Jornal Correio Braziliense

Cidades

Dos 66 centros de saúde do DF, três estão desativados e passam por reformas

O restante apresenta falhas estruturais. Apesar do modelo ultrapassado, a previsão da Secretaria de Saúde é investir em obras no segundo semestre


A partir dos anos 1970, os centros de saúde passaram a nortear o desenvolvimento da saúde pública. Na década seguinte, mais de 40 unidades foram construídas na capital federal a partir de um modelo importado da Inglaterra. Quase quatro décadas depois, a estrutura carece de investimentos. A intenção do governo é fortalecer o setor com a implantação das organizações sociais na gestão. No total, são 66 desses locais no DF. Desses, três estão desativados para obras ; os reparos deveriam ter ficado prontos em 2014.

Com a adaptação, serviços básicos, como clínica médica, ginecologia, pediatria, entre outros, passaram a aproximar a assistência médica da população, antes centralizada nas especialidades hospitalares. Em entrevista ao Correio, publicada no domingo, o secretário de Saúde, Humberto Fonseca, informou que a atenção primária cobre apenas 30,7% dos habitantes do DF, e a administração direta não é suficiente para expandir os atendimentos (leia reportagem ao lado).

O Executivo local encontra dificuldade para manter as atividades funcionando com iniciativas que caducaram no tempo. A Secretaria de Saúde não sabe precisar quantos espaços passam por reformas de manutenção predial, apesar de reconhecer que todos necessitam de restauração e não comportam grandes investimentos tecnológicos. A ausência de edifícios próprios impõe ao governo alugar 30,3% dos pontos onde funcionam centros de saúde. No total, 20 unidades são locadas.

;Burocracia;


Apenas na restauração dos centros de saúde N; 5 do Lago Sul, N; 8 do Gama e N; 11 de Ceilândia, o governo gastou R$ 2.065.612 (35%), e as construções estão previstas para ficarem prontas entre setembro e outubro, após dois anos de atraso. No total, o governo desembolsará R$ 5.814.000. No caso do Gama, distante 35km do Plano Piloto, a empreitada tem somente 18,7% do projeto concluído. Em Ceilândia, o volume atinge 28%. ;As obras estão paradas por falta de pagamento. Nós somos a terceira empresa a tocar esses empreendimentos;, disse o responsável pelos canteiros, que não quis ser identificado.

A justificativa do subsecretário de Logística e Infraestrutura (Sulis) da Secretaria de Saúde, Marcello Nóbrega, é ancorada no arrocho financeiro de 2014. Ele critica a ;burocracia; para se aprovar os projetos, que pode chegar até três anos. ;As obras param o fluxo quando não recebem dinheiro. A crise se reflete até hoje. Trabalhamos com um regime de parceira com outras secretarias e dependemos de muitas aprovações. Existe uma influência negativa de um procedimento que não é célere;, reclama.

Peregrinação

Da janela da sala, a professora aposentada Maria de Lourdes Leite, 70 anos, acompanha o enredo do Centro de Saúde N; 8 do Gama. Ela passou de paciente assistida a espectadora de uma reforma sem fim. Na última remarcação de data, a entrega da unidade estava prevista para 26 de maio. ;O atendimento era muito bom, apesar de ser uma estrutura antiga. Os profissionais eram ótimos. Eu pegava remédios para hipertensão e colesterol alto;, relembra a idosa. A distância entre o prédio onde Maria mora e a entrada do local desativado tem menos de 100m. ;Hoje, eu levo quase 40 minutos para chegar ao Centro de Saúde N; 5 do Gama;, reclama.

Quem passa desatento pela QI 23 do Lago Sul não percebe o Centro de Saúde N; 5. Não há nenhum tipo de identificação na unidade médica. Na entrada, as folhas secas tomam conta do espaço. Latas de tinta, restos de material de construção e até uma cadeira de consultório estão abandonados no pátio. Gente, além do vigilante da obra, é raro de se ver. ;Está com três anos que esse espaço está fechado. Muita gente vinha do Paranoá e de São Sebastião, frequentavam bastante;, afirmou uma mulher que caminhava pelo local.

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