Quem precisa de cirurgias cardiológicas na capital federal enfrenta gargalos que podem levar à morte dos pacientes. A falta de insumos, de equipamentos e de médicos da especialidade consolidam um cenário de dificuldades para quem precisa do serviço. De janeiro a setembro deste ano, 1.271 pessoas chegaram aos centros cirúrgicos para operar o coração ; um percentual 18,1% menor que em 2014, quando a rede pública realizou 1.553 procedimentos. Se por um lado a oferta diminuiu; por outro, a demanda cresceu. Cardiologistas e especialistas do setor estimam que a procura, em dois anos, aumentou, em média, 25% no DF. A Secretaria de Saúde não soube precisar quantos pacientes estão na fila de espera para se tratarem.
Famílias inteiras são reféns da falta de assistência. Nos hospitais da rede pública, a maioria dos médicos nem sequer consegue assegurar a transferência dos pacientes para unidades especializadas, como o Instituto de Cardiologia (ICDF) e o Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, o que aumenta a angústia dos pacientes e dos parentes. A Associação de Apoio à Criança Cardiopata Pequenos Corações, que monitora o tratamento em todo o Brasil, estima que 70 crianças aguardam atendimento no Distrito Federal ; entre janeiro e setembro, os pequenos representaram cerca de 20% do total de atendimento cardiológico. A Justiça, na maioria dos casos, é a única alternativa para garantir o tratamento. Somente em outubro, a Coordenadoria de Saúde da Defensoria Pública do DF protocolou cinco ações requisitando cirurgias cardíacas, três pedindo leito de unidade de terapia intensiva (UTI) e uma exigindo a transferência de um paciente para o ICDF.
Parentes e amigos da recém-nascida Isys Victoria Soares da Silva recorreram às redes sociais a fim de conseguir dinheiro para custear a cirurgia após não conseguirem vaga no ICDF. A menina morreu na semana passada, cinco dias após realizar o procedimento. Ela tinha atresia pulmonar ; uma malformação rara, que dificulta o bombeamento do sangue para os pulmões e reduz a oxigenação. A literatura médica recomenda que, em casos como o de Isys, a intervenção ocorra nas primeiras horas de vida. Contudo, a espera durou 16 dias. ;O relatório (médico) era de risco eminente. A cirurgia deveria ter sido feita rapidamente, o que não aconteceu. Tivemos que procurar a Justiça e, mesmo assim, ficou enrolado. A Secretaria de Saúde descumpriu várias ordens judiciais;, conta Bruna Carla Bezerra, 24 anos, tia da garota.
;Está sendo muito difícil. Estamos tentando nos recompor, mas ninguém está preparado para esse tipo de situação;, lamenta Bruna. A menina estava internada, desde que nasceu, no Hospital Regional de Sobradinho (HRS). Segundo parentes dela, a equipe médica teve que esperar a compra de insumos e a reposição de equipamentos para operá-la. ;O que contaram é que esses materiais são usados e não repostos;, diz a tia da menina. Isys nasceu em 21 de outubro, com 3,1kg e 49cm, na 42; semana de gestação. Sobreviveu com a ajuda de dois medicamentos por dia.
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