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Entre as lembranças que o enfermeiro Roberto Miller, 58 anos, guarda das duas décadas como morador do Bloco F da 312 Norte, uma sempre retorna quando ele vai à janela do seu apartamento. ;Eu ficava olhando meus filhos irem para a escola, porque ela fica ao lado. Minha mulher ainda dizia para eles terem cuidado, mas era só atravessar o estacionamento.; Ele não está sozinho na nostalgia. Afinal, fazendo 50 anos em 2016, a quadra ; marcada por ser um dos celeiros culturais de Brasília ; tem uma infinidade de causos particulares que reforçam a importância na história da capital.
Ocupada a partir de 1966, a 312 Norte serviu como um dos primeiros pontos de concentração populacional da nascente sociedade brasiliense. Em uma época na qual a Asa Norte era muito mais uma extensão de terra vermelha do que um bairro residencial, prédios com até 96 apartamentos foram erguidos a fim de servir de lar para famílias de todos os tamanhos. ;Em 1970, meu tio morava no Bloco J e ficou feliz quando um vizinho com seis filhos se mudou. No outro dia, chegou um novo com 10;, conta Miller, lembrando que a 312 já foi a quadra mais populosa de Brasília.
Amanhã, ele e outros moradores ; novos e antigos ; vão se reunir para misturar lembranças dos 11 blocos na comemoração dessas cinco décadas. Todos esperam retomar o espírito efervescente da quadra, com apresentações de música, poesia, brincadeiras para as crianças e, claro, a intenção de celebrar experiências artísticas que marcaram tanto o local. ;Estou aqui há mais de 30 anos e vi quantas pessoas contribuíram para a imagem positiva da quadra. E também pude dar meu apoio para a continuidade dessa história;, garante Luiz Amorim.
Ele é proprietário do Açougue Cultural T-Bone, um dos pontos mais reconhecidos da 312 em todo o Brasil. Afinal, é lá que o açougueiro, apaixonado por literatura, realiza o trabalho social de espalhar livros, sem qualquer custo. Amorim garante que estar na 312 Norte é entrar em um cenário diferente do que faz a cultura brasiliense e isso tem grande influência na pessoa que ele se tornou. Amorim produziu um livro sobre a história da quadra. Editado pelo jornalista Lourenço Cazarré, Castelo do Cerrado foi lançado em 2002.
Um dos organizadores da festa, o jornalista Roberto Seabra chegou à quadra em 1966 e viveu nela até 1990. Mesmo tendo participado de toda a movimentação cultural que marcou o lugar ; ele fez parte do grupo que criou o Panelão da Arte, nas décadas de 1980 e 1990 ;, a lembrança mais forte é inusitada. ;Na década de 1970, vivemos uma praga de ratos. Como o governo não fazia nada, a criançada pegou estilingue, arma de chumbinho e vara de pescar com queijo e deu início a uma caça. Chamamos a imprensa e se tornou um escândalo para os militares. Mas a quadra ficou livre deles (ratos);, conta, rindo.
Segurança
O advogado Edilberto Mourão, 59 anos, mora na 312 Norte desde 1983 e criou os quatro filhos lá. ;Hoje, minha netinha vai ao mesmo jardim de infância que minha filha estudou. Olha como são as histórias.; Ele celebra o aniversário da quadra por um lado que, a seu ver, ainda é melhor atualmente: a segurança. ;No início, tínhamos problemas em relação a drogas, por exemplo. Já tivemos até homicídios dentro da quadra. Hoje, isso não acontece mais;, garante.
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