Aos 11 anos de idade, embarquei numa viagem de dois anos à França. Além de aprender a língua, eu fiz memoráveis passeios por monumentos, parques, castelos, museus, jardins, becos e avenidas largas. Ninguém conheceu mais profundamente aquele país do que eu. Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Marseille, Versalhes e outros lugares passaram a fazer parte do meu cotidiano.
Foram os 24 meses mais incríveis da minha adolescência. O bom de ser jovem é que absolutamente ninguém, por mais persuasivo que seja, lhe rouba a capacidade de sonhar. E eu vivi meu sonho com toda a intensidade possível. Arrisco dizer que ainda vivo.
Menina pobre, aluna de escola púbica, jamais perderia a chance de conhecer outro país. Ainda que fosse uma viagem conduzida por palavras e pensamentos, por imagens e sons. Topei o convite feito por uma professora de francês. Dona Terezinha tinha a estranha mania de ensinar estimulando as crianças a fecharem os olhos e embarcarem na aventura do conhecimento. Conduzida por ela, fiz incontáveis passeios, aprendi muito e vivi experiências intensas... Sem jamais ter saído da sala de aula do colégio do subúrbio de Pernambuco. Não precisei entrar num avião e descer em solo estrangeiro para ter uma experiência de grande intensidade e que deixou lembranças e saudades.
Ainda posso sentir o gosto do croissant, enxergar a fachada do Louvre, passear pelos boulevares de Paris, entrar numa livraria, tomar um cappuccino, sentir a fragrância de um perfume francês. Tudo ainda sem sair do lugar físico onde me encontro. Dona Terezinha, com seu método e seu carisma, me ensinou muito mais do que um idioma. Inoculou na minha cabecinha adolescente a certeza de que sonhar não apenas é possível; é, na verdade, um aprendizado duradouro. Uma vez fisgados por essa capacidade, nós a mantemos para sempre. Guardo a professora Terezinha no meu coração. E na cabeça estão todas as viagens que fiz conduzidas por ela. Se tentar refazê-la hoje, sentirei a tristeza de um ambiente devastado por um atentado terrorista.
Como você pode ver, professores podem ser excelentes agentes de viagens, não só ao conhecimento, mas ao prazer também. De certa forma, jornalistas também têm esse papel. Aguçar a curiosidade e trazer a realidade de outrem ao público leitor é uma missão. Precisamos levar o leitor a ter empatia por outra pessoa, uma causa, uma situação. A melhor forma de fazer isso é com um belo texto, um vídeo, uma fotografia. Nossos recursos são uma espécie de passagens para viagens surpreendentes pela realidade. Embarquem conosco todo dia por essa jornada.