A mãe da menina mantida em cárcere privado nos fundos de uma igreja evangélica em Ceilândia foi intimada pelo Conselho Tutelar na tarde de ontem. Fátima (nome fictício) e a pastora da igreja, conhecida na região como Jaci, foram presas em flagrante na última sexta-feira. Resgatada por policiais militares, a criança, de 7 anos, estava desnutrida, desidratada e ferida na boca. O quarto não tinha iluminação nem cama. As duas mulheres alegaram que era preciso conter a menina, que seria vítima de uma obsessão demoníaca.
O Correio acompanhou o trabalho do Conselho Tutelar, que foi ao endereço de Fátima escoltado pela Polícia Militar. Ela assinou a intimação, mas não quis falar com a imprensa. A mãe afirmou que dará sua versão dos fatos em um momento oportuno. Ela e a pastora foram indiciadas pelo crime de tortura e estão em liberdade provisória. A igreja estava fechada. Vizinhos disseram que a pastora mora em Águas Claras. Jaci e Fátima tiveram o alvará de soltura expedido no último sábado após audiência de custódia do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios. Na ocasião, o juiz estipulou que a ;guarda da criança com sua mãe pode ser prejudicial;, suspendendo cautelarmente o poder familiar dela.
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[SAIBAMAIS]O Conselho Tutelar soube do caso por denúncia de moradores da região. Segundo a conselheira Selma Aparecida da Costa, uma denúncia anônima motivou a averiguação. ;Essa pastora já era monitorada por nós desde uma chamada pelo Disque 100 que tratava de uma situação semelhante: uma mãe estaria maltratando um bebê de 2 meses. Ela havia sido influenciada pela pastora a acreditar que o recém-nascido era do capeta, do demônio. Ela acabou entregando o menino para a adoção. Já faz dois meses que está no cadastro. Ligamos uma coisa a outra depois que falaram dela novamente;, explica a conselheira, do Conselho Tutelar 1 de Ceilândia.
Na última sexta-feira, Selma foi até a igreja e pediu para visitar a casa de Fátima e ver a filha dela. A pastora recebeu a equipe do Conselho Tutelar e indicou onde a mãe estava. ;Elas nos receberam bem, calmas, como se nada tivesse acontecendo e nos levaram até o local. A menina estava deitada no chão, suja, desnutrida, em um quarto escuro. Na mesma hora, abrimos as janelas, chamamos o Samu e a polícia;, relata a conselheira. Em um vídeo do momento da ação, feito por Selma, a própria criança conta o que estava vivendo dentro do quarto. ;Ninguém me ajuda pra nada. Só fica falando que sou o demônio. Minha mãe e a Jaci.;
Em outro trecho, a menina afirma que nunca bateram nela, mas a deixavam sozinha. Quando questionada sobre o local onde dormia, se era em uma cama, ela disse que não. Falou aos conselheiros que tinha apenas uma colcha, mas que não a usava por medo de fazer xixi no pano, já que não a levavam ao banheiro. ;Não peço ajuda porque sei que não vão me ajudar;, diz no vídeo. Por conta dos maus-tratos e da posição em que foi mantida, a criança não estica as pernas e, por isso, não anda sozinha. Foi levada para a ambulância do Samu nos braços dos profissionais. A 15; Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro) investiga o caso.