Jornal Correio Braziliense

Cidades

Sudoeste: administração e conselho comunitário fazem campanha contra esmola

Administração da cidade e Conselho Comunitário de Segurança argumentam que a presença de mendigos leva o perigo da violência. Iniciativa também quer regularizar o trabalho de guardadores de carros no comércio local

Uma criança maltrapilha segurando um pedaço de pão velho estampa um cartaz que tem sido visto em várias quadras do Sudoeste. Em letras garrafais, a frase reivindica: ;Cidadania SIM... Esmola NÃO!”. Lançada pela administração da região, em parceria com o Conselho Comunitário de Segurança (Conseg RAXXII), a campanha quer combater a mendicância, solicitando aos moradores das quadras residenciais que não ajudem a população carente com dinheiro. ;A crise tem feito crescer o número de moradores de rua. Só que muitas dessas pessoas têm problemas com álcool e drogas. Os residentes ajudam por mero constrangimento ou pena, e isso precisa mudar;, afirma Paulo Feitosa, administrador do Sudoeste.

De acordo com ele, o problema atual se torna mais grave por conta da quantidade de guardadores de carros não autorizados nas quadras comerciais. Feitosa diz que muitos chegam a ganhar entre R$ 2 mil e R$ 3 mil por mês e isso faz com que não queiram abandonar as ruas. ;A profissão existe, mas queremos diminuir o número deles. Os guardadores farão cursos, serão cadastrados e restritos a um em cada quadra comercial. Eles serão fiscais para que outros não se aproveitem daquele espaço.; Há 2,5 mil pessoas que moram nas ruas da cidade, de acordo com estatística de 2015 da Secretaria do Trabalho, Mulheres, Desenvolvimento Social, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh).



[SAIBAMAIS]Apesar da diminuição do número de roubos em comércio e furtos no interior de veículos entre 2015 e 2016, as abordagens a transeuntes aumentaram no Sudoeste (veja quadro), o que tem feito os moradores temerem que a situação possa piorar, caso não seja feito um trabalho mais direcionado com que vive nas ruas. Para Kalidasa Mello dos Santos, 59 anos, membro do Conselho de Administração Comunitária (CAC) da região, o assédio daqueles que estão na rua tem sido bem maior. ;Se eles se comportassem dentro dos padrões, tudo bem, mas muitos usam drogas e não querem sair daqui porque conseguem ganhar mais que um salário mínimo. Há quem sinta pena, ajude as crianças. A mãe tem mais filhos, e aí não vai querer sair da rua mesmo;, argumenta. Morador da SQSW 301, ele explica que o conselho entrou na campanha recentemente, mas que tem apoiado mudanças no enfoque.

Para Mello, somente exigir que não se dê esmolas é pouco. Em uma reunião entre CAC, administração e Conseg, foi decidido também pelo direcionamento dos moradores de rua aos órgãos governamentais responsáveis. ;Queremos mostrar os caminhos para ajudar essas pessoas, para que elas possam ser direcionadas a outro caminho, ou a um abrigo;, frisa. Brasília tem dois Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (POP): um em Taguatinga e outro na Asa Sul.

Com registro
Os guardadores que trabalham na legalidade temem que a campanha faça com que eles sofram preconceito e percam seu espaço. Leone Ferreira Silva, 24 anos, atua há três anos como cuidador e lavador de carros na comercial da 301 do Sudoeste. Por lá, os cartazes solicitando que frequentadores da região não passem nenhuma contribuição financeira também foram afixados nas paredes das lojas. ;Meu serviço não é esmola. Estou fazendo ele de uma forma digna e correta. Para ter autorização de atuar por aqui, eu tive que comparecer à Administração Regional e comprovar residência fixa e registro profissional;, conta o guardador, que desde os 14 anos trabalha na função.

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