Jornal Correio Braziliense

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Protocolo da Secretaria de Saúde matou menino picado por escorpião

Helicóptero do Corpo de Bombeiros estava à disposição para fazer a transferência da criança atacada por escorpião, mas não decolou porque se evitam voos noturnos por critérios de segurança, diz Secretaria de Saúde

Um protocolo da Secretaria de Saúde matou Luan Pereira Guedes, 4 anos, picado por escorpião no Núcleo Rural Tabatinga, em Planaltina, e atendido no hospital da cidade. O menino, atacado na quarta-feira, necessitou, por volta da 0h de quinta-feira, de uma vaga em unidade de terapia intensiva (UTI). O leito chegou a ser preparado às 3h15 no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), mas o helicóptero do Corpo de Bombeiros que faria o traslado não levantou voo por questões de segurança, segundo a Secretaria de Saúde ; a aeronave só chegou ao local às 7h30. Diante disso, a equipe médica não tentou alternativas como transporte terrestre, o que pode ter sido decisivo para a morte da criança.

Dois dias após a morte, a família cobra esclarecimentos. O garoto sucumbiu por oito horas à espera do transporte que não chegou a tempo. No momento em que o helicóptero pousou no Hospital Regional de Planaltina, Luan sofria a quinta parada cardíaca. O corpo da criança foi liberado na tarde de ontem. O sepultamento será em São João de Minas (MG), cidade natal da família. ;Vamos levar para Minas (Gerais) por ser mais barato que aqui. Mesmo eu pagando o frete do corpo, o serviço funerário sai pela metade do preço;, explica o pai do menino, o caseiro Claudecir da Conceição Guedes, 36 anos.
O homem de origem humilde foi testemunha dos últimos instantes de vida do filho. ;Vi os médicos pedindo um leito de UTI a madrugada inteira. Eles ligavam toda hora pedindo a vaga;, conta. Os parentes sabem poucos detalhes do que houve durante a tentativa de transferência frustrada. ;Ninguém falou nada. Eu via os médicos agitados e cobrando a UTI, mas não sei ao certo o que aconteceu, se foi falta de leito ou de ter como transportá-lo;, reclama. Luan deixou um irmão de 6 anos. ;A prioridade é enterrar o meu filho. Depois, será procurar os meus direitos. Fica um sentimento de indignação;, finaliza. A 16; Delegacia de Polícia (Planaltina) investiga o caso, mas não passou detalhes.

O acidente aconteceu dentro de casa, por volta das 19h de quarta-feira. Às 20h, segundo os familiares da vítima, o menino deu entrada no hospital. O escorpião feriu a mão da criança quando ela tocou a porta de um dos cômodos à procura do pai. Ainda naquela noite, o menino chegou à emergência da unidade de saúde de Planaltina. Segundo a equipe médica que o recebeu, ele foi levado três horas após o ataque, versão contestada pela família. O quadro era gravíssimo e com comprometimento cardíaco e respiratório. Informações do prontuário do paciente mostram que ele recebeu doses de soro antiescorpiônico e medicamentos no pronto-socorro.

Recursos

A Secretaria de Saúde, apesar da morte da criança, garante que ;toda a assistência necessária foi prestada;. A pasta, no entanto, reconheceu que o transporte aéreo é evitado à noite. ;Se o paciente precisasse de uma hemodiálise, por exemplo, a aeronave faria a viagem noturna. Mas a criança teve acesso a todos os recursos indispensáveis no hospital;, alega a superintendente de Saúde da Região Norte, Andréa Kavamoto.

Segundo ela, o traslado em ambulância ou UTI Móvel, por exemplo, não ocorreu após a avaliação do ;risco/benefício;. ;O pediatra que fez a assistência é muito capacitado e tem a experiência de terapia intensiva. O paciente teve (acesso) na emergência a tudo o que estava ao alcance. Todo o recurso estava ali presente. Teria sido diferente se houvesse a necessidade de um suporte que o hospital não dispunha. O transporte terrestre seria desgastante e arriscado;, completa Andréa.

Para a Secretaria de Saúde, a morte ocorreu devido à ;gravidade do fato por se tratar de uma criança;. O governo, ancorado na ;grande quantidade de veneno; injetado pelo animal, ressalta que o risco de morte, em casa de ataque de escorpião, é maior na infância e na terceira idade. ;Havia a necessidade de UTI. A ação do soro não estava trazendo o efeito desejado. Mas, nesse período (da solicitação de UTI e transporte), a criança não deixou de receber cuidados. O protocolo diz que o trauma seria menor com o transporte aéreo, mas é preciso avaliar onde o paciente está, qual o quadro clínico, entre outros fatores. Evita-se o transporte aéreo à noite por segurança. Se a criança precisasse de um recurso indispensável, a viagem seria feita;, conclui a superintendente.

Mesmo assim, a Secretaria de Saúde reconhece falhas de comunicação com os parentes de Luan. ;Considerando a gravidade da situação e a ansiedade da família, a gente entende que deve ter acontecido uma insuficiência na passagem de informação. É difícil falar que (a informação) foi a contento. O familiar, independentemente de qualquer coisa, quer o parente vivo e, nesses casos, é difícil;, argumenta Andréa. A Secretaria de Saúde não soube informar quantas mortes aconteceram por picada de animais peçonhentos neste ano.

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Total de ataques de escorpiões no Distrito Federal até março de 2016