Não ter mais controle sobre a mulher. Ouvir e perceber que ela não voltará atrás e, sim, se separará, por motivos diversos, transforma a agressão na última instância desse processo trágico. Matá-la é expressar-se. Se não é como eu quero, não será de forma alguma. Se não ficar comigo, não ficará com mais ninguém. Foi assim com Neide Rodrigues Ribeiro e Yara de Souza Rodrigues, assassinadas pelos companheiros por não compartilharem as vontades deles. Também foi assim com outras 2.296 mulheres, que sofreram ameaças, xingamentos e agressões nos primeiros 60 dias do ano, como mostra levantamento da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social.
A maior parte dessas vítimas mora em Ceilândia, a exemplo de Neide e Yara. Quase 18% das ocorrências registradas nas delegacias do Distrito Federal com base na Lei Maria da Penha estão nas unidades da cidade mais populosa do quadrilátero, com 489.351 mil habitantes, a maioria do sexo feminino (51,82%). A secretaria, no entanto, considera que a violência doméstica é um dos crimes mais subnotificados.
Mas, no Judiciário, a demanda oriunda da cidade reforça as estatísticas. A estrutura para a denúncia também ajuda, pois são quatro delegacias na cidade e dois juizados especiais para o assunto, no Fórum Desembargador José Coelho, no centro de Ceilândia. Lá, são distribuídos uma média de 500 processos por mês relacionados apenas a violência doméstica. São casos de brigas de casais, fim de namoro e de casamento, dos mais simples aos mais graves, todos com contexto de injúria, ameaça ou lesão corporal. ;Ceilândia estar na frente em registros é uma realidade. Só no meu juizado foram 242 processos, entre inquéritos e medidas protetivas de urgência, geradas pelas ocorrências policiais;, afirma a juíza do 2; Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Ceilândia, Joanna Dark Medeiros Augusto.
Abusos sexuais
Sai dos condomínios Sol Nascente e Pôr do Sol a maioria dos casos. Isso exige preocupação por parte das autoridades. Joanna Dark explica que, por serem localidades formadas por famílias carentes e de baixa renda, a oficialização da separação tarda. Às vezes, falha. A Justiça aplica as medidas, as ordens de afastamento do homem do lar e há, inclusive, algumas prisões, mas, em alguns casos, a situação é especialmente complicada. ;Muitas vezes, o casal só tem aquele lote para viver. Não consegue partilhar, porque não tem muita coisa. Ou nada. E vemos também na classe média de Ceilândia. Homens e mulheres que moram muito tempo juntos, estão separados de fato, brigam, discutem, possibilitam uma situação crítica, mas não se divorciam por causa do patrimônio que conseguiram conquistar;, explica a magistrada.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique