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Ricardo Cardoso: 'Não estou fugindo. A verdade tem que vir à tona'

Ex-diretor do Fundo de Saúde não prestou depoimento hoje, mas garante que vai colaborar com investigações. Ele está em São Paulo, mas confirma participação na CPI



O ex-diretor do Fundo de Saúde do DF Ricardo Cardoso é considerado personagem central na investigação que apura suposta cobrança de propina sobre créditos orçamentários usados para o pagamento de dívidas do governo com empresas de UTI. A repercussão do caso provocou o afastamento inédito de toda Mesa Diretora da Câmara Legislativa. Hoje, Ricardo teria que prestar depoimento coercitivo na Delegacia de Combate aos Crimes contra a Administração Pública (Decap). Entretanto, não foi encontrado. O Correio conversou com o gestor, que está em Bauru (SP), acompanhando o filho num tratamento médico. Ele garantiu que vai colaborar com as investigações.

A operação comandada pela Procuradoria-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios cumpriu mandados de busca e apreensão, de condução coercitiva e de afastamento cautelar. A presidente afastada da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), e os deputados Cristiano Araújo (PSD), Raimundo Ribeiro (PPS), Bispo Renato (PR) e Júlio César (PRB) prestaram depoimento na manhã desta segunda-feira (23/8). O ex-secretário da Câmara Legislativa Valério Neves Campos não foi encontrado em casa, no Lago Sul, mas se apresentou à tarde. Ricardo Cardoso não prestou esclarecimentos à polícia.

;Estou em viagem. Meu filho tinha uma revisão de cirurgia. Infelizmente eu não estou em Brasília pra falar com o delegado. Já liguei várias vezes na Decap hoje e não atenderam. Quero justificar e me coloca a disposição. Mandei mensagem para o Promotor Jairo Bisol (Prosus) e pedi o contato do Promotor que está conduzindo a operação, mas não obtive resposta. Quero justificar minha ausência;, disse ao Correio.

;Foi um despacho meu;
Ricardo garante que não está fugindo da Justiça. ;Chegarei (na quinta-feira) e irei à CPI e na Decap. Comprei passagem há mais de mês. Vim domingo e volto quinta-feira. Só não voltarei amanhã por que não consegui voo;, detalha.

O ex-administrador do orçamento da Secretaria de Saúde confirma que vai prestar esclarecimentos à CPI. ;Eu acho que estou como envolvido por que eu era o ordenador de despesas. Foi um despacho meu que reconheceu a dívida das empresas. Mas essa era a função. Nós brigamos muito por mais orçamento para a Saúde em 2015. Ficamos felizes no Fundo com mais 30 milhões. Agora se houve alguma negociata em outra esfera eu não sabia. Isso é grave e tem que ser apurado com rigor e os envolvidos devem ser punidos. Qualquer gestor no meu lugar faria o reconhecimento da dívida ou perderia o orçamento;, reforça.

Entenda o caso
Seis hospitais aparecem como beneficiários dos créditos orçamentários da Câmara Legislativa. O Fundo de Saúde do DF reconheceu, em dezembro do ano passado, dívidas dos hospitais Santa Marta (R$ 11 milhões), Home (R$ 5 milhões), Intensicare (R$ 5 milhões), Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (R$ 4,5 milhões), São Mateus (R$ 2,5 milhões) e São Francisco (R$ 2 milhões). Na época, Ricardo era responsável pelo ordenamento das despesas.

Parlamentaressão suspeitos de cobrar de % a 10% do valor recebido pelas dívidas em propina pela liberação do recurso. ;Meu depoimento será esclarecedor na CPI. Tem muita gente falando besteira. Gente que não entende de orçamento e finanças;, critica. Ele reclama da pressão empresarial. ;A pressão é muito grande. Querem parar os serviços o tempo todo por causa das dívidas. O próprio MPDFT intermediou três reuniões entre o Governo e os fornecedores pra tratar de dívidas;, ressalta.

Segundo Ricardo, sua esposa está grávida de 37 semanas e por isso não acompanhou o filho na viagem ; a criança nasceu com uma fenda palatina. ;Minha esposa não pode mais viajar. Não estou fugindo. A verdade tem que vir à tona;, rebate. Ricardo ficou sabendo da operação da polícia pelos jornais e familiares. ;Minha esposa me ligou falando da busca. Disse a ela para colaborar e que não tenho nada a temer. Estou mal por terem ido na minha casa. Família é intocável;, pontua.

Ricardo chegou ao Executivo local pelas mãos do governador Rodrigo Rollemberg. O gestor foi exonerado em 21 de junho ; após um desentendimento com a equipe da Secretaria de Planejamento. Antes de chegar ao GDF, Ricardo era servidor do Ministério da Justiça, onde é concursado desde 2010. Atuou na área de auditoria, fiscalização e combate a corrupção. Agora, voltou para o órgão de origem.