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Bares e restaurantes tentam sobreviver diante da crise e da lei do silêncio

Proprietário de vários bares que são referência na boemia brasiliense, como o Feitiço Mineiro e o Armazém do Ferreira, Mauro Calichman entende que os decibéis têm sido usados para fazer uma limpeza étnica em Brasília

O fechamento do Balaio Café, em dezembro de 2015, acirrou ainda mais a guerra que bares e restaurantes vêm travando com o Governo do Distrito Federal (GDF) em relação à aplicação da Lei do Silêncio. Somada às restrições trazidas pelos limites sonoros estabelecidos pela regra distrital, muitos estabelecimentos ainda tiveram de enfrentar o cenário econômico desfavorável, o que resultou no fim das atividades de diversos pontos conhecidos não somente da cena boêmia de Brasília, como da gastronomia local.

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Também no mês passado, o Schl;b Bar, que funcionava há 26 anos na Asa Norte e era reconhecido pelas bandas que se apresentavam por lá, fechou as portas. Além dele, várias casas tradicionais e outras mais novas tiveram de encerrar seus trabalhos, como o Legrat Bistrô, na 108 Norte; o Babel Restaurante, na 215 Sul; e o Bazzo Ristorante, na 413 Norte. ;Já é difícil tocar uma casa, imagina quando se ela é vigiada e perseguida 24 horas por dia?;, reclama Juliana Andrade, do Balaio Café.

Ela afirma que foi montada uma força-tarefa em 2015 com o intuito de usar seu estabelecimento como exemplo para o restante da cidade. ;Quando a casa fechou em abril, eu já sentia que não teríamos mais como seguir. Mas ainda consegui segurar até o fim do ano, com empréstimos para pagar as multas, junto dos aumentos, como de luz.; Válida desde 2012, a Lei n; 4.092/2008 define que o volume provocado por atividades em área mista com vocação comercial seja de, no máximo, 65 decibéis em ambientes externos durante o dia e de 55dB durante a noite. O Projeto de Lei n; 445/2015 propõe que os limites sejam alterados para 75dB no período diurno e 70dB no noturno.

Mas não é apenas o barulho que tem trazido problemas para quem investe nesse setor. A alta dos preços em produtos e serviços também fez com que vários investimentos tivessem de mudar o foco para conseguir se manter. E, em muitos casos, o fechamento esteve no caminho para o recomeço. O chef Diego Koppe, do Babel Restaurante, fechou a casa na Asa Sul na expectativa de reabri-la em um novo ponto na Asa Norte. A principal razão é a diferença entre os valores dos aluguéis. ;Pagávamos cerca de R$ 8 mil mensais. Na Asa Norte, podemos encontrar pontos que custam até um terço desse valor com o mesmo espaço.;

De acordo com ele, custos com funcionários e ingredientes também foram os grandes vilões de quem viu o negócio acabar. Porém, o mais grave foi mesmo a mudança de mentalidade do consumidor: ele decidiu gastar menos com restaurantes. ;Trabalho no setor há 15 anos e, em momentos de crise, o cliente sempre escolhe passar a comer em casa. Ele começa a levar quentinha, a fazer o lanche que o filho leva para a escola. E, mesmo que não repassemos o aumento para ele, há essa mudança de atitude.;

Quem se mantém na lida diária não esconde o pessimismo com o que pode acontecer em 2016. Proprietário de vários bares que são referência na boemia brasiliense, como o Feitiço Mineiro e o Armazém do Ferreira, Mauro Calichman entende que os decibéis têm sido usados para fazer uma limpeza étnica em Brasília. ;Querem uma capital que não ocupe vagas, que não converse embaixo dos blocos. Entendo a cidade atualmente como um espaço de repressão, em que os bares são tidos como um câncer.;

No Feitiço, na 306 Norte, o espaço de shows teve de ser completamente fechado. No Armazém, na 202 Norte, Mário garante que o samba se tornou música de fundo e, o que antes era um local de entretenimento, se tornou uma peça decorativa. ;O sábado agora é triste. Uma pessoa que acaba com a alegria de mil. Também sou morador do Plano Piloto, mas parece que me tornei um vilão.; Allan Alves é proprietário do Aleatório Bar, que fica na 408 Norte, quadra que foi alvo da Operação Bares da Moda no mês passado.

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