Músicos da orquestra Wiener Strauss Capelle a postos, o baile tem início. Ao som das valsas do compositor Karl Michael Ziehrer, os debutantes entram no salão e posicionam-se no tablado. Cada um com seu par, os jovens caminham até o ponto mais próximo aos instrumentos musicais. Em seguida, as garotas, de vestido branco, se afastam e cumprimentam os rapazes, de fardas de gala. A dança começa com os braços dados e os altos e baixos circulares no ritmo das cordas, sopros e percussões. Tudo como manda o figurino das tradicionais festas de Viena, capital da Áustria, que ocorrem todo os anos durante o inverno no pequeno país da Europa central. Exceto que a noite é amena e agradável e o cenário do lado de fora é o das árvores retorcidas do planalto central. A celebração aconteceu em homenagem aos 30 anos da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), na embaixada austríaca, na Asa Sul. O evento cultural não se repetia desde 1997.
Os jovens, em sua maioria, eram cadetes do Colégio Militar e as meninas, estudantes do Galois. Entre o fim da adolescência e a chance de viver uma cena digna de contos de fadas, trabalharam duro nos ensaios para abrirem a noite no evento beneficente que recolheu doações para a instituição que oferece assistência social a crianças e adolescentes com câncer e hemopatias e com dificuldades socioeconômicas. O momento pueril que encantou os presentes aconteceu por volta de 21h55 de sábado. Os adolescentes, maravilhados, bailaram em sincronia, largaram as mãos afastaram-se em diagonal, para voltarem a se encontrar no silêncio e, novamente valsaram, mas sem música ao fundo para, repentinamente, pelos músicos da orquestra, as melodias de Ziehrer voltarem em um ápice capturando a atenção dos presentes. ;Foi como viver um conto de fadas que, por existir, nos possibilita realizar o sonho das crianças que lutam contra o câncer com ajuda da Abrace;, descreveu a debutante Maria Fernanda Miziara, 14 anos, após a dança.
;É uma experiência inesquecível. Vivemos uma tradição de Viena, que abre uma nova fase na vida de meninas. Eu me senti lisonjeada de participar;, completou a jovem. Amiga de sala de Maria Fernanda, Roberta Rosso conta que entrou na empreitada pois seria uma forma de ajudar a instituição. ;É uma experiência muito boa. Ajudamos os outros de uma maneira diferente;, destacou. Irmã de Roberta, Karen Rosso se disse orgulhosa por participar da principal valsa do evento. ;Foi uma experiência muito nova. Gostaria de participar novamente;, afirmou. A debutante Carolina Bueno concordou com as amigas. ;Sempre quis participar de um evento beneficente. Também serviu como um treino para a minha valsa de 15 anos;, brincou a jovem.
Estudantes do Colégio militar, Isaac Dalbone, 16, se sentiu impactado com a experiência. ;É diferente e muito boa. Não estamos acostumados a dançar valsa. Fiquei feliz de ter participado. Na hora que a música começou, fiquei nervoso, mas me concentrei na minha parceira;, revelou. Colega de Isaac, Arthur Diniz, 16, também usou da mesma estratégia. ;Os grupos se conheceram há dois dias, para o ensaio. Com o evento, passamos a ter noção de como funciona a vida e a sociedade em outros lugares do mundo;, lembrou.
Cultura e sociedade
A embaixadora da Áustria no Brasil, Marianne Feldmann, destacou que a Wiener Strauss Capelle está em turnê beneficente por todo o Brasil. ;É a primeira vez que unimos, na embaixada, uma causa social com os nossos bailes. Eles (os bailes) são tradição vienense muito antiga e também forma de a Prefeitura de Viena se apresentar no exterior. Recriamos a atmosfera que começou com o convite de jovens debutantes e de cadetes da Escola Militar. Muitas músicas já são conhecidas de brasilienses, entre elas o Danúbio Azul, de Johann Starus II, que, em 1867, seria o que é a música pop para as pessoas hoje. Toda a verba será destinada a Abrace e parte dos músicos foi ao Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB) para conhecer a causa que estamos ajudando;, explicou. A tournê da orquestra vienense no Brasil começou por Belém. O grupo passou por Manaus, Goiânia, Brasília e encerrará a temporada em Curitiba.
A embaixadora, a presidente da Abrace, Ilda Peliz, voluntária da instituição, Márcia Lima e a jornalista e colunista social do Correio Braziliense, Jane Godoy, levaram dois anos para organizar o evento. Ilda destacou que, além de celebrar os 30 anos de trabalho e ajudar a instituição, o evento aproxima a cultura austríaca do brasiliense. ;É a oportunidade de uma festa única para Brasília. Trouxemos um baile de Viena para brasília e o objetivo é ajudar crianças com câncer. A Abrace sobrevive de doações. Foi assim que construímos o HCB. A partir de 2017, a unidade fará transplante de medula e estamos em obras para essa expansão. A demanda do hospital já é nacional e aumentará ainda mais com o transplante;, lembrou. O superintendente do hospital, Renilson Rehen destacou a importância da instituição. ;Costumamos dizer que a Abrace é mãe do HCB;, sorriu.
Entre as personalidades que participaram do evento e valsaram após as debutantes, estava o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. ;O evento beneficente reúne as pessoas pela solidariedade, por causa de grande valor que é a doação para a Abrace. Ela (a festa) traz a cultura vienense aliada a esse gesto de ajuda;, destacou. O senador Raimundo Lira (PMDF/PB) também participou da festa. ;Esse evento tem importância muito grande. Vivemos a cultura vienense em Brasília e vemos o nível de importância da nossa diplomacia. Precisamos retornar ao tempo em que o Itamaraty era a porta do Brasil para o mundo. A Abrace é uma instituição maravilhosa que merece essa festa;, completou.
Quase 2 milhões de atendimento
Desde que foi inaugurado, em 23 de novembro de 2011, até o fim de outubro do ano passado, o Hospital da Criança, fez cerca de 1,65 milhão de atendimentos, além de 1 milhão de exames e 263 mil consultas. A unidade faz parte da rede da Secretaria de Saúde e é administrado pelo Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada.