Muita gente se adiantou, prestou ontem homenagens e deixou oferendas na Praça dos Orixás, na Prainha do Lago Paranoá. Várias rosas amarelas e brancas foram jogadas no espelho d;água, além de velas acesas para as estátuas dos Orixás como forma de agradecimento e com pedidos de boas energias para 2016. Quem esteve no local também lamentou outro episódio de intolerância contra religiões de matrizes africanas e criticou a depredação da estátua de Oxalá, na semana passada. Apesar do ataque, a festa não sofrerá alterações. Começa hoje, a partir das 17h, e terá muita música e animação (leia quadro).
A estudante de mestrado em história Mariana Mesquita, 22 anos, aproveitou a tarde de ontem para levar oferendas para os orixás. Apesar de não ser adepta do candomblé, tem o costume de deixar rosas no lago e nas imagens, todos os anos. ;Falo com Oxalá e Iemanjá, que são meus orixás. Gosto de ter esse contato, pedir boas energias e boas coisas para o próximo ano;, explicou. A jovem também reclamou do vandalismo no local ; cinco das 16 divindades estão danificadas. ;É um absurdo. As pessoas não respeitam. Vestem branco no ano-novo, mas tentam tirar, justamente, o braço de Oxalá, que é o senhor do branco do candomblé. Não faz nenhum sentido. É ignorância, intolerância;, queixou-se.
A ialorixá Vilma Paixão Ribeiro, 70, é uma das organizadoras da Festa de Iemanjá e reparou que muitas pessoas levaram oferendas no dia 30, apesar de as homenagens serem mais frequentes na virada. ;A gente prepara hoje as oferendas e, amanhã, leva para fazer. São comidas, flores, perfume e, às vezes, até joias;, contou. A mãe de santo também classificou como ;muito triste; o caso de intolerância religiosa. ;Já tentaram botaram fogo na casa da minha irmã de santo, do meu irmão de santo e até na minha casa. Eu moro na Estrutural, e o pessoal da rua acudiu com a mangueira;, contou.
Ataques
Apenas em 2015, 15 terreiros sofreram ações criminosas no Distrito Federal e no Entorno. A última delas, a da Praça dos Orixás, foi descoberta na última segunda-feira pelos organizadores do evento. Um morador de rua testemunhou o crime. Ele viu quando três pessoas chegaram ao local em um veículo branco e serraram a mão de Oxalá, que representa o maior símbolo religioso da umbanda e do candomblé. O sem-teto interveio no momento em que os suspeitos tentaram arrancar o cajado da divindade.
O alagbê Wellington Moura de Logun Ede, 31 anos, além de reclamar da intolerância religiosa, afirma que é um ataque à cultura. ;Uma estátua dessas é de Brasília, a Prainha é da cidade. Fazer uma atrocidade dessas é muito complicado;, avaliou.
A Polícia Civil informou, por meio de nota, que a 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul) investiga o caso. ;Estão em diligência para localizar testemunhas, e a perícia foi solicitada para o local;, cita o texto. A corporação acrescentou que a delegacia especializada para investigar crimes de racismo e intolerância religiosa será criada o mais breve possível, logo após a conclusão dos trâmites legais.
Festa de Iemanjá
Confira a programação
17h ; Feira cultural e afrogastronômicas
20h ; Apresentação do Grupo Surdudun
21h ; Chegada do cortejo/Toque Nação Nagô
21h20 ; Toque Jêje
21h40 ; Toque Angola
22h ; Toque Umbanda/Homenagem ao Dia da Umbanda
22h40 ; Toque Ketu/Xire Completo
23h45 ; Entrega do presente de Iemanjá no Lago Paranoá
0h ; Queima de fogos
0h10 ; Toque para Exu e Pombagira
0h30 ; Rita Bennedito, Tecnomacumba
2h ; Nanam Matos
3h ; Emília Monteiro
4h ; Filhos de Dona Maria