O primeiro caso de violência desde a regulamentação dos food trucks no Distrito Federal aconteceu no Sudoeste, única região administrativa onde ainda há entraves para a atuação do setor. No fim da noite de domingo, Jerry Omar Correia, 45 anos, morreu assassinado a facadas por um morador de rua. O empresário encerrava o expediente na 1; Avenida do Sudoeste, no estacionamento da comercial da 103, quando foi atacado pelas costas ; ambos haviam discutido cinco horas antes. O suspeito, que chegou a ser detido no mesmo dia, encontra-se foragido.
O crime ocorreu um mês depois de a Administração Regional do Sudoeste/Octogonal lançar campanha em parceria com o Conselho Comunitário de Segurança para combater a mendicância, solicitando aos moradores que não ajudassem a população carente com dinheiro ; o acusado vivia em uma Kombi que servia de base para lavadores de carros e fica cerca de 50m do Mr. Wolf, veículo usado por Jerry para fazer cachorro-quente. A iniciativa incluía o cadastro dos lavadores. O suspeito do homicídio, Hugo Tacio de Oliveira Soares, 30 anos, exercia a função na região, mas não tinha registro no órgão.
Antes de assassinar Jerry, o suspeito perturbou proprietários e funcionários do comércio localizado entre as quadras 103 e 302. Embriagado, por volta das 17h, ele incomodou alguns clientes do food truck da vítima. Também reclamou do barulho do gerador de energia elétrica do Mr. Wolf. Diante da ameaça de chamar a polícia, Hugo deixou o local. Dali, ele atravessou a rua e seguiu para uma farmácia. Lá, intimidou a recepcionista, que entrou em contato com a PM. Acabou detido e levado para a 3; Delegacia de Polícia (Cruzeiro).
A moça, no entanto, não quis formalizar a denúncia, o que resultou na liberdade do suspeito ; ele tem passagens por roubo, furto e porte de drogas, mas nenhum mandado de prisão em aberto. ;Para mantê-lo preso, era necessário que a vítima efetuasse a ocorrência. Assim, seria caracterizada a ameaça. Nesses casos, é importante que as pessoas façam o registro para manter a prisão, conforme a Justiça exige. Preocupados com a situação, a nossa equipe ainda fez uma ronda próximo à farmácia. Inclusive passou no food truck para lanchar antes de o crime ocorrer;, ressaltou a delegada-chefe da unidade, Cláudia Alcântara.
Após ser liberado, o acusado se deslocou a pé do Cruzeiro para o Sudoeste. Por volta das 23h30, chegou ao local do crime, desferindo facadas em Jerry. A vítima ainda tentou se defender. ;Ele dizia que era pai de família e que não tinha feito nada. Um funcionário pegou uma barra de ferro e atacou o criminoso. Depois disso, o Hugo também começou a perseguir essa segunda vítima, que, inclusive, levou uma facada na mão;, detalhou a delegada. O homem fugiu em direção ao Parque da Cidade, mas policiais militares não o encontraram. O empresário morreu no local.
Entraves
Na manhã de ontem, ainda havia marcas de sangue no estacionamento da 103, além da embalagem da faca usada no crime. Moradores e comerciantes relataram que a Kombi onde Hugo mora está abandonada há mais de três anos. Taxistas também relataram que o acusado vivia em conflito na região. Morador da 105, o empresário Rafael Ribeiro, 32 anos, alertou que a permanência de veículos abandonados na região atrai a criminalidade. ;Isso é dar margem para a bandidagem. Fiquei impressionado quando soube da morte. Eu mesmo fui vítima de assalto por aqui. Esses carros, na verdade, servem para abrigar o tráfico de drogas;, acredita.
O presidente da Associação Brasiliense de Food Trucks, Ronaldo Vieira, lamentou o assassinato. ;A questão vai muito além da falta de segurança. Isso reflete a injustiça do país. Se o autor não tivesse sido liberado, isso não teria acontecido;, reclama. Ele também se queixou das restrições impostas a esse tipo de negócio na região. ;Há um problema no qual os proprietários não têm permissão para atuar no Sudoeste. Alguns trabalham aos domingos, pois não há fiscalização;, conta.
O secretário adjunto do Trabalho, Thiago Jarjour, esclareceu que a norma dos food trucks está sancionada, mas se encontra em fase de finalização (leia O que diz a lei). O decreto deve ser publicado no Diário Oficial do DF até o fim do mês. Mesmo assim, ele defendeu que o crime não tem relação com esse processo. ;Só precisamos do decreto que trata das minúcias de funcionamento. Isso é uma fatalidade. Podem existir alguns entraves no Sudoeste, mas não foi isso que gerou esse fato;, avaliou Thiago.
A Administração Regional do Sudoeste/Octogonal informou que apenas cumpre a legislação vigente, que não permite o licenciamento de nenhum tipo de atividade comercial nos estacionamentos da 1; Avenida do Sudoeste. ;Não há, no entanto, impedimento ao licenciamento da atividade de food truck na região administrativa, desde que sejam cumpridos os requisitos legais pelo interessado;. Sobre veículos abandonados, o órgão faz levantamento completo de todos passíveis de remoção.
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