;Sou hiperativo. Não consigo ficar parado ou esperar as coisas acontecerem.; É assim que Alexandre Abade, morador de Sobradinho, se apresenta. À primeira vista, a definição parece não combinar com a pequena figura de 1,20m, sentada em uma cadeira de rodas motorizada e com mobilidade mínima nos braços e pernas. Mas ele faz questão de destacar as características da personalidade. A aparência frágil deve-se à osteogênese imperfeita, síndrome conhecida como doença dos ossos de vidro e caracterizada pela fragilidade anormal dos ossos. Alexandre nasceu com as duas pernas quebradas e, até os 17 anos, sofreu mais de 300 fraturas, causadas pelo menor contato ou movimento.
Após o nascimento, os médicos estimaram que ele viveria até dois anos, no máximo. Hoje, aos 36, conta com orgulho que contrariou não somente aos especialistas, mas todas as expectativas. Desde a infância, ninguém podia prever como seria o desenvolvimento da doença ou mesmo se ele sobreviveria, então Alexandre tomou as rédeas e resolveu escrever a própria história. ;Por ser deficiente, poderia me reservar, sem sair de casa e me contentar com isso. Em vez disso, não paro. Dou palestras, faço parte de grupos da igreja, estou sempre com um projeto novo, que é para todo mundo ver que não existe limitação quando há força de vontade;, declara.
Na vida de Alexandre, a delicadeza física é compensada com determinação. A prova disso é que, na trajetória dele, projetos são uma constante ; colocá-los em prática também. Começou a estudar somente aos 17 anos, quando teve uma melhora no quadro da doença. Entre 2009 e 2013, se formou em gestão de marketing e administração, respectivamente, e cursa agora pós-graduação em gestão de recursos humanos. Atualmente, ministra palestras e participa de três equipes da Igreja Bom Jesus da Lapa. Em um desses trabalhos, distribui alimentos para a comunidade carente de Sobradinho. Em 2013, lançou o livro Faça a diferença, em que transforma suas dificuldades e superação em palavras.
Alexandre explica que o fôlego incansável vem da ânsia por transmitir uma mensagem de vitória. Questionado se tantos compromissos não esgotam suas energias, ele ri e responde prontamente: ;Se não fizesse tanta coisa, não seria o que sou hoje. O que me motiva é fazer tudo o que faço, alcançar os objetivos que alcanço. Esse é meu jeito de mostrar para as pessoas que elas também podem ser bem-sucedidas em qualquer área.;
Presente
No meio de todas as atividades, Alexandre não abre mão de trabalhar com inclusão de pessoas com deficiência. Esse é um tema que ele sempre aborda nas palestras e, este mês, ele lançou um uma página na internet. ;Recebo tantas mensagens nas redes sociais de gente interessada em saber da minha história, me dando apoio, incentivando, que achei interessante reunir tudo isso em um site. É mais um jeito de contar minha história. Meu site e meu livro estarão aonde eu não puder chegar;.
O site ainda está em desenvolvimento com ajuda e parceria da colega Sarah Sena, 18. ;Nunca tinha pensado em trabalhar com esse tema. Fizemos tudo sem ajuda, só conversando, decidindo o que poderia entrar ou não. Aprendi muito com ele. Acho que nós estamos aprendendo muito juntos;, declara Sarah. Por meio do site, Alexandre divulga palestras, fotos, relatos de vida. No espaço, é possível também que outras pessoas se manifestem e contem suas histórias.
Futuro
Os sonhos de Alexandre também estão sempre em movimento. Estudar, formar-se, contar às pessoas a trajetória de vida e publicar um livro foram alguns dos desejos alcançados. O próximo passo é lançar uma publicação com conteúdo semelhante ao da primeira, mas para crianças e jovens. ;Quero trabalhar o tema da inclusão com crianças porque a deficiência é algo que ainda não está claro na cabeça de algumas. Elas perguntam: ;Como você nasceu assim?; ou ;Você é feliz?; e acho que é importante fazer esse trabalho com elas, na linguagem adequada;, afirma.
A inspiração para o novo projeto saiu de dentro de casa e foi uma sugestão da sobrinha Mariana Abade, 11. ;As pessoas acham que são diferentes, então seria legal um livro para mostrar que todos são iguais e tentar criar um mundo sem obstáculos;, sonha a menina. O pedido de Mariana ficou guardado e Alexandre não se esqueceu dele. A decisão por atendê-lo veio quando outro apelo surgiu. ;Setembro é o mês da Luta das Pessoas com Deficiência, então escolas públicas e particulares me chamam para fazer palestras, conversar com os estudantes. Um dia, uma delas disse: ;Tio, escreve um livro pra gente!’ e quero colocar isso em prática. Os professores tentam trabalhar muito a deficiência, mas falta material adequado, algo que a criança entenda;.
Passado
Alexandre recebeu a equipe de reportagem durante mais de uma hora na sala da casa onde vive, na Quadra 13 de Sobradinho. Nesse tempo, declarou várias vezes a admiração e gratidão ao Correio por contar, em 2009, a sua história (ver Memória). ;Foi por causa de vocês que fiquei conhecido como rapaz dos ossos de vidro;, brinca. ;Depois que publicaram a matéria, um grupo de cinco pessoas se organizou para doar minha cadeira. A partir daquele momento minha vida mudou.;
De todas as boas lembranças que guarda da fase de sua vida que começou após a doação da cadeira, destaca a participação, em 2010, em uma encenação pascal da igreja que frequenta e onde, um ano antes, conseguiu o primeiro emprego, graças à independência que conseguiu com a nova cadeira. ;Sempre assisti à encenação da via-sacra, achava lindo e de repente eu estava lá, no meio deles, participando da peça. Gosto que as pessoas me vejam e pensem que, se eu consigo estar ali, elas também podem fazer qualquer coisa. Quebro preconceitos mostrando que a minha limitação não é nada. Aliás, quem é que não tem limitações?;
Contatos
Alexandre recebe convites para palestras pelos seguintes contatos
Telefone: (61) 8435-4191
E-mail: aleximagem@hotmail.com
Site: aleximagem.wix.com/alexandrepalestras
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