A área de preservação ambiental que hoje compreende o Setor Habitacional Sol Nascente, em Ceilândia, conta com cerca de 100 mil habitantes. Esse crescimento inesperado e sem planejamento começa a cobrar a conta nas nascentes de rios e córregos que existem na região e há ainda risco de erosão do solo. Além da ação do poder público, é importante que a população comece a cuidar do ecossistema local. Foi com o objetivo de despertar essa consciência ecológica que uma organização não governamental da cidade decidiu implantar um projeto educacional com foco em crianças, adolescentes e jovens de 9 a 15 anos.
A inauguração da Casa da Natureza está marcada para 1; de maio e, a partir do dia 2, já há atividades agendadas. Serão ministradas oficinas sobre como montar hortas comunitárias e jardins verticais, passeios ecológicos, entre outras. A ideia é envolver toda a comunidade, a começar pelo núcleo do lar das crianças. ;As famílias têm de entender que o que consumimos é responsabilidade nossa;, diz Ivanete Silva dos Santos, especialista em educação ambiental.
As inscrições podem ser feitas hoje, a partir das 9h, no local. Serão formadas duas turmas de 20 alunos, uma pela manhã e outra pela tarde. As vagas serão preenchidas por ordem de chegada e apenas as crianças que moram na região poderão se inscrever, pois a ONG ainda não tem veículos à disposição para transportá-las de casa até a sede do projeto.
O trabalho incluirá ainda reforço solidário, para alunos que apresentarem baixo rendimento escolar em disciplinas como matemática e português. A ideia é que o trabalho na Casa da Natureza complemente o do ensino regular. ;Quando falamos de educação, temos que pensar em algo mais amplo. Temos que sair da sala de aula e ver que a educação ambiental vai ajudar a preservar o local em que vivemos;, ressalta o coordenador pedagógico do projeto, Ricardo Carvalho do Nascimento. O projeto também terá parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que oferecerá apoio às famílias de estudantes que estiverem em situação de vulnerabilidade social.
Também morador do Sol Nascente, Ricardo, que é pedagogo, se encantou pelo trabalho desenvolvido no Centro de Preservação e Conservação Ambiental (CPCAM), organização não governamental responsável pela implementação do projeto. Por isso, resolveu se tornar voluntário. Como a coleta de lixo não é de porta em porta em todos os trechos do Sol Nascente, a quantidade de dejetos jogados na rua é muito grande.
Reforma
Os voluntários estão há mais de um mês trabalhando na reforma e na decoração do espaço, que será toda de materiais recicláveis. São cerca de 20, entre estudantes do ensino médio, universitários e membros da diretoria da ONG. As ações de preservação ambiental em Ceilândia começaram em 2009, com a criação do CPCAM, e se concentraram no Sol Nascente em razão da degradação causada pelo crescimento do número de moradores. ;Nós sentimos a necessidade de preparar a cidade para a recuperação do que foi destruído;, explica, Ivanete, que também é presidente da instituição.
Desde então, a organização promove palestras em escolas públicas e particulares sobre questões socioambientais e também diversas ações sociais relacionadas à preservação do meio ambiente. No ano passado, por exemplo, promoveu a 4; edição do Natal Solidário, em que transformou material reciclado em enfeites para decoração da festa de fim de ano, em parceria com o projeto Economia Solidária.
A ideia de criar uma sede para a ONG foi a de dar continuidade a essas ações ao longo do ano, demanda de uma estudante de apenas 10 anos que participou do Natal Solidário. Meses depois, chegou o presente de todos: a Casa da Natureza. ;A ideia principal é levar a educação ambiental como ferramenta de transformação e de conscientização;, diz Ivanete. ;Como todo mundo sabe, é importantíssimo a coleta seletiva dentro das cidades-satélites, mas, para ela dar certo, precisamos conscientizar os três setores da importância da educação ambiental;, completa.
União
;O governo, sozinho, não conseguirá equacionar todos os problemas. Ele precisa da ajuda da sociedade;, afirma Luiz Rios, da Superintendência de Estudos, Programas, Monitoramento e Educação Ambiental do Instituto Brasília Ambiental (Supem/Ibram). No ano passado, o órgão promoveu o primeiro contato com as lideranças da região e iniciou um trabalho de educação ambiental na área. A constatação foi de que os principais problemas se referem à drenagem das águas da chuva e à destinação correta do lixo.
Orientações básicas, como o recipiente correto para descartar os resíduos e o local ideal, precisam ser passadas à comunidade. Ele afirma que muitas pessoas, por desconhecimento, jogam o lixo propositalmente em locais em que sabem que a água vai passar e levar para longe. No entanto, os detritos acabam desembocando nos rios e córregos da região e os contaminando. Só no Trecho 1 foram mapeadas oito áreas de preservação permanente (APPs) associadas a córregos ou nascentes. Três dessas nascentes já estão descaracterizadas, ou seja, degradadas ou destruídas pela ação humana.
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