa feminista, Mara Régia mantém programa de rádio que ajuda no empoderamento de brasilienses em busca de seus direitos


Hide Park, Londres, 1976. Cinco anos antes de se tornar a voz que representa milhares de Marias por todo o Brasil, a apresentadora Mara Régia tinha seu primeiro contato direto com o movimento feminista. Em uma passeata na cidade inglesa, centenas de mulheres gritavam em uníssono: ;Não à Igreja. Não ao Estado. As mulheres devem decidir o seu destino;. A brasileira, vivendo uma liberdade que, à época, muitos conterrâneos não tinham acesso no próprio país, finalmente pôde entender sua história sob um viés que ia além da experiência pessoal. ;Eu havia introjetado essas questões de cidadania e direito da mulher por ter vivido violência doméstica em casa. Mas nunca havia pensado nisso, até ali, em uma dimensão cidadã, enquanto movimento social;, lembra.

Entretanto, a gênese do Viva Maria, programa de rádio comandado por ela e que completa 35 anos em 14 de setembro, surgiu ainda na infância da jornalista. Mara é uma carioca de ;suburbano coração;. Nascida em 1951, foi criada em uma comunidade que viu nascer blocos, como o Cacique de Ramos, e a celebrada escola de samba Imperatriz Leopoldinense. ;Minha mãe foi uma mulher à frente do seu tempo. Fez concurso público, formou-se em professora, deu aula ; única na família que conseguiu essa proeza. Esse protagonismo causou muitos dilemas familiares. Entre eles, o mais grave foi a violência doméstica. Mara foi criada por um pai misógino, e o desprezo dele pelo sexo feminino não só a afetou ; ;Ele sempre dizia que havia me achado em uma lata de lixo; ;, como também violou a mãe, Yollanda.

;Meu pai tinha uma formação machista, como todos os homens de sua época. Eu tinha uns 8 anos e jurei que, quando crescesse, faria algo para que as mulheres não apanhassem como a minha mãe apanhava;, lembra. A separação dos pais, quando tinha 15 anos, foi outro momento decisivo para que Mara construísse sua personalidade feminista. A radialista se viu livre da opressão que vivia no próprio lar, começou a reconstruir a autoestima e pôde olhar com mais atenção as mulheres que a rodeavam. ;O que nos salva é a resiliência. Como tinha alguns talentos, inclusive para a alegria, usei minha vocação teatral, encarnando o protagonista em várias peças, fazendo minhas fantasias e me transportando para uma outra dimensão, na qual não tinha um pai que queria me matar;, recorda, sem dramas.

A descoberta do lado artístico foi decisiva para os caminhos que a levaram até o Viva Maria. A experiência britânica foi possível quando acompanhou o ex-marido à Europa. Trabalhando na embaixada brasileira na Inglaterra, ela teve contato com a arte em várias formas: no surrealismo de Salvador Dalí, no expressionismo cinematográfico alemão, na psicodelia musical do Pink Floyd e na presença de palco de Freddie Mercury. ;Na volta ao Brasil, paramos em Brasília porque ele havia recebido uma proposta de emprego. Eu vim a reboque e, depois de um tempo em São Paulo, comecei a estudar jornalismo aqui.;

Sua experiência no rádio começou ao assumir um cargo na Rádio Nacional da Amazônia: ali, ela teve contato com o Brasil profundo e foi quando, finalmente, pôde conciliar todo o seu conhecimento acadêmico sobre as questões femininas com aquelas mulheres mais prejudicadas pelo machismo, por viveram em regiões onde quase nada chegava. ;Os milicos estavam apavorados com a possibilidade de não se falar o português naquela região, por conta de rádios cubanas que chegavam com tudo. Entrei como produtora-executiva e sofri com o poder vigente. Mas descobri a Amazônia pelo mundo das cartas: até pepitas de ouro eram enviadas para os locutores mais famosos;, conta.

Referência

De lá, o Viva Maria finalmente tomou forma. De volta a Brasília, recebeu a proposta de um programa vespertino e fez a jogada: ele teria de ser direcionado às mulheres. ;Na época, eu tinha a leitura de que a locução brasiliense era povoada pelas vozes masculinas. Então, o programa tinha que ser Maria Maria, tinha que ser uma força que nos alerta. E foi quando se tornou Viva Maria.; A partir daí, sua voz tornou-se guia. Marias de todas as idades e de todos os nomes começaram a ter, naquelas horas em que Mara Régia falava, um porto diante das inseguranças que as afligiam. ;A profecia que fiz quando era criança se cumpriu. O programa se tornou uma referência.;

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