Um homem que se apresenta como padre José é acusado de aplicar golpe em jovens do Distrito Federal interessados em ir à 31; Jornada Mundial da Juventude (JMJ), na cidade polonesa de Cracóvia, de 26 a 31 de julho. A Polícia Civil confirma três ocorrências registradas nas últimas semanas ; elas estão sendo investigadas nas 1; DP (Asa Sul), 5; DP (Asa Norte) e 4; DP (Guará). As vítimas relatam que ele entra em contato com líderes de grupos católicos organizadores da viagem, com o discurso que dois padres estão vindo de fora com uma grande quantidade euros e pretendem vender abaixo da cotação, sem a taxa de imposto. Mas somente para católicos, pois, segundo o suspeito, são mais confiáveis. Ao ver o religioso mostrar boas intenções, os interessados depositam o dinheiro em duas contas, ambas em nome de Paulo Roberto Miguel, foragido da Justiça. Somente no DF, Paulo Roberto possui 23 inquéritos ; 19 deles por estelionato.
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A estudante da Universidade de Brasília Ângela*, 21 anos, é uma das vítimas. Ela se preparava para JMJ há mais de 1 ano. A possibilidade de participar de um dos maiores eventos de jovens católicos do mundo era motivo suficiente para obter o dinheiro. Vendeu doces na faculdade, roupas que não usava mais e fez economia. Com a crise econômica no Brasil, Ângela se via preocupada com a compra dos euros que seriam utilizados na Polônia. Até que a oportunidade de adquirir a moeda de modo mais acessível apareceu. ;Eu já tinha passagem, hospedagem, documentação, tudo. Só faltava o dinheiro para eu usar lá;, alega.
A ;boa-nova; veio por meio de um comunicado de Fernanda*, responsável por fechar os pacotes do grupo religioso de que Ângela faz parte. Ela recebeu uma ligação do suposto padre. No começo, o tal José dizia ter ligado na comunidade católica e sido maltratado por uma pessoa que o atendeu. Como aparentava estar exaltado, a integrante tentou acalmá-lo, até que ele explicou o motivo real do contato: a venda de euros. ;Queria que eu passasse o número da casa dele para nós, da igreja, porque só queria vender para pessoas corretas. Citou o nome de vários líderes da comunidade, e eu acreditei;, descreve Fernanda.
O acordo era simples: a garota teria que depositar R$ 3.500 divididos em duas contas diferentes. Com os comprovantes enviados para um e-mail, pegaria os euros em uma escola católica particular na Asa Sul, com o encarregado da Tesouraria. No local combinado, acompanhada do pai, veio a surpresa: era um golpe. ;Eu liguei para o número novamente e falei com uma mulher que dizia trabalhar lá há uma semana como faxineira. Perguntei o endereço e ela não sabia responder;, afirma Ângela. ;Eu fiquei triste de não ter percebido. Agora, meu pai vai bancar o que falta, mas vou trabalhar para devolver o dinheiro para ele.;
O Correio telefonou para o número fornecido por Ângela. A pessoa do outro lado da linha apresentou-se como padre José, disse trabalhar em uma paróquia no estado de Goiás, mas se negou a dizer o nome da cidade. Ele relatou desconhecer qualquer ilegalidade nas transações e que apenas fez a intermediação de duas pessoas interessadas no serviço. Sobre o titular das contas em que o dinheiro é depositado, José disse que o beneficiário reside em São Paulo e não possui contato com ele. Paulo Roberto Miguel comete crimes de estelionato na capital federal desde 1987, em diversas regiões administrativas. Além do DF, ele é procurado em Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Com informações de Júlia Campos e Carolina Gama.
* Nome fictício a pedido da vítima