Jornal Correio Braziliense

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Para driblar a crise econômica, classe média repensa a forma de comprar

Outlets, promoções e cortes nos supérfluos são algumas das saídas frequentes



A nova classe média está cansada de ser considerada novidade e, agora que deixou de ser o grande motor do consumo no país, se esforça para se adaptar às limitações trazidas pela crise econômica. Na expectativa de manter parte das vantagens conquistadas por meio de crédito abundante e juros reduzidos da última década, essa parcela da população tenta comprar diferente para não perder o controle da própria renda. De acordo com a Pesquisa Hábitos de Consumo Dia Mundial do Consumidor 2016/ Boa Vista SCPC, divulgada no primeiro semestre, 53% dos consumidores dessa faixa acreditam que as suas contas estão equilibradas.

[SAIBAMAIS]A noção de economizar é cada vez maior, tanto que, na mesma análise, a Classe C afirma ter diminuído em 42% os gastos com lazer, seguidas pelas contas de consumo (água, luz e tevê por assinatura) ; tudo para garantir o saldo positivo. ;A gente tem de saber fazer mudanças na hora de comprar. Eu não deixo de fazer as minhas compras, mas sempre procuro promoções;, afirma a dentista Leila Ribeiro, 26 anos. Uma das formas que ela encontrou de seguir consumindo as grifes que prefere foi trocar os shoppings de Brasília por outlets, como o de Alexânia, a cerca de 90km do DF. ;Os preços nem se comparam. Assim, posso continuar com as roupas e sapatos que gosto sem que isso atrapalhe o meu orçamento;, conta. A irmã de Leila, a operadora de telemarketing Marta Ribeiro, 22, reforça a decisão de poupar. ;Comprando aqui (no outlet), me arrependo menos. Se fosse escolher o mesmo produto em Brasília, talvez nem comprasse;, revela.

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Mesmo que o horizonte para esses brasileiros não vislumbre um retorno ao consumo desenfreado dos últimos anos, essas mudanças de comportamento ajudam os endividados a não se tornarem inadimplentes. De acordo com a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio), o número de famílias nessa situação no Distrito Federal caiu de 609.034, em maio, para 608.297, em junho, o que é considerado um reflexo de um maior controle financeiro.

O diretor do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), José Geraldo Tardin, afirma que a retomada do poder de compra é esperada apenas para 2020. Dessa forma, frisa, é impossível que qualquer família de classe média continue a manter as contas no azul sem que façam mudanças nas compras. ;A perda de poder econômico faz com que muitas famílias de classe média até desejem voltar ao patamar anterior: antes, elas não tinham tanto acesso, mas também não tinham tantas dívidas. Agora, perderam esse acesso e sofrem para pagar contas básicas. como plano de saúde, IPVA e condomínio;, exemplifica.

Tardin afirma que o consumismo se tornou intrínseco à sociedade brasileira nos últimos anos e essa compulsão é um dos grandes obstáculos na hora de reorganizar as finanças para fazer escolhas mais inteligentes. ;Quando analiso as dívidas das pessoas que nos procuram, grande parte delas as fizeram com investimentos supérfluos. Não é correto se endividar por causa de uma viagem, por exemplo. A isso, ainda soma-se uma característica do DF: a maior proximidade física entre as classes A, B e C faz com que os que ganham menos se sintam na obrigação de mostrar que ganham bem, contraindo mais dívidas;, alerta. O especialista afirma que somente nos momentos de crise é que o brasileiro entende a necessidade de se educar financeiramente. ;O normal é que o SPC e o Serasa sejam a educação financeira dele;, completa.