postado em 16/02/2016 06:00
O Jardim Zoológico de Brasília, menina dos olhos do atual governo para a Parceria Público-Privada prevista para este ano, sofre com falta de estrutura e como cabide de empregos para agradar a aliados. O comando da fundação que toma conta do local está na cota do PDT, e a ingerência política chega a ponto de militantes trabalhistas não vinculados ao órgão participarem de reuniões internas e cobrarem resultados de servidores concursados.
Além disso, o centro recreativo enfrenta problemas com a não prestação de serviços por parte da Mistral, empresa contratada por R$ 9 milhões para fazer a manutenção dos equipamentos. Mesmo assim, o presidente da fundação, José Vieira, destituiu a comissão de fiscalização do contrato entre a companhia e o GDF, formada por cinco pessoas, e, em setembro, nomeou somente uma pessoa para responder pela função. O Zoológico é um dos espaços que o Palácio do Buriti pretende ceder para a administração privada.
Na contramão, após o anúncio de que os dois principais nomes do PDT estão de saída, a sigla trabalha para conter uma onda de deserções. Cristovam Buarque, senador e ex-governador do DF, está de malas prontas para se filiar ao PPS e sonha em concorrer à Presidência da República em 2018. José Antônio Reguffe tem sete anos de mandato no Senado Federal e deve se desligar do PDT e ficar sem partido por um tempo. A presidente da Câmara Legislativa do DF, Celina Leão, é outra que pode trocar de legenda de olho nas próximas eleições. O partido ainda tem outros dois políticos com mandato na capital, os distritais Joe Valle e Reginaldo Veras.
Documento em papel timbrado do PDT a que o Correio teve acesso mostra o recolhimento de dinheiro de integrantes do partido que ocupam cargo de confiança na entidade. O nome de 11 comissionados aparece ao lado de quantias com que cada um contribuiu para a sigla. Embora a lista esteja em um papel com a logomarca da legenda, o presidente do PDT-DF, Georges Michel, afirma que o partido não cobra pagamento de filiados em função comissionada. Ele garante que nunca teve acesso aos recursos mencionados no documento. ;Isso não existe. Ninguém colaborou com o partido. Fui secretário de Trabalho no ano passado, havia assessores pedetistas e ninguém tinha de colaborar financeiramente;, alega.
Discussão
Um dos nomes do PDT que aparece com frequência no Zoológico é Alceir Dionísio. Ele não é servidor do órgão, mas um áudio de reunião interna realizada em janeiro demonstra o poder dado por José Vieira ao companheiro de partido. ;Aqui tem muito técnico, muito professor gabaritado que não é operacional, só teórico. Aqui, cada um só está preocupado com ele mesmo, ninguém preocupado em trabalhar. Quem quiser sair vai na diretoria e pede pra sair (sic);, adverte Alceir, em tom de ameaça. Servidores comentam que não foi a primeira vez que ele interveio em encontros internos.
Nesse caso, no entanto, um funcionário de carreira não aceitou as ordens e interpelou o presidente da fundação. ;Presidente Vieira, eu queria que ele (Alceir) se apresentasse. Ninguém sabe quem ele é aqui dentro;, alerta, indignado. Ao rebater, Alceir expôs o poder político que tem. ;Esta pasta cabe ao partido. E sou uma pessoa que estou representando o partido. Sou cidadão e estou aqui pra fiscalizar (sic);, diz.
A resposta, no entanto, não satisfez o servidor. ;Pelo estatuto, você não tem autoridade nenhuma para falar aqui: não representa o Zoológico, não é funcionário do quadro. Cidadão participa de audiência pública. Lá, você pode ir e falar, mas aqui é reunião interna, gerencial, administrativa. Você não deveria estar aqui.; No fim do bate-boca, José Vieira tenta acalmar os ânimos e se justifica: ;Temos que buscar solução para melhorar, independentemente de qualquer coisa. É ingenuidade pensar que quem está sentado aqui não tem força política;.
Presenteado
Alceir tem três parentes que trabalham no órgão: um filho e um sobrinho comissionados, e outro filho vinculado à empresa terceirizada. No PDT, ele também tem prestígio. Na festa de fim de ano da legenda, a sigla presenteou o militante que mais realizou filiações naquele ano. Alceir ganhou uma smarTV pelo feito, com cerca de 300 novas pessoas vinculadas à legenda. De acordo com servidores do Zoológico, parte dos novos trabalhistas atuam no órgão e foram convidados por Alceir para entrar no partido.
O contrato com a empresa terceirizada é outro ponto que prejudica os trabalhos no Zoológico. A Mistral Serviços Ltda. recebe R$ 9 milhões por ano para cumprir diversas funções no local. A manutenção de todo o parque, o cuidado dos animais e o fornecimento de equipamentos são responsabilidades da empresa. Apesar de ser bem paga, a companhia não fornece todos os serviços que deveria. O gramado, por exemplo, não é cortado com tanta frequência. A construção de uma nova jaula para o leão Dengo, que tem Aids felina, deveria ser feita pela firma, mas até agora não está pronta. Os funcionários da Mistral também sofrem. Não são raros salários e benefícios, como tíquete-alimentação, atrasarem. No total, há 219 funcionários da empresa lotados no Zoológico.