Ele não quis dar entrevistas ontem, mas os advogados dele, Ivan Morais Ribeiro e Paulo Henrique Abreu, disseram ao Correio que, durante a investigação, o cliente sofreu ameaças, teve os contratos da empresa de segurança cancelados e se afastou da família. ;É a polícia que tem os mecanismos para uma investigação completa. Existem muitas falsas acusações de estupro no Brasil e, muitas vezes, a pessoa que está contra a espada penal do estado, de uma maneira equivocada, não tem a oportunidade de ser defendido corretamente. A luta pelos direitos da mulher é legítima e democrática. Agora, é preciso ter cautela;, defendeu Ivan.
Segundo o inquérito da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), não há elementos para indiciar Wellington pelo crime. Mas os autos serão encaminhados para o Ministério Público do DF e Territórios, que pode pedir novas diligências, denunciar o segurança ou arquivar o caso. Ainda assim, os defensores enxergam a conclusão da Polícia Civil como ;positiva;. ;Foi um laudo muito bem elaborado. Foram 45 dias para constatar que não há materialidade alguma para indiciar o nosso cliente. Esse relatório é um passo importante para a defesa. Nós continuamos a sustentar que a relação sexual que aconteceu foi consentida;, disse o advogado.
O relatório policial ressaltou, ainda, as contradições entre os depoimentos da vítima e do suspeito. Consta que, segundo testemunhas, ;ouve um envolvimento prévio das partes ainda dentro da festa;. A investigação também aponta que a jovem e o suposto agressor deixaram o evento de mãos dadas ;fato que contrapõe a versão apresentada pela vítima;. Por fim, a Polícia Civil diz que ;diante da ausência de indícios suficientes de materialidade, não houve indiciamento no inquérito;.
Durante a próxima semana, de acordo com Ivan Morais, a defesa e o cliente definirão os próximos passos judiciais, incluindo a possibilidade de abrirem processos.
Militância constante
A jovem de 24 anos que usou a internet para denunciar o suposto estupro na virada do ano continua a postar mensagens relacionadas a agressão sexual e outros tipos de violência contra a mulher. Nas publicações quase diárias, ela pede o fim da cultura do estupro e que as vítimas quebrem o silêncio diante das agressões.
Segundo o texto publicado por ela na internet, em 1; de janeiro, ela teve medo e se sentiu coagida a acompanhar o segurança por representar a ;autoridade; do evento.
À época, ela disse ao Correio só ter percebido a violência horas depois. A reportagem tentou contato ontem com jovem por telefone, mas ela não quis se posicionar sobre a conclusão do inquérito.
Entenda o caso
Figura de autoridade
Wellington Monteiro Cardoso era o chefe da segurança na festa The Box Reveião, no Setor de Clubes Norte. Segundo a estudante de 24 anos, em relato em uma rede social, o suposto abuso ocorreu enquanto dançava com um amigo. Ela teria sido abordada pelo vigilante, obedecendo a ordem de sair do local por ser uma figura de autoridade. Ele, então, a levou para uma área de terra batida, onde havia carros estacionados. Dias depois, a estudante declarou à polícia que estava sem condições de evitar a violência, mas a Deam destacou que ;a vítima foi submetida a exame de corpo de delito, em qual não foi possível constatar a incapacidade de reação;. Em entrevista ao Correio, a jovem afirmou só ter percebido a violência do ato horas depois. ;Foi quando a ficha começou a cair, me dei conta do que tinha acontecido de verdade, de que não tinha sido consensual.; Desde o início, Wellington admitiu à polícia que se relacionou sexualmente com a jovem, mas sempre afirmou que o ato havia sido consentido.
Depoimento
Mudança de rotina longe da família
;Foram quase dois meses de pesadelo. Porém, confiei na justiça, pois sabia que ela viria. A Delegacia da Mulher confirmou o que eu sempre disse: a verdade. A verdade apareceu e agora posso respirar aliviado, embora o pesadelo não tenha chegado ao fim. Espero que meu caso sirva de exemplo para que outras falsas acusações não destruam vidas como assim fizeram com a minha. Perdi todos os contratos de minha empresa, a minha família foi devastada, recebi ameaças de morte, fui condenado nas redes sociais, supostos especialistas sem a devida cautela me acusaram injustamente, pessoas me perseguiram, tive que me ausentar do convívio com meus filhos, deputados me acusaram de estupro, mancharam minha imagem para todo o país, me acusaram de estupro sem que ao menos o inquérito policial tivesse sido concluído, o sindicato da categoria absurdamente lançou nota de repúdio me rotulando como estuprador, muitos me julgaram sem saber o que de fato aconteceu. Nesse tempo, minha vida virou um grande inferno. Assim, pergunto: o que será de mim agora? Quem vai pagar a conta? E agora?;
Wellington Monteiro Cardoso, em relato publicado ontem em uma rede social