Otávio Augusto
postado em 08/07/2016 06:10
O linfoma cutâneo de células T afeta a pele e pode avançar para a corrente sanguínea e outros órgãos. A doença não tem cura e, quando não mata, deixa sequelas indeléveis. Há seis anos, a professora aposentada Elaine Moura, 51 anos, convive com o mal. O endereço de tratamento é o Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a quase 920km da casa dela, no Guará. Passou também pelos hospitais Universitário de Brasília (HUB) e de Base (HBDF). Sem condições financeiras, ela recorre a uma campanha na internet para arrecadar R$ 20 mil, custear o tratamento e vencer a batalha contra o câncer.
;Com a progressão da doença constatada, fui para Campinas em 16 de junho para reiniciar a radioterapia que eu fazia lá, mas a minha pele está muito frágil e os riscos foram maiores do que os benefícios;, conta. Até o momento, ela angariou R$ 10,4 mil. O valor corresponde a 52% do necessário para o tratamento. No total, 142 pessoas contribuíram com alguma quantia em dinheiro. ;Quero viver e ter qualidade de vida, tenho ainda tantos planos. Perdi amigos para o câncer nessa caminhada. Passo mais tempo fazendo contas do que me tratando;, lamenta.
Ao ano, o tratamento pode custar R$ 360 mil. Elaine toma seis ampolas por semana do medicamento Interferon, que bloqueia a multiplicação das células doentes. Cada dose sai por R$ 2 mil. A droga está em falta desde fevereiro na Secretaria de Saúde. ;Não quero que o meu fim seja o mesmo de amigos que vi morrendo. Sei qual é o meu destino, mas quero retardar um pouco;, conta a mãe de três filhos. Toda segunda-feira ela realiza exames de sangue para acompanhar a evolução da doença. ;Em média, são R$ 400. Na rede pública, tem como fazer o exame, mas nunca tem o reagente;, queixa-se.
O entusiasmo da professora ajuda a enfrentar o diagnóstico marcado pela dificuldade de tratamento e pela agressividade da doença. As placas avermelhadas e a coceira incessante surgiram em setembro de 2010. ;Começaram a aparecer muitas manchas no meu corpo, que coçavam desesperadoramente. A primeira consulta foi uma tragédia. Chorei, briguei; Ouvir que eu tinha um câncer, que judia e mata aos pouquinhos, e não tem um tratamento específico, não foi simples;, conta.
Orgulho
Elaine faz quimioterapia e imunoterapia no HUB. A trajetória é marcada pela dificuldade de assistência. ;Numa radioterapia, em 2011, no Hospital de Base, tive queimaduras de segundo e terceiro graus. Precisei fazer três cirurgias e enxerto;, revela. O linfoma se tornou refratário, nenhum tratamento em Brasília surtia efeito (leia Para saber mais). Após 11 meses de espera, em janeiro de 2014, ela conseguiu ir a São Paulo se tratar com um acelerador linear. Por quatro meses, o Executivo local forneceu as passagens e uma ajuda de custo no valor de R$ 24,75 a diária. ;Quando retornei, precisei fazer o tratamento de consolidação, mas os medicamentos estavam em falta na rede pública. Até seringas tive de comprar;, lembra.
O HBDF conta com um acelerador linear. Entretanto, a máquina ainda não opera com a tecnologia 3D, que irradia todo o corpo. ;A gente é muito atrasado no sentido dos tratamentos. As filas são longas e sempre tem insumo faltando. Chega um momento em que a doença não espera a morosidade do poder público;, reclama. Atualmente, Elaine tem extensas feridas nas virilhas e nas axilas. ;A nossa doença passa despercebida por debaixo da roupa.;
O HBDF conta com um acelerador linear. Entretanto, a máquina ainda não opera com a tecnologia 3D, que irradia todo o corpo. ;A gente é muito atrasado no sentido dos tratamentos. As filas são longas e sempre tem insumo faltando. Chega um momento em que a doença não espera a morosidade do poder público;, reclama. Atualmente, Elaine tem extensas feridas nas virilhas e nas axilas. ;A nossa doença passa despercebida por debaixo da roupa.;
O salário de professora aposentada e o extra dos artesanatos não bastam para o auxílio médico. ;Mesmo tendo o benefício como servidora pública, a situação acaba saindo do controle;, frisa. Durante 31 anos, Elaine frequentou as salas de aula. Alfabetizava crianças do primeiro ao quarto ano. ;Tenho orgulho de ter me aposentado por tempo de serviço, não por invalidez. Lembro que ia muitas vezes da quimioterapia para a escola. Quando eram sessões de fototerapia, eu não podia pegar sol, então, ia de chapéu e óculos escuros;, recorda. Hoje, a Escola Classe 8 do Guará é apenas uma vizinha, a poucos metros da casa dela, na QE 30.
Compra
A Secretaria de Saúde informou que ;o processo de compra do medicamento Interferon está em fase de contratação;. A nota enviada pela pasta não detalha há quanto tempo o insumo está em falta e não deixa clara a previsão de chegada. ;O pregão já foi realizado e, neste momento, as formalidades processuais tramitam;, resume o texto.
Sobre o acelerador linear do Hospital de Base, o Executivo local garante que, nos próximos dias, a máquina estará funcionado com a tecnologia 3D. Segundo a direção da unidade médica, falta apenas uma peça, que funciona como proteção ao paciente. ;A tecnologia 3D está disponível, mas aguarda o término da confecção de um equipamento chamado aloy, que deve ocorrer nos próximos dias;, assegura, em nota. Por causa disso, Elaine continua tendo de buscar tratamento em São Paulo.
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