Cidades

Brasilienses reclamam de preconceito em dia de deixar oferendas na Prainha

Quem prestou ontem homenagens às divindades de religiões de matrizes africanas se queixou de ataques recentes na Praça dos Orixás

Caroline Pompeu - Especial para o Correio
postado em 31/12/2015 06:00
A ialorixá Vilma sofreu com a intolerância na Estrutural, onde tentaram atear fogo à casa dela
Muita gente se adiantou, prestou ontem homenagens e deixou oferendas na Praça dos Orixás, na Prainha do Lago Paranoá. Várias rosas amarelas e brancas foram jogadas no espelho d;água, além de velas acesas para as estátuas dos Orixás como forma de agradecimento e com pedidos de boas energias para 2016. Quem esteve no local também lamentou outro episódio de intolerância contra religiões de matrizes africanas e criticou a depredação da estátua de Oxalá, na semana passada. Apesar do ataque, a festa não sofrerá alterações. Começa hoje, a partir das 17h, e terá muita música e animação (leia quadro).

A estudante de mestrado em história Mariana Mesquita, 22 anos, aproveitou a tarde de ontem para levar oferendas para os orixás. Apesar de não ser adepta do candomblé, tem o costume de deixar rosas no lago e nas imagens, todos os anos. ;Falo com Oxalá e Iemanjá, que são meus orixás. Gosto de ter esse contato, pedir boas energias e boas coisas para o próximo ano;, explicou. A jovem também reclamou do vandalismo no local ; cinco das 16 divindades estão danificadas. ;É um absurdo. As pessoas não respeitam. Vestem branco no ano-novo, mas tentam tirar, justamente, o braço de Oxalá, que é o senhor do branco do candomblé. Não faz nenhum sentido. É ignorância, intolerância;, queixou-se.

A ialorixá Vilma Paixão Ribeiro, 70, é uma das organizadoras da Festa de Iemanjá e reparou que muitas pessoas levaram oferendas no dia 30, apesar de as homenagens serem mais frequentes na virada. ;A gente prepara hoje as oferendas e, amanhã, leva para fazer. São comidas, flores, perfume e, às vezes, até joias;, contou. A mãe de santo também classificou como ;muito triste; o caso de intolerância religiosa. ;Já tentaram botaram fogo na casa da minha irmã de santo, do meu irmão de santo e até na minha casa. Eu moro na Estrutural, e o pessoal da rua acudiu com a mangueira;, contou.

Ataques
Apenas em 2015, 15 terreiros sofreram ações criminosas no Distrito Federal e no Entorno. A última delas, a da Praça dos Orixás, foi descoberta na última segunda-feira pelos organizadores do evento. Um morador de rua testemunhou o crime. Ele viu quando três pessoas chegaram ao local em um veículo branco e serraram a mão de Oxalá, que representa o maior símbolo religioso da umbanda e do candomblé. O sem-teto interveio no momento em que os suspeitos tentaram arrancar o cajado da divindade.

O alagbê Wellington Moura de Logun Ede, 31 anos, além de reclamar da intolerância religiosa, afirma que é um ataque à cultura. ;Uma estátua dessas é de Brasília, a Prainha é da cidade. Fazer uma atrocidade dessas é muito complicado;, avaliou.

A Polícia Civil informou, por meio de nota, que a 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) investiga o caso. ;Estão em diligência para localizar testemunhas, e a perícia foi solicitada para o local;, cita o texto. A corporação acrescentou que a delegacia especializada para investigar crimes de racismo e intolerância religiosa será criada o mais breve possível, logo após a conclusão dos trâmites legais.

Festa de Iemanjá

Confira a programação

17h ; Feira cultural e afrogastronômicas
20h ; Apresentação do Grupo Surdudun
21h ; Chegada do cortejo/Toque Nação Nagô
21h20 ; Toque Jêje
21h40 ; Toque Angola
22h ; Toque Umbanda/Homenagem ao Dia da Umbanda
22h40 ; Toque Ketu/Xire Completo
23h45 ; Entrega do presente de Iemanjá no Lago Paranoá
0h ; Queima de fogos
0h10 ; Toque para Exu e Pombagira
0h30 ; Rita Bennedito, Tecnomacumba
2h ; Nanam Matos
3h ; Emília Monteiro
4h ; Filhos de Dona Maria

Fonte: Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno

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