;O que você precisa é emagrecer. Vá para casa e comece a se esforçar para isso. Eu não opero pessoas obesas;. Foi o que um médico da rede pública de saúde do Distrito Federal disse à jornalista Bruna Presmic, 33 anos, que buscava uma solução para o crescimento exagerado das mamas, a gigantomastia. A consulta ocorreu em maio, no Hospital Regional da Asa Norte, o HRAN, mas até mesmo nos centros clínicos particulares houve resistência por parte dos médicos, que temiam falta de conhecimento necessário para a realização do procedimento. Depois de muita procura, ela enfim conseguiu ser operada, na última sexta-feira (11), retirando seis quilos de excesso dos seios.
Os primeiros sintomas apareceram em 2013. O seio esquerdo apresentou inchaço, que aumentava ao longo do tempo. O direito também cresceu, em menor proporção. Em dois anos, Bruna passou do manequim 46 para o 60, no busto. A falta de ar veio logo em seguida, como consequência do peso sobre o pescoço, mas não foi a única. A vergonha de sair em público, a perda de roupas e uma sequência de humilhações por parte dos cirurgiões acirraram a necessidade da redução das mamas.
Os dois únicos sutiãs que serviam nela foram encomendados para uma costureira de São Paulo. Até mesmo o vestido de noiva veio de fora, criado por uma designer norte-americana especializada em modelagem plus size, ou seja, para pessoas acima do peso. No último ano, quando a situação se agravou, Bruna chegou a parar de trabalhar.
Na rede particular de saúde, a dificuldade consistia em encontrar médicos com o embasamento específico sobre o assunto. Como ainda não se sabe a causa da gigantomastia ;apenas a biópsia vai revelar ; os cirurgiões preferiam não arriscar. Além disso, Bruna sofre de miaftenia grave, doença neuromuscular que impede esforço físico e dietas rígidas, o que dificulta o emagrecimento, entendido como requisito para a cirurgia pelos profissionais.
;Eles queriam que eu ficasse com 65 quilos e estava com 95. Porém, a minha doença impede que siga uma rotina intensa de exercícios. Mesmo com o Pilates, que é permitido, o máximo que conseguiria perder é um quilo por mês;, explica. Para atingir a meta proposta pelos médicos, seriam necessários, portanto, dois anos e meio de espera para o procedimento cirúrgico. ;Não dava para aguentar até lá, era muita dificuldade para respirar;, conta.
Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Bruna esperou por três meses na fila, até ser atendida por um médico em uma unidade do DF. ;Ele tem direito de se negar a operar. O que me incomodou foram a agressividade e o desprezo com os quais ele me tratou;, resume. Na visão da jornalista, houve impaciência por parte do médico, que sequer pediu exames para saber o que ocorria com ela. ;Parecia que ele estava fazendo um favor tão grande. Não quis passar por isso de novo, por isso desisti da rede pública;.
Bruna visitou nove médicos em Brasília. Na décima tentativa, encontrou a cirurgiã Marcela Cammarota, no hospital Daher, com quem operou. A cirurgia custou R$ 6,8 mil. Houve ainda gasto de R$ 5,2 mil com a internação e materiais utilizados, mas, como a médica atende pelo convênio, há a possibilidade de ressarcimento, que ainda não foi deliberada.
Recuperação
O pós-operatório está sendo bem-sucedido, conforme análise de Bruna, que agora usa sutiã tamanho 44. Para amanhã, está previsto retorno para avaliação médica e na próxima segunda-feira será divulgado o resultado da biópsia. Tomar banho é o maior incômodo, mas nada que se compara à dificuldade de respirar pela qual passou. ;Não há mais aquela pressão no peito. Senti um alívio enorme. Estou animada, quero comprar roupas novas, principalmente sutiãs, sair pra jantar, trabalhar;.
A Secretaria de Saúde comentou, por meio de nota, as críticas feitas pela paciente ao hospital público. Segundo a pasta, ;os dois médicos que prestaram assistência à paciente a orientaram a perder peso, para que a cirurgia fosse agendada, conforme protocolo do Sistema Único de Saúde. Porém, ela não seguiu a recomendação.; O comunicado informa ainda que ;a cirurgia de redução de mama é coberta pelo SUS mediante diagnóstico conclusivo e indicação cirúrgica, para fins de saúde e não estéticos;.
Bruna, no entanto, contesta. ;Gostaria de saber se essa gigantomastia severa que eu tinha poderia ser considerada estética mesmo e se o emocional do paciente não conta em nada, porque, além do problema ;estético; que eu apresentava, sai do hospital me sentindo humilhada pelo médico e sem uma solução;.
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